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Livros Etc

por Josélia Aguiar

Perfil Josélia Aguiar é jornalista especializada na cobertura de livros

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Paris Review chega ao 200

Por Joselia Aguiar
27/02/12 12:55

A Paris Review chegou ao número 200. Alvíssaras, alvíssaras.  É difícil aqui, mas lá fora também é. Quis fazer no antigo blog,  mas não deu e ficou para este: registrar com mais frequência as novas edições de revistas literárias brasileiras e do exterior.

Para lembrar: a Paris Review também pode ser lida em formato digital. Vá por aqui para chegar lá.

 

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Ah! Os leitores...

Por Joselia Aguiar
26/02/12 11:57

Sob ameaça do marido, “ou eles ou eu”, uma leitora de livros de vampiros preferiu a separação.

A história parece amalucada, mas, como nos ensinou @ta_camargo, “há que se respeitar leitoras de livros de vampiros; têm muita fibra”.

Outro leitor, de tão meticuloso, procurou @dianapassy para dizer que Stieg Larsson se enganou: num dos volumes de sua trilogia que vende milhões de exemplares no mundo inteiro, o dia que menciona não é um domingo, e sim uma sexta –como, em tantos países, um revisor não percebeu isso ainda?

@_hille, a maior colecionadora de histórias de leitores, escutou mais que falou, pois se quase todas as boas já estão registradas no seu  http://manualpraticodebonsmodosemlivrarias.blogspot.com  –blog que, aliás, devia virar livro, concluimos no último minuto da conversa.

@juju_gomes ia ao encontro mas não pode. Da próxima vez, só ela vai contar histórias.

***

Quando via muita gente diferente numa mesa, uma amiga costumava perguntar, numa frase que se tornou folclórica pilhéria: “afinal, o que os une?”

Não tenho certeza, mas apostaria que há poucas semelhanças no gosto literário, musical ou gastronômico das quatro moças  –eu, @_jag, entre elas– que se reuniram num café da rua Augusta na última sexta-feira. A foto parece confirmar.

O que nos unia ali era o gosto por livros e o fato de trabalhar com eles.

Somos quantos? Entre os que se conhecem nas redes sociais, talvez uns 2 mil, apenas, jornalistas, editores, livreiros,  em blogs, Facebook, Twitter. Agimos às vezes, ingenuamente, como se fossemos só nós que lemos, mas há 200 milhões de leitores, ou potenciais leitores, no país  –certo? se não, vamos enfiar a viola de gamba no saco e ir para a Serra da Estrela.

“Quantos padres cabem numa lista de mais vendidos”: esse, um dos debates que não conseguimos concluir.

O que nos une é, afinal, a obsessão por querer saber quem é o leitor  __e certo espírito resignado ante a constatação de que isso nunca será completamente possível.

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Entre o sarcasmo e a inocência

Por Joselia Aguiar
24/02/12 12:32

Do gênio Laerte.

 

Se você tem um jardim e uma biblioteca, você tem tudo de que precisa.

***

Via  Denise Bottmann, @dbottmann no Twitter, chega a informação: o autor da frase é Cícero, que diz “Si hortum in bibliotheca habes, deerit nihil”, em carta a Terêncio Varrão, 13 de junho de 46 a.C.

Sempre vi a frase em marcadores de página, plaquetas e outras quinquilharias de origem inglesa. Não por acaso a ilha se apropriou do que disse Cícero, que tratava, originalmente, do debate de ideias ao ar livre.  Os britânicos adoram jardinagem.

Não lembrava: no antigo blog, fiz certa vez série de posts com imagens de bibliotecas, e a frase estava lá atribuída a Cícero.

***

Amanhã no blog, um resumo da semana: o novo livro para adultos de J.K. Rowling, a morte do gigante Barney Rosset, da Grove Press; o legado de Stefan Zweig; mercado de livros da Índia não pára de crescer; etc.

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David Foster Wallace seria cinquentão

Por Joselia Aguiar
22/02/12 17:37

 

Não há como fugir de datas redondas –você pode achar um grande clichê usá-las como notícia, mas não vai conseguir ignorá-las quando todos começam a tratar ao mesmo tempo do mesmo assunto.

Os sites que visito diariamente me lembram desde ontem que David Foster Wallace seria cinquentão. De seu suicídio, em 2008, me recordo bastante bem pois era dia do  meu aniversário. Foi uma grande pena.  Ele fazia parte, ao lado de Jonathan Franzen (“As Correções”, “Liberdade”) e Jeffrey Eugenides (“As Virgens Suicidas” e “The Marriage Plot”, que sai este ano aqui), do primeiro time de bons e promissores ficcionistas contemporâneos da América.

