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Livros Etc

por Josélia Aguiar

Perfil Josélia Aguiar é jornalista especializada na cobertura de livros

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Quem não levou o Pulitzer em 2012. E quanto perdeu.

Por Joselia Aguiar
20/04/12 14:27

 

A polêmica numa premiação é muitas vezes mais favorável comercialmente do que um resultado sereno, por unanimidade, me explicou James English, autor do ainda não traduzido “The Economy of Prestige – Prizes, Awards and the Circulation of Cultural Value (Harvard University Press), quando  lhe procurei tempos atrás para um texto sobre prêmios literários publicado pela Folha em fins de 2010 (vá por aqui, até o site do Observatório da Imprensa, onde pode encontrar a íntegra).

Podia lembrar dos muitos episódios em que uma grande obra deixou de vencer e só depois se constatou o equívoco do júri, citar agraciados que recusaram premiações e  obtiveram ainda mais atenção com o gesto, reverenciar autores que morreram sem levar um Nobel merecido.

A notícia mais polêmica no circuito literário na última semana, porém, é diferente de tudo isso: o Pulitzer, o mais importante no mercado americano, deixou de escolher o vencedor para uma das categorias centrais, a de ficção. Não é a primeira vez que isso ocorre na história do prêmio –existe desde 1917! –, mas a última tem 35 anos.

Para não decidir, o júri proclamou ausência de maioria. Gente ouvida por jornais e sites, como neste texto aqui, do “New York Times”, acredita que os concorrentes eram por demais heterodoxos.

Eram eles:“The Pale King”, obra inacabada de David Foster Wallace (tratei do autor neste post aqui), “Swamplandia”, livro de estreia de Karen Russell que foi finalista de outros prêmios importantes, “Train Dreams”, de Denis Johnson, publicado antes numa edição da “Paris Review”.

Quem estava no júri –é fundamental saber sempre quem escolhe: Michael Cunningham, conhecido por aqui por seu “As Horas”, que levou um Pulitzer e virou filme;  Susan Larson, uma editora, e Maureen Corrigan, um crítico.

Um não-resultado ajuda comercialmente? Não há na obra de English estatísticas relativas a situações esdrúxulas como essa, mas num texto bacana que li hoje na americana “Publisher´s Weekly”, referência da indústria do livro, encontrei uma conta que mostra como o Pulitzer ajuda a alavancar vendas.

Um dos casos estudados é o de “A Visita Cruel do Tempo”, de Jennifer Egan, vencedora do Pulitzer ano passado e convidada da próxima Flip.

Pelas contas feitas, o número de exemplares comprados numa semana triplica após o prêmio, e esse ritmo acelerado de vendas se mantém por pelo menos três meses  —vá por aqui para chegar até a íntegra do texto da “Publisher´s Weekly”.

Esse é o hall do Pulitzer, imagem que pesquei no site da Columbia University, administradora do prêmio.

O povo da “Paris Review” não tem dúvida de quem devia ganhar: vá por aqui.

ATUALIZAÇÃO às 11h de 21/04 – O colega Fábio Victor ouviu dois dos três jurados em texto da Ilustrada de hoje, vá por aqui para encontrar, já disponível para não assinantes.

Antes de nova rodada de entrevistas e textos maiores, o blog terá nos próximos dias vários pequenos posts.

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Cynthia Ozick, favorita no Orange Prize. Ainda não a conhece? Leia "O Xale"

Por Joselia Aguiar
19/04/12 18:19

“Foreign bodies” (corpos estrangeiros), da americana Cynthia Ozick, é o  favorito entre os finalistas do britânico Orange Prize — leio aqui, no “Guardian”.

Para quem não se lembra: a premiação é exclusiva para ficção escrita por mulheres –na França, também há um prêmio de gênero, se é que podemos chamar assim, a diferença é que o francês Femina elege também homens, porém escolhidos por júri exclusivamente feminino.

Não li esse novo de Ozick, uma senhorinha simpática de 84 anos, mas já espero bastante, pois conheço o seu bonito “O Xale”, que saiu faz uns cinco anos pela Companhia das Letras. É um livrinho com menos de cem páginas, reúne dois contos, um deles, o que lhe dá título, trata do holocausto, o segundo tem a mesma personagem anos depois. Denso e inesquecível.

Ozick não é a única americana. Dos EUA, há Ann Patchett, com “State of Wonder”, que já venceu o Orange tempos atrás (com “Bel Canto”, publicado aqui pela Francis); e Madeline Miller, estreante, com “The Song of Achilles”. 

Concorrem também a irlandesa Anne Enright, conhecida pelo leitor brasileiro desde a vinda para a Flip de 2009, com “The Forgotten Waltz”; a britânica Georgina Harding, com “Painter of Silence”; e a canadense Esi Edugyan, com “Half Blood Blues”.

