Deve existir um lugar muito bonito no céu para os bibliófilos –não se podia dizer outra coisa num blog chamado Livros Etc (!).
Costumam ajudar quem quer que os procure para ver um livro raro ou no mínimo há tempos fora de circulação.
Anos atrás, vi José Mindlin, nosso maior bibliófilo e origem da Brasiliana-USP, subir com seus mais de 90 anos uma imensa escadaria para retirar do alto da estante um volume de que eu precisava.
Mês passado, o poeta Ésio Macedo Ribeiro, um dos ativos especialistas na obra de Lucio Cardoso, interrompeu seu sossego numa terça-feira de Carnaval para me deixar consultar e fotografar capas e trechos de livros publicados no país por editoras comunistas, principalmente entre os anos 1930 e 1950.
Foi pelo mesmo motivo que, manhã muito cedo, segui até a biblioteca do poeta, ensaísta e crítico literário Antônio Carlos Secchin.
Os cerca de 12 mil volumes de literatura brasileira são organizados em ordem cronológica, o que nos dá uma vista histórica formidável; mantidos em temperatura amena, apesar dos mais de 40 graus a que pode chegar lá fora o verão no Rio; em estantes sob medida para aproveitar o espaço, sempre exíguo em se tratando de bibliófilos.
Nas paredes, outras tantas raridades para nos distrair das obrigações.
Estão lá títulos publicados pelas comunistas Edições do Povo, Encontro, Leitura e Vitória. Entre autores, organizadores e tradutores, as capas estampam o nome de alguns dos nossos mais importantes escritores –por exemplo, um Vinicius de Morais, que no começo da vida enveredou pela direita católica, depois mudou o curso e, por fim, abaianou-se.
Secchin comentou, e concordei: algumas dessas editoras não parecem nada sectárias, pois lançavam até volume dedicado a autores dos EUA (antes da Guerra Fria, claro).
O que me intriga agora é esse tal “Musa Vermelha” (imagem acima), de Antonio Abranches, 1918 –com esse título e desenho de mulher na capa, prenuncia certos sites e revistas de fofoca de hoje, que usam chamadas enganosas para atrair leitores incautos (como este blog fez desavergonhadamente!)
Consta que é a primeira obra dedicada à Revolução Russa, apenas um ano depois. Procurei sobre o livro na internet (estou longe das estantes de casa, onde podia tentar encontrar alguma referência), mas não há muita coisa, e as informações parecem até desencontradas –a autoria do livro, por exemplo.
O que será esse livro e quem seria seu autor, que, imagino, oculte sob pseudônimo alguém conhecido?