De DFW, chega  em agosto um volume de não ficção, anuncia a Companhia das Letras, que também publica Franzen e Eugenides. Assim que confirmar o título em português, volto aqui para atualizar este post.

Ano que vem,  sai enfim o catatau “Infinite Jest”, na tradução de Caetano Galindo, que também vai trazer para o português seu livro póstumo e inacabado, “The Pale King”. Por ora, dá para encontrar nas livrarias o da capa acima, “Breves Entrevistas com Homens Hediondos”, volume de contos traduzido por José Rubens Siqueira.

No pé deste post, deixo alguns dos links em sua homenagem que encontro desde ontem, em inglês: por aqui você chega a uma lista de 46 caminhos preparados pelo “Awl”; por aqui, à entrevista que concedeu à “Paris Review”; por aqui, a uma coleção de textos seus publicados na “Harper`s”; por aqui, a uma seleção da “Slate” de palavras que o autor destacou em seu dicionário; por aqui, mais outro punhado de links, alguns repetidos, no “Vol. 1 Brooklyn”.

Via Twitter, busque pela tag #DFW50

ATUALIZAÇÃO Às 11h50 de 23/02 – A antologia de não-ficção prevista para agosto é organizada por Daniel Galera e traduzida por ele e Daniel Pellizzari, que me adiantou o seguinte: “inclui clássicos como “A supposedly fun thing I’ll never do again”, “This is water” e “Consider the lobster”; ainda não tem título — é justamente o que estamos discutindo agora”.

Dias atrás, Noemi Jaffe relembrou o link de “Consider the lobster” no seu mural no Facebook: vá por aqui.

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Acabou o nosso carnaval

Por Joselia Aguiar
21/02/12 11:28

 Vi  a foto no mural da roteirista Maria Camargo no Facebook.

O registro é do francês Marcel Gautherot no Rio de Janeiro da década de 1960. Seu acervo, assim como o de outros fotógrafos importantes, é guardado hoje pelo Instituto Moreira Salles.

Procurei nos livros que tenho de Gautherot em casa. Não vi esta, mas outras imagens de carnaval em “O Brasil de Marcel Gautherot”. Encontrei também algumas em álbuns de Pierre Verger, também francês radicado no país. Alguém se lembra de mais livros com fotos de antigos carnavais brasileiros?

A foto de Gautherot não só prenderia meu olhar porque gosto de fotografia em geral (gosto muito, e muito mesmo, como já deu para perceber desde o antigo blog), mas porque mostra como era mais leve e engraçado o Carnaval de décadas atrás.

Sinto falta desse Carnaval que não vivi porque nem era nascida.  Acho que esse sentimento é desproporcionalmente grande porque nasci numa cidade chamada de “capital do carnaval” (ou da alegria!) onde o contraste se tornou ainda maior com a passagem do tempo.  As ruas estão hoje ocupadas de camarotes, roupas padronizadas e músicas ruins. Não queria fazer um post saudosista, mas foi o que saiu.

Batatinha, o “Cartola baiano”, encerra esse post, com um dos seus clássicos, “Direito de Sonhar”.

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Evoé Momo! O Bacanal de Manuel Bandeira

Por Joselia Aguiar
19/02/12 14:07

“Carnaval” é o título do segundo livro de poemas de Manuel Bandeira (1886-1968). Considerado até então um simbolista –ah! essas etiquetas–, o poeta do Recife radicado no Rio de Janeiro é visto como precursor da vanguarda ao escrever já neste volume, de 1919, versos como os de “Os Sapos”, que vão se tornar famosos na história do movimento modernista.

O que nosso poeta mais tristonho faz do Carnaval? Pouco mais de duas dezenas de lindos e melancólicos poemas. Não adianta tentar causar graça, saudar Baco, Momo e Vênus, como em “Bacanal”: “Se me perguntarem: Que mais queres,/Além de versos e mulheres?…/ – Vinhos!…o vinho que é o meu fraco!”  O que predominam são arlequins e colombinas desencantados. Como no “Poema de uma Quarta-feira de Cinzas”, em que se tem: “Entre a turba grosseira e fútil/ Um Pierrot doloroso passa./ Veste-o uma túnica inconsútil/Feita de sonho e de desgraça…”

Copio os versos acima e os de baixo da minha edição da Nova Aguilar. Faz tempo que, por brigas entre herdeiros, a obra de Bandeira não é reeditada. A pendenga persiste, mas em fins do ano passado a Global anunciou que iria relançá-lo a partir deste 2012 –assim como Cecilia Meireles e Origenes Lessa –, em seus volumes originais. Escrevi esse texto na “Ilustrada” naqueles dias.