As editoras brasileiras, imagino, já devem ter comprado essas finalistas todas. É o que costuma ocorrer durante a London Book Fair, esta semana. A divulgação das indicadas coincide com a feira britânica.

O anúncio da vencedora sai no dia 30 de maio. Ano passado, quem levou o prêmio foi  a estreante Tea Obreht, da Sérvia, com “A Noiva do Tigre”, publicado aqui pela Leya.

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Bob Dylan e o novo livro de Enrique Vila-Matas

Por Joselia Aguiar
18/04/12 20:40

 

“Aire de Dylan” (ar de Dylan) é o livro novo do catalão Enrique Vila-Matas, uma das grandes atrações da próxima Flip.

O título vem da obra “Ar de Paris”, de Marcel Duchamp. E o tal Dylan a que se refere é mesmo o Bob que você está pensando. 

Com certo ar que lembra o astro, o personagem de Vila-Matas tem como grande objetivo… o fracasso: essa é apenas a mais simples das informações que você encontrará no catatau de links (catatau!) da página oficial do livro, vá por aqui.

Vila-Matas foi recebido hoje por essa seção aqui do “El País”, de entrevistas digitais. Está em espanhol, mas dá para ler e vale a pena, pois está divertidíssima.

A primeira pergunta: “quem é o narrador?” Resposta de Vila-Matas: “Essa é uma boa pergunta”.  E logo explica que é a frase que diz Dylan quando lhe perguntam quem é numa cena de “Pat Garrett e Billy the Kid”.

Antes de nova rodada de entrevistas e textos maiores, o blog terá nos próximos dias vários pequenos posts.

 

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O museu de Orhan Pamuk, o livro de Vargas Llosa contra a internet, um documentário sobre Haruki Murakami

Por Joselia Aguiar
15/04/12 19:49

O Museu da Inocência (que você vê na imagem acima) abre as portas em Istambul dentro de quinze dias, leio aqui em texto longo e divertido no “Financial Times” deste fim-de-semana.

Para quem não se lembra: o dono da ideia é Orhan Pamuk,  que tem um livro de mesmo título, seu oitavo romance, publicado logo depois do Nobel de 2006. Kemal, o protagonista, faz um relicário em memória de um amor perdido. Saído da ficção, o tal museu de Kemal-Pamuk torna-se endereço na sua cidade natal, a capital da Turquia, no dia 27 —aqui, no antigo blog, a íntegra da conversa que tive com o autor  em dezembro passado, quando saiu “O romancista ingênuo e o sentimental”, que trata da arte do romance. Livros que recomendo muitíssimo, tanto “O Museu da Inocência” quanto esse de ensaios.

Costumava reservar algum espaço na coluna e no blog ano passado para as principais histórias de escritores e editoras que lia durante a semana, dispensando coisa exclusivíssima porém irrelevante ou torta. Sei que só uma ou duas dezenas acompanham esses links o tempo inteiro, e nessas talvez duas dezenas não está o leitor comum. Vou voltar a fazer isso aqui.

Uma rápida retrospectiva das últimas semanas começa com os dois assuntos mais rumorosos, rumorosos por motivos diferentes.

Pottermore, o site interativo gigante da escocesa J.K. Rowling, começou a funcionar ontem para todo mundo e surpresa geral, depois de tantos adiamentos (a estreia seria em outubro) e sem ter sido outra vez anunciado — aqui, no “Guardian”, a notícia de ontem, e aqui, na “Slate”, notícia de dias atrás, sobre as vendas de ebooks da série Harry Potter no site, em uma investida que alterou as regras do mercado.  Na espera pelo Pottermore, o leitor foi surpreendido há dois meses pelo anúncio de que Rowling começou a escrever um livro para adultos. Sobre título e enredo, encontre novas notícias aqui, no “Guardian” da última quinta.

Barulho também causou o poema –poemas ainda causam barulho– que o alemão Gunter Grass, outro Nobel, publicou em defesa do Irã, dizendo que a grande ameaça ao mundo hoje é o Estado de Israel  _vá por aqui para ler no “New York Times”, por aqui no “El País” e por aqui no “Guardian”. Na repercussão, foi inevitável lembrar de sua participação na juventude nazista (não por ideologia, defende-se Grass, mas por obrigação), o que torna ainda mais eloquente o episódio. Já deu tempo de Grass responder, por aqui a versão em espanhol no “El País” da última quarta. Para assinantes da Folha ou do UOL, vá por aqui para chegar até o texto que saiu sobre o caso em “Mundo”.

Dois livros recém-publicados lá fora que vale registrar:

“La civilización del espectáculo” (a civilização do espetáculo) é o prometido ensaio em que Mario Vargas Llosa ataca a internet. Quem leu ou escutou nos últimos meses o  peruano, outro Nobel de Literatura, já pode imaginar o teor. A obra acaba de sair pela Alfaguara na Espanha   _vá por aqui, para ler o prólogo no “El País”, e por aqui, para ler a repercussão no “El Universal”.