Epílogo

Eu quis um dia, como Schumann, compor

Um carnaval todo subjetivo:

Um carnaval em que o só motivo

Fosse o meu próprio ser interior…

Quando o acabei, –a diferença que havia!

O de Schumann é um poema cheio de amor,

E de frescura, e de mocidade…

E o meu tinha a morta mortacor

Da senilidade e da amargura…

–O meu carnaval sem nenhuma alegria!…

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O Senhor Tavares já publicou mais dois

Por Joselia Aguiar
17/02/12 17:38

 

Não é mais de admirar a máquina de fazer pensar de Gonçalo M. Tavares, 41, mais de 30 obras publicadas em uma década: depois de suas visitas ao país ano passado — Passo Fundo, Bienal do Rio, São Paulo e Olinda -,  acaba de lançar mais dois livros em Portugal, ainda sem previsão de chegar por aqui.

Um é “Short Movies” (editora Caminho), com 70 pequenos roteiros com histórias incompletas, como diz. O outro é “Canções Mexicanas” (Relógio D´Água), com textos escritos a partir de anotações feitas durante viagem àquele país.

A vinda do autor de “Jerusalém” (Companhia das Letras) e “Uma Viagem à Índia” (Leya Brasil) é prevista este ano; deve participar de ao menos uma festa literária –assim que se confirmar, conto aqui.

A imagem da capa é de um pioneiro da fotografia, o inglês Eadweard J. Muybridge (1830-1904).

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Que falta nos fez uma Carmen Balcells

Por Joselia Aguiar
16/02/12 12:21

Ando à procura de livros sobre Carmen Balcells. Até agora, catando em livrarias online de vários idiomas, só encontrei essa longa entrevista acima, que baixei pelo Kindle. Não é possível: deve ter muito mais coisas. Alguém aí que souber de outros títulos pode me dizer?

Carmen Balcells é a agente literária espanhola que ajudou a tornar sólidas e internacionais as carreiras de autores da América Latina. Como Neruda, Vargas Llosa, García Márquez.

Em sua maioria, receberam uma etiqueta tão imprecisa quanto comercialmente rentável: são o “boom latino-americano”, os do “realismo mágico”. Não é coincidência que vários tenham alcançado o Nobel. Ou você acha que um Nobel se ganha com a graça do espírito santo?

***

Dois meses atrás, a notícia da semana era a abertura de seus arquivos para quem quisesse pesquisar –morro de inveja de quem está agora em Madri fazendo isso. Publiquei essa nota na “Painel das Letras” naqueles dias:

 Quem lhe deu o apelido foi García Márquez. Carmen Balcells, 81, se tornou mais que a superagente literária de seus mais de 200 autores. Era a “Mamá Grande”, que brigava com as editoras para enriquecê-los com contratos mais favoráveis, do boom latino-americano até o Nobel, prêmio que vários já receberam. Cuidava também de suas vidas, do divórcio à depressão, das férias à aposentadoria. O arquivo de Carmen Balcells, com mais de 2.000 caixas de documentos que registram a história da literatura de língua espanhola no último meio século, foi comprado pelo governo da Espanha por 3 milhões de euros e agora começa a ser aberto. Para a inveja de pesquisadores brasileiros, que ainda se defrontam por aqui com muitos arquivos fechados.

***

Escritores não conseguem exercer seu ofício em paz se têm de cumprir expediente em outro lugar que não o próprio escritório. Muito menos se precisam viver de bicos, publicando resenha aqui e ali, o que é um desassosego ainda maior.

Até podem, se quiserem, dar aulas, traduzir, publicar artigos. Só não devem depender apenas disso, nem gastar parte valiosa das horas com tais afazeres.

Quanto mais internacionais as carreiras, mais sólidas, pois independentes de crises ou pressões politicas e financeiras nos países de origem. Mais livres vão estar para construir sua obra, a única coisa verdadeiramente importante.

Uma pena, mas pouquíssimos conseguem ter essa tranquilidade no Brasil. O que resta? Rancores, miudezas da competição baixa, tempo perdido.

Lucia Riff, sediada no Rio, é a agente literária com escritório de maior porte.  Existem outros profissionais brasileiros nessa função, como Valéria Martins, e internacionais, como Nicole Witt e Stéphane Chao. E agora Luciana Vilas-Boas, que dirigiu a área editorial do grupo Record por mais de 15 anos, começa a atuar no ramo, baseada em Nova York.

A figura do agente literário por aqui, por uma série de motivos,  demorou de emplacar __e sempre pareceu uma sofisticação, e não uma necessidade.

Não sei qual o percentual de autores brasileiros representados por um agente. Sei, porém, que em mercados editorias mais desenvolvidos e pujantes um autor que  dispensa esse serviço faz isso por iconoclastia, irreverência, arrojo.

***

Por coincidência, Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, publicou ao mesmo tempo no blog de sua Companhia das Letras um texto sobre a difícil missão de divulgar autores brasileiros no exterior: vá por aqui.

Para ler mais sobre a senhora Balcells: encontrei no espanhol “El País” um dossiê online bem amplo: vá por aqui para chegar até lá.

 ***

Atualização às 10h45 de 17/02 – Depois do post, o editor Julio Silveira, da Imã, uma das editoras 2.0 que começam a surgir por aqui, comentou via Facebook que o papel do agente literário também será reinventado com as transformações digitais.  E o editor Manoel Lauand, fundador do selo Seoman (hoje do grupo Pensamento), me escreveu para lembrar que Carmen Balcells teve escritório aqui no começo dos anos 1990. Foi ali que Lucia Riff iniciou sua trajetória. Ano passado, Lucia me contou com detalhes essa história, numa visita que fiz a sua agência.

O objetivo do post, na verdade, era refletir um pouco sobre como a literatura latino-americana aconteceu no mundo algumas décadas atrás, e não exatamente tratar do que existe hoje ou será daqui para frente. Bons assuntos para novos posts.

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Lezama Lima, mitos e Josely

Por Joselia Aguiar
14/02/12 12:24

 

Escutava várias coisas sobre Josely Vianna Baptista antes de conversar com ela.

Grande poeta que publica pouco, tal é seu perfeccionismo; tradutora caprichosa de autores importantes de língua espanhola; “uma mulher muito bela”, me confidenciou, antes de um suspiro, certo escritor uma vez — jamais contarei quem.

Não fosse por essas virtudes para reconhecê-la, existia em sua trajetória um assombro em particular: a famosa tradução, aos 20 e poucos anos, do monumental “Paradiso”, único romance em vida do poeta cubano Lezama Lima (1910-1976) publicado por aqui pela Brasiliense em 1987. Empreendimento difícil principalmente pelo seu estilo, experimental barroco.

A primeira vez que trocamos e-mails, um ano atrás, eu a procurei porque queria escrever uma das notas da “Painel das Letras”, coluna que assinava na Folha.  A trabalho, e talvez pelo que conhecia de seus feitos, fui bastante cerimoniosa. 

Josely estava –e ainda está— às voltas com uma retradução do “Paradiso”, 25 anos depois, para a Estação Liberdade. A previsão era publicar ano passado, mas não deu, ainda. Falta pouco, ela me disse outro dia.

A poeta não quis aproveitar nada da primeira tradução. Preferiu partir do zero. Isso, claro, me causou e causa espanto nos interlocutores.

Ninguém usava computador à época, então não há arquivo digital. O receio é também, como disse, o de “plagiar a si mesma”.

Ela me escreveu: “Deixei de lado a versão anterior e me aventurei, agora com a experiência de mais de 50 obras traduzidas, várias do próprio autor, e com a bagagem de duas viagens de prospecção à Cuba de Lezama Lima e a suas eras imaginárias.”

O ponto de partida agora é a edição crítica da Colección Archivos/Unesco, coordenada por Cintio Vitier, que também não existia naquele tempo.

 ***

Conheci uma Josely bem mais informal poucos meses depois pelo Facebook – na década de 1930, trocaríamos cartas?

Publiquei no meu mural duas imagens que chamariam obviamente a atenção de quem gosta da poética dos mitos. Foi quando a conversa recomeçou.

Uma imagem era a de uma árvore que dizem sagrada. Iroko, que representa o tempo para os iorubás, começa a ser ameaçada de extinção na Bahia, onde as construtoras avançam agora com maior ferocidade sobre a natureza.

A outra imagem, de Yemanjá, a divindade iorubá que guarda o mar, estava num azulejo do gravurista e pintor Calazans Neto (fiz um post no antigo blog) que fotografara naqueles dias.

Depois tratamos da semelhança dos nossos nomes (que vêm todos de José) e no quanto as pessoas costumam confudi-los;  mais tarde,  me anunciou seu “Roça Barroca”, livro que estava para sair pela Cosac Naify; da última vez, me lembrou de “La Giraldilla”, guardiã da baía de Havana (vá por aqui para ler a respeito, em espanhol), a linda imagem que posto abaixo.  Bahia, Cuba e seus cinco séculos.