“Basic Training” (treinamento básico),  inédito do americano e já falecido Kurt Vonnegut, escrito quando era funcionário da General Electric na década de 1940, acaba de sair e alcançar o primeiro lugar entre os ebooks mais vendidos nos EUA _vá por aqui, para ler no “Guardian”. De tão curiosa, já baixei no Kindle.

A obra do nigeriano Wole Soyinka, primeiro autor negro da África a se tornar Nobel,  chega enfim ao Brasil: por aqui, texto que já está disponível na internet escrito pela colega Alexandra Moraes, na Ilustrada ontem.

Salman Rushdie, britânico originário da Índia, vai escrever um livro de memórias. Assinará com o pseudônimo adotado na época em que era ameaçado por facções islâmicas  depois de publicar seus “Versos Satânicos”: por aqui, texto disponível na Folha.com.

Obituário que quis há tempos recomendar: o de Barney Rosset, o grande e corajoso editor da Grove Press, morto aos 89, aqui no “NYT”.

Este documentário sobre o japonês Haruki Murakami, que deixo no pé do post, encontrei via twitter de Carlos H. Schroeder, @xroeder, onde aliás há sempre ótimos links diários.

O doc está em inglês, mas é um inglês bem fácil, tente, mesmo que ainda não tenha fluência.


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Revistas literárias: Rascunho, veterano aos 12

Por Joselia Aguiar
12/04/12 20:13

Aos 12, com circulação mensal que nunca se interrompeu, o “Rascunho” é hoje a mais longeva publicação literária independente do país. Este é o segundo post da série —tratei da “Coyote” aqui.

Quando existia a EntreLivros, revista mensal que editei entre 2005 e 2008 (como editora assistente e depois editora), eu pensava diariamente em quanto tempo duraria. E ao ver todo mês o Rascunho chegar, apostava que seríamos capazes de repetir o feito daquele veterano sediado em Curitiba. EntreLivros se foi, Rascunho continua –caro leitor, não é nada fácil.

Criador e editor, Rogério Pereira conta a história do Rascunho: nasceu em 2000 como um encarte de oito páginas do “Jornal do Estado”, de Curitiba. Quando completou quatro anos, se tornou independente, já com 32 páginas, 40 em edições especiais. A cada mês, são rodados 5 mil exemplares. O número de colaboradores varia de 30 a 50 por edição. Chega a todos os estados brasileiros por meio de assinaturas e cortesias. Há pontos de distribuição gratuita em livrarias de vários estados. As edições seguem também para universidades e embaixadas brasileiras no exterior.

O jornal é editado pela Letras & Livros, “criada por razões fiscais e cujo patrimônio é  uma sala atulhada de livros, um computador, uma impressora e algumas dívidas”, explica Pereira. O endereço fiscal continua sendo o da casa de sua mãe. “Lá, o Rascunho nasceu. Lá, há de sobreviver. É claro que isso faz parte do folclore do jornal, pois agora temos uma sala comercial no centro de Curitiba”.

Esta é a conversa que tive com Rogério Pereira por email. Vá por aqui para encontrar a versão online do Rascunho.

Como surgiu a ideia de fazer o Rascunho? “Foi bastante prosaico: reuni um grupo de amigos para criar um jornal literário. Na época, éramos bastante jovens, acreditávamos que iríamos mudar o mundo, fazer grandes coisas etc. Ou seja, o que todo jovem acredita que irá fazer antes de se tornar um velho reclamão e acomodado. Tínhamos muito claro que precisávamos fazer algo de qualidade, expressivo, diferente. Então, resolvemos apostar em longos textos, longas entrevistas, espaço para inéditos — algo em franca decadência na imprensa brasileira naquela época, tão apaixonada pelas novidades da internet. Sempre fui muito perfeccionista e exigente comigo mesmo. Então, não poderia fazer um jornalzinho de literatura. Era preciso fazer o ‘melhor jornal de literatura do Brasil’, mesmo sem nenhum dinheiro, pouquíssima visibilidade e conhecimentos mais do que frágeis. Enfim, uma aventura como outra qualquer, cujos prejuízos seriam mínimos. Mas a aventura deu certo. O Rascunho cresceu, tomou corpo, importância e hoje é, apesar da arrogância do slogan, ‘o jornal de literatura do Brasil’”.

Lembro-me de uma fase mais polêmica, com resenhas mais duras, brigas até. O Rascunho, me parece, está mais suave. É da idade? Foi algo que ocorreu naturalmente ou vocês buscaram uma mudança de ânimos? “Não buscamos nada. Ou buscamos e não sabemos. No início, éramos iconoclastas, destruidores, birrentos, piás de calça curta jogando pedras para todos os lados. Matamos vários passarinhos desavisados. Fase muito boa aquela. Lembro da capa sobre os 50 anos da poesia do Décio Pignatari: “50 ANOS DE ENGANAÇÃO”. Depois, teve a do Sebastião Uchoa Leite: “Pára com isso, Sebastião”. O Rascunho era melhor ou pior naquela época de guerrilha? Uns acham que era melhor; outros, que era uma lástima. Hoje, somos mais mansos, mais bovinos? Talvez sejamos mais responsáveis, sem perder a liberdade de opinião. O Rascunho vive publicando resenhas negativas a vários autores consagrados. Qual o problema? Nenhum. Fazer um jornal para ficar bajulando o outro em troca de bajulação é algo que não nos seduz. Pode seduzir algum dos colaboradores, mas nunca me seduzirá. O jornal continua sendo um amplo palco para discussões literárias, para a divulgação do livro, leitura e literatura. Hoje, abriga muitas vozes, é mais complicado driblar certos compadrios. Mas continuo tentando. Levo as coisas muito a sério. Há todo um critério editorial seguido à risca. É claro que hoje as costas doem mais, a visão está mais embaçada, a energia começa a rarear. Nestes dias, é melhor esquecer pequenas intrigas. E guardar energia para as grandes batalhas. A velhice só faz bem aos museus; e aos geriatras enquanto não precisarem consultar seus colegas geriatras”.

O que é mais difícil – ter mais leitores, ter os colaboradores que procuram, ter patrocinadores? “Mais difícil é encontrar dinheiro. A ignorância está entranhada na vida do Brasil. Ser ignorante é muito fácil, muito mais cômodo. Dói menos. Nossa classe média é alfabetizada, mas não lê. Ou lê para se distrair. Portanto, um bando de analfabetos. Nossos políticos, com algumas boas exceções, são todos clones do Tiririca: usam gravata Armani, terno Ermenegildo Zegna e carregam no bolso o livro de piadas do Costinha. Para tirar sarro da nossa cara, obviamente. Leitores surgem o tempo todo. Somos uma imensa minoria. Mas com bastante ânimo. Colaboradores também. O Rascunho não consegue abrigar todos que desejam colaborar com o jornal. E não pagamos um centavo pelos textos. É incrível como existem pessoas malucas. Não estou sozinho nisso. Sou apenas um arremedo de Simão Bacamarte. O Rascunho é a nossa Casa Verde. Precisamos de mais dinheiro para adquirir nossos barbitúricos, soníferos, calmantes etc”.

O Paiol Literário, projeto que recebe autores para longa conversa, e agora a reunião em livro das principais entrevistas fortaleceram o Rascunho? “É preciso fazer algo que dê sustentação financeira. Todo projeto ajuda a manter o Rascunho vivo. O Paiol surgiu do meu interesse pelas discussões em torno da leitura/literatura. Não é nada original: entrevista com um escritor, com perguntas do público. O diferencial é que guardamos a memória de todos os encontros com a transcrição no Rascunho, com o áudio e o vídeo. O livro de entrevista é uma consequência bastante natural, pois as grandes entrevistas fazem parte da alma do Rascunho desde seu início. E o belo trabalho do Luís Henrique Pellanda na organização e da Arquipélago na edição valorizou muitíssimo esta marca do Rascunho. Mas o mais importante é que o Rascunho gerou um ambiente propício à criação de novos projetos. E vamos continuar insistindo enquanto o médico não nos der alta deste hospício.”

Bartolomeu Campos de Queirós (à dir.) é entrevistado por Rogério Pereira no Paiol Literário, imagem feita por Matheus Dias

O site ajudou na vida do Rascunho impresso? “O site ‘piorou’ a vida: não ganhamos dinheiro com ele (só gastamos) e cresceu muitíssimo a nossa demanda. Todo dia tem alguém entrando em contato, mandando textos, mandando livro, etc. Um verdadeiro inferno, no bom sentido (acho). Hoje, temos mais leitores no site do que na versão impressa. Ao todo (site + impresso), temos quase 30 mil leitores. É muita gente desocupada neste mundo.”

Como funciona a parceria com o grupo GRPCom, que publica a “Gazeta do Povo”? “Imprimimos o Rascunho nas gráficas da “Gazeta do Povo” com algumas vantagens. Em troca, oferecemos todo o conteúdo do Rascunho para o site da Gazeta. É uma ótima parceria. Mas não implica em qualquer interferência na linha editorial.  Continuamos com a mesma independência, fazendo o jornal de madrugada, aos finais de semana. As dificuldades financeiras continuam as mesmas. Todo mês é preciso buscar dinheiro para arcar com todas as despesas da edição. Quando falta, tiro do meu bolso. Não usamos lei de incentivo. Mas, que fique claro, não há nada de heróico nisso tudo, como alguns dizem por aí. É apenas uma escolha, uma forma de viver, de apostar em alguma coisa em que se acredita. Heróico é outra coisa, muito mais complexo, como ajudar efetivamente quem precisa. Fazer um jornal de literatura é apenas uma aposta. Nada mais.”

Por que as nossas publicações literárias nascem e morrem tão rapidamente? A competição entre os pares é um problema maior que a própria falta de público? “Deus se esqueceu de colocar na constituição cerebral da classe média brasileira (na haitiana também, parece) que ler é importante. E a classe média gerou os diretores de marketing, que não lêem, não sabem para que serve a leitura de ficção etc. Aí, eles, os diretores de marketing das grandes empresas (inclusive das editoras), que só lêem livros de autoajuda, pois estão preocupados somente consigo mesmos, não sabem exatamente para que serve uma publicação literária. Aí, não destinam verbas publicitárias a estas publicações literárias. E elas morrem. E as grandes editoras, que poderiam investir em publicações como o Rascunho, não investem. Por quê? Simples: porque é preciso fisgar o leitor desavisado dos grandes jornais. O leitor do Rascunho sabe onde e o que procurar nas livrarias. Entre a Folha e o Rascunho, a grande editora sempre opta pela Folha. Não poderia optar por ambos? Cansei de bater na porta das grandes editoras pedindo um quinhão (bem pequeno) da verba publicitária. Algumas querem fazer permuta por livros. Adoro livros, vivo por eles etc., mas já tentei mastigar a “Divina Comédia” com alface e me pareceu indigesto. Nem as grandes editoras, cujos diretores de marketing foram gerados a partir do erro divino, apostam em publicações com o Rascunho (a não ser as assessorias de imprensa, que nos atormentam o tempo todo; por quê? porque os escritores querem espaço lá, acham importante a discussão de seus livros no jornal, etc.). Torço para que os diretores de marketing sejam todos ficcionistas. Eu falo de publicações literárias na essência. Não falo de publicações culturais.  Ninguém se interessa por publicações alternativas de literatura. A não ser os leitores e os escritores. Mas os leitores destas publicações estão sempre sem grana. Se todo mês cada um que diz gostar doasse R$ 1, estaríamos salvos. O pobre não é solidário na literatura. Nem no câncer. Mas as publicações têm muita culpa nisso tudo. Normalmente, são de péssima qualidade gráfica e editorial, atendem interesses mesquinhos de meia dúzia de poetas locais, são intransigentes, não aceitam a variedade de vozes etc. Sufocam e morrem.”

Como explicar o fato de Curitiba, o Paraná em geral, ter um veículo do porte do Rascunho? Antes houve o Nicolau, agora há também o Cândido. De onde vem a tradição de fazer publicações? “Talvez venha da anemia editorial da cidade. Nunca tivemos (com raríssimas exceções) um mercado editorial fortalecido. Isso talvez tenha motivado algumas pessoas a se dedicar às publicações literárias. É uma forma de dizer “estamos aqui, fazemos algo além de fugir da chuva e de treinar este nosso sotaque horroroso”. Ou talvez não seja nada disso. Quem sabe seja um ranço da soberba intelectual de nossa colonização européia: somos filhos de italianos, poloneses, ucranianos, alemães. Filhos renegados, é bom que se diga. Ou talvez seja a coincidência de algumas pessoas estarem em Curitiba em determinado momento da vida. Ou ainda a inveja do passado. Já que tivemos a Joaquim, vamos fazer o Nicolau; já que o Nicolau fez sucesso, vamos fazer o Rascunho; já que o Rascunho deu certo, vamos criar o Cândido. É isto: a inveja nos move. A culpa, portanto, de tantas publicações literárias em Curitiba é da inveja. E, em última estância, do capeta e dos pecados capitais. Contrariando nossa tradição cristã, vamos todos arder no fogo do inferno, invejosos, sob as labaredas das nossas páginas impressas em papel barato.”

O que quer o Rascunho agora? Algum novo projeto, reformulação à vista? “A sobrevivência. Sempre. Mas sempre queremos ir além da sobrevivência. Vivo de projetos. O que me impulsiona sempre é a possibilidade de fazer algo, de ir além. Tenho vários projetos anotados na caderneta ao lado da caixa de Rivotril. Pretendo criar uma fundação: Fundação Rascunho de Cultura. Com isso, desejo criar projetos sociais de livro e leitura. Ir além da discussão teórica, da divulgação dos livros etc. Hoje, apoiamos alguns projetos, mas é preciso fazer mais. Acho que uma Fundação dará suporte para mais esta aventura. Também pretendo criar uma biblioteca comunitária na casa da minha mãe (endereço fiscal do Rascunho). Cresci naquela casa de madeira, criei o Rascunho ali, li boa parte dos livros naquele quarto úmido. Agora, sempre que vou à casa da minha mãe, penso que uma biblioteca poderia ser muito útil para aqueles moleques que passam o dia nas esquinas vagabundeando ou usando drogas. Também carrego há bastante tempo a ideia de uma biblioteca itinerante pela periferia de Curitiba. Pretendo comprar uma kombi, equipá-la e levar livros e leitura a quem precisa. Muitas pessoas não sabem que gostam de ler. É preciso mostrar isso a elas. E pretendo criar o Prêmio Rascunho de Literatura. Ainda não sei muito bem como, nem quando, mas penso nisso há muito tempo. Não tenho projetos originais. São todos muito óbvios. Mas acredito que é preciso dizer o óbvio todos os dias. E o original quando é possível.”

ATUALIZAÇÃO às 20h37 – Só me lembrei agora de recomendar: Eliane Brum escreveu há dois anos esse longo e bonito perfil de Rogério Pereira, vale a pena ler

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Ficção brasileira lá fora: João Paulo Cuenca no Extremo Oriente

Por Joselia Aguiar
10/04/12 09:53

Faz semanas que comecei a ver na internet episódios criados no Extremo Oriente pelos escritores brasileiros João Paulo Cuenca (“O único final feliz para uma história de amor é um acidente“) e Tatiana Salem Levy (“A Chave de Casa”, “Dois Rios”)  e o cineasta português Miguel Gonçalves Mendes (“José e Pilar”). Um filminho me levou a outro, que me levou a outro, que me levou a perguntar a Cuenca do que se trata para publicar mais um post sobre ficção brasileira lá fora (vá por aqui e aqui para ler os posts anteriores).

“Nada Tenho de Meu”, que chegou ao quinto episódio, é um híbrido de documentário e ficção que os três realizam desde janeiro, depois de participar do primeiro festival literário de Macau, tão lusófona quanto nós. “Nós três rapidamente inventamos uma forma de trabalhar juntos e esticar nossa estadia”, conta Cuenca. “Tenho cada vez mais interesse em cinema e passar uma temporada filmando no Sudeste Asiático me parecia um bom exercício – como foi.” A jornada de viagem e filmagem durou 50 dias. De Macau, seguiram para Vietnã, Camboja, Tailândia e Hong Kong.

Cuenca me responde aqui sobre sua experiência em outros países. Nascido em 1978, com três romance publicados a partir de 2002 e integrante de várias antologias, viaja com frequência ao exterior para projetos literários diversos. Este ano, vai ainda a Espanha e Alemanha, onde saem traduções de livros seus.

Qual a história que descobriram e vão contar no projeto “Nada Tenho de Meu”? É a história de três pessoas que, de modos completamente distintos, precisam lidar com o passado e com suas origens. Eles vagam pelo mundo como fantasmas, aprisionados em si mesmos. Os três personagens irão empreender diferentes fugas ao longo da narrativa. A minha talvez venha a ser a mais literal. A forma, um híbrido entre documentário e ficção, foi sendo pensada pelos três ao longo da filmagem/viagem. Depois do sétimo episódio online, pretendemos dar uma pausa e estudar onde e como passar a obra inteira, que é bem maior. Já estamos estudando propostas.

Como exploraram os lugares visitados?  “Nós entrevistamos muita gente, entre artistas e moradores dessas cidades, gente que fomos encontrando pelo caminho. Por exemplo, os episódios que já estão no ar contam com a participação dos escritores Lolita Hu e Su Tong, da atriz Margarida Vila-Nova e do diretor de cinema Ivo Ferreira – ambos portugueses, atuam na cena do jantar no capítulo 5.”

 

Entre os autores de sua geração, você é um dos que têm trajetória mais internacional. Não me refiro só a traduções, mas à participação em projetos diversos. Como essas coisas aconteceram para você no exterior? “A verdade é que até hoje eu viajei muito mais que meus romances, que tiveram direitos comprados por Portugal, Itália, Espanha e Alemanha. Mas publicações em antologias, convites a festivais ou projetos literários de encomenda já me levaram para outros lugares, onde não tenho editor, como China, Japão, Estados Unidos, Inglaterra, França, Porto Rico, Colômbia, Peru e Argentina. Só no ano passado participei de falas ou leituras em Nova York duas vezes, e também na Póvoa de Varzim, Porto, Lisboa, Berlim, Frankfurt, Munique, Madri, San Juan e devo estar me esquecendo de algum outro lugar. Isso começou a esquentar quando fui selecionado pelo Hay Festival naquele grupo do Bogotá39 em 2007. Mas há outra coisa: eu naturalmente estico minhas viagens e daí surgem outros convites. Se os outros escritores voltam pra casa em uma semana, eu fico fora em média uns quatro meses por ano desde 2006. Se me convidam para Madri, vou parar em Jerusalém. Se me convidam para Paris, vou ao Egito. Se me convidam para Macau, em três semanas estou no meio de uma floresta no Camboja. Tento aproveitar essas passagens.”

Você disse numa entrevista ao “El País” que lá fora ainda esperam algo exótico da literatura brasileira. O que você definiria como esse exótico que procuram?  Meninas de biquíni, coqueiros, favelas, alguma violência urbana, misticismo, romantização do proletariado e da pobreza… Enfim, é uma fórmula. E o país, além de ser mais complexo do que ela, é capaz de produzir subjetividade sobre muito mais. [vá por aqui para ler artigo do autor no jornal “El País” em que trata do tema]. Há de se louvar a mobilização recente da Fundação Biblioteca Nacional para incentivar traduções de autores brasileiros. Desde sempre compramos livros de  escritores portugueses, espanhóis e franceses com apoio e selo do governo desses países na contracapa. Se o Brasil tem um projeto de inserção mundial que inclua algo mais que chinelos, coristas e hits radiofônicos, é razoável que invista na exposição da nossa literatura no exterior.”

Na convivência com autores lá fora, o que percebe de semelhante e diferente no modo de produzir, realizar projetos? “Acredito que há mais articulação e leitura entre autores latinoamericanos de diferentes países do que entre escritores brasileiros que vivem na mesma cidade. A vida é igualmente difícil para a maioria, as tiragens não são grandes, mas, no geral, você percebe que há um meio literário com mais musculatura fora do Brasil.”

A sensação que tenho é que lá fora pensam que o Brasil está melhor do que realmente está.  Será que vêem um crescimento do mercado literário brasileiro que ainda não aconteceu, embora possa acontecer? “As coisas estão acontecendo no Brasil para empreiteiros, políticos, lobistas, donos de banco, de bar, de oficinas mecânicas e jogadores de futebol. O resto de nós anda histérico, gastando o dinheiro que não tem para viver em cidades que não valem o que custam. Mas, realmente, a impressão que há sobre o Brasil no exterior é que andamos sobre cristais e o ar está de gala. O próprio brasileiro acredita nisso, já que só enxerga a si mesmo e a realidade que o cerca em espelhos midiáticos extremamente distorcidos. Eu não me preocupo tanto com o crescimento do mercado brasileiro, e sim com a educação dos leitores que ainda estão para nascer.”

As imagens acima foram cedidas por Cuenca. O primeiro episódio da série “Nada Tenho de Meu” é este logo abaixo. Vá por aqui, até o site do autor, para ver os outros quatro já prontos.


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Revistas literárias: Coyote faz dez anos

Por Joselia Aguiar
07/04/12 15:12

O número 23 da Coyote começou a circular faz poucas semanas, e Ademir Assunção, Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes já preparam o próximo, bastante especial, pois será o do décimo aniversário dessa revista que criaram em Londrina, no Paraná, para publicar literatura e arte. A caminho, uma das novidades que chega com a data redonda é o site, antigo projeto.

Desde que fiz este post aqui, sobre o número 200 da Paris Review, prometi iniciar série sobre publicações literárias no país  –para ler mais sobre essa revista histórica e até hoje influente aos 59 anos, vá por aqui, aonde encontra íntegra da entrevista do colega Fábio Victor com o editor atual, Lorin Stein, que saiu na “Ilustrada” sábado passado.

O blog vai mapear tanto os títulos de teor artístico-literário, como a Coyote, quanto os mais voltados à crítica literária, como Rascunho, os de humanidades, como a Novos Estudos Cebrap, e os literário-digitais, como a Errática.

Quem respondeu sobre a Coyote para o blog foi o poeta e tradutor Rodrigo Garcia Lopes,  que publicou há pouco “Nômada” (Lamparina) e lança em agosto “Estúdio Realidade” (Iluminuras). A edição da Coyote, média de duas por ano, tem 52 páginas, custa R$ 10 e é distribuída pela editora Iluminuras —vá por aqui. No número atual, o dossiê dedicado a Moacyr Scliar, inéditos de Beatriz Bracher e a fotografia de Mara Tkotz são alguns dos destaques. 

Como nasceu a Coyote? “De um velho sonho que Marcos Losnak, Ademir Assunção e eu tínhamos de fazer uma revista de literatura e arte, ainda quando cursávamos jornalismo na Universidade Estadual de Londrina. Na época, começo dos anos 1980, fiz com Marcos Losnak e outros amigos os fanzines Hã e K’AN, com a participação do Ademir a partir do terceiro número. Nos anos 1990, eu e Ademir fomos editores da revista Medusa, de Curitiba, com Eliana Borges e Ricardo Corona. A Coyote surgiu em 2002, editada em Londrina. Só existe graças à nossa teimosia e ao Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) da prefeitura local. É este importante programa público que garante os custos mínimos para a impressão e circulação da revista.”

Vocês seguiram algum modelo de revista literária? “Não creio que seguimos nenhum modelo. Buscamos, sim, criar nossa própria linguagem, sobretudo no aspecto gráfico, que é um dos diferenciais, marca registrada da Coyote. Claro que muitas revistas passaram por nossas mãos, sobretudo as de invenção. Somos bastante fiéis ao projeto gráfico e editorial desde o primeiro número. Buscamos sempre a fatia mais radical da literatura brasileira e internacional. Radical na linguagem e nas abordagens.”

Quem é o seu leitor?  “Os interessados em literatura, poesia e arte são potenciais leitores. Temos bastante feedback de artistas, escritores, poetas, jornalistas, formadores de opinião e leitores em geral. O difícil é fazer a revista chegar até eles. Alguns editores confessaram ter conhecido na Coyote autores inéditos que eles depois publicaram. É distribuída para todo o país, apenas em livrarias, mas todos sabem como são grandes as dificuldades de distribuição no Brasil. Além disso, tínhamos uma mala direta bastante grande no começo, até internacional, mas diminuiu pelo preço dos correios, limitando-se apenas ao essencial: bibliotecas públicas e universitárias, alguns críticos e autores.”

A parceria com a editora Iluminuras ajuda a distribuir a revista? “A parceria com a Iluminuras ajuda bastante na distribuição. Os que fazem revistas independentes sabem que o maior nó é a distribuição. Muitas livrarias se recusam a vender a revista, sabe-se lá o motivo. Certamente porque não dá tanto lucro quanto um best-seller. Mas há leitores interessados em todos os cantos do país. Quando o mercado só se interessa por lucros estratosféricos, publicações como a Coyote acabam prejudicadas. Vamos resolver este problema com vendas diretas pela internet.”

 O que é mais difícil ao fazer uma publicação literária no país? “O mais difícil é manter a longevidade que a Coyote conseguiu. Historicamente, no Brasil, revistas literárias não passam do quinto número. Nós estamos completando dez anos em 2012, com 24 números lançados. Poderíamos ter lançado quase o dobro, se trabalhássemos com condições um pouquinho melhores. Ao longo dos anos, nos inscrevemos em vários editais e nunca conseguimos absolutamente nada, exceto o apoio do Promic, de Londrina. O último edital do qual participamos foi um do Ministério da Cultura para revistas culturais. Perdemos para Rolling Stones e  Speak-Up. Fidelidade dos leitores, nós temos. Colaboradores também não nos faltam: há ótimos poetas, escritores, fotógrafos, artistas e tradutores em atividade no país, sempre dispostos a divulgar material inédito. A revista tem um enorme prestígio. O que não temos é dinheiro para fazê-la crescer.”  

Algum novo projeto, algo relacionado a internet em vista? “Estamos trabalhando na edição de aniversário. Uma década, para uma revista literária, é um marco histórico. Também estamos pesquisando com webdesigners a criação, finalmente, do site da Coyote. Queremos oferecer todos os números anteriores, criar uma versão online da revista e desenvolver um sistema de vendas diretas para aqueles que quiserem a edição impressa. Muita gente nos pergunta: mas como a revista não tem um site ainda? A resposta é: porque cada um dos editores faz uma porção de outras coisas. Nenhum deles sobrevive da revista. Ao contrário: não ganhamos um tostão. Fazemos por pura teimosia e amor à arte, para usar um velho clichê, azul e desbotado.”

Algum número foi particularmente marcante na trajetória da Coyote? “Os números são todos marcantes. Fazemos a revista com muito critério, zelo e capricho. Mas, se fosse mencionar alguns, destacaria os dossiês, com entrevistas inéditas, de Paulo Leminski, Roberto Piva, Marjorie Perloff, Eugen Bavcar, Moacyr Scliar, os textos inéditos de Daniel Wallace,  Domingos Pellegrini, Pedro Juan Gutierrez, João Gilberto Noll, Sebastião Nunes e Wilson Bueno, ou ainda a tradução de poetas nômades do Oriente Médio. Mas, sobretudo, a revelação de vários autores novos, que, em seguida, foram publicados por editoras, como João Filho, Jorge Cardoso e Nilo Oliveira. Esta é uma filosofia da Coyote que seguimos à risca: ao lado de inéditos de autores já consagrados, publicamos sempre autores novos e até totalmente desconhecidos. Brasileiros ou estrangeiros. Não queremos chover no molhado. Um dos elogios mais caros a nós, e que ouvimos com frequência, é: ‘mais uma vez vocês estão publicando autores de que nunca ouvi falar’.”

Há uma tradição de revista literária no Paraná