 

 ***

Na mala de viagem do fim-de-ano, levei para a Bahia o “Roça Barroca” –parte do volume reúne uma seleção do “Ayvu Rapyta”, mito da criação dos Mbyá-Guarani, a outra parte, poemas feitos durante a tradução.

Não era exatamente feriado para mim, pois precisava fazer muitas pesquisas e entrevistas para um projeto que, espero, ficará pronto até julho.

Repassava certa tarde toda a coleção da “Exu” – o “mensageiro”, outra divindade iorubá –, revista literária baiana que circulou na década de 1990. Numa dupla de páginas, ali estavam: as primeiras traduções do “Ayvu Rapyta”, com que Josely já se ocupava duas décadas atrás.

Não sei você, leitor, mas eu adoro essas coincidências.

***

Fiz esse pequeno texto sobre o “Roça Barroca”, publicado na Folha no último fim-de-semana, para ler sua íntegra vá por aqui.

Deixo, por fim, o trecho de um dos poemas de Josely incluídos no “Roça Barroca”, “Guirá Ñandu”, com o qual me identifico por várias razões, principalmente agora, em que ando tão metida numa grande pesquisa.

 

quem sabe o paraíso

que descrevem os antigos

não esteja além do vasto

nevoeiro e sargaço

mas no árduo percurso

vencido passo a passo

sem bússola ou mapa do céu

em pergaminho

 

 A foto da capa de “Roça Barroca” é de Miguel Rio Branco.

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Cada qual cuide de seu enterro

Por Joselia Aguiar
10/02/12 15:04

Eu gosto de ler livros. Parece besta e óbvio usar uma frase dessas para inaugurar um blog sobre livros. Mas é coisa comum encontrar por aí quem vive de livros e nunca os lê.

Eu gosto de ler livros desde os três, quatro anos. Minha mãe, ex-professora do antigo primário, tem o hábito extravagante de alfabetizar crianças cedo demais. Fez isso com meu irmão antes de mim e agora com meu sobrinho, que completou cinco –“Tiago já está lendo tudo!”, ela me disse ao telefone, e repetiu três vezes.

Eu gosto de ler livros pois certo dia meu pai chegou em casa com um volume que me pareceu colossal: “A Morte e a Morte de Quincas Berro D´Água”. Achei ingenuamente que o tal homem que renascia era um tipo de herói, desses de epopeia grega. Foi o primeiro livro de adultos que tentei ler a sério e desde então me acompanha sua frase mais conhecida, a de Quincas no cais antes de cair no mar: Cada qual cuide de seu enterro,  impossível não há.

Eu gosto de ler livros e por isso, com sorte, fui trabalhar com eles. Aos 17 anos, fiz a primeira resenha no susto. Um professor da faculdade era também editor do suplemento literário. Flori me entregou o embrulho e disse – “ó, duas laudas, para segunda. Se não me trouxer, ponho um calhau e digo que a culpa é sua.” [calhau, no jargão da redação, é algo que se arranja às pressas para tapar o buraco de um texto que não chegou.]

Escrevi sobre livros no meu começo no jornalismo. Depois fui trabalhar com assuntos internacionais e economia. Quando achei que nunca mais viveria de livros, me tornei editora-assistente e depois editora de uma revista mensal sobre eles.

Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há. Gostava muito do finzinho, “impossível não há”, que funciona como incentivo para tentar alguma coisa bastante difícil. Até brincava de dizer o trecho para uma amiga, que o retribuia  –ela também adorava a frase desde criança por causa do pai.

Só muitos, muitos anos depois, e passadas várias mortes, minhas e dos outros, entendi que a melhor parte é, caramba, a primeira. “Cada qual cuide de seu enterro”. A linda novelinha, mais tarde fui entender, me dizia com sua metáfora baiano-barroca que a cada um cabe cuidar da própria vida (a própria vida, não a dos outros!) e que, cuidando de viver, não se morre. Não era um heroi, muito menos de epopeia, mas Quincas, morto-vivo e beberrão, me fez gostar de ler livros.

Este blog vai tratar de livros, sejam físicos, digitais, líquidos ou gasosos. E também de editoras, livrarias, prêmios e festas literárias. Para quem lia já o meu “Painel das Letras” (todo o histórico aqui, e sempre vou recorrer aos antigos posts), será bastante parecido, quem sabe até um pouco melhor, assim espero e conto com você, leitor.

 

A capa é da nova edição de “A Morte e A Morte de Quincas Berro D´Água”, de Jorge Amado, publicada pela Companhia das Letras. A foto mostra a pesca de xaréu na Bahia dos anos 1940-50 registrada por Pierre Verger.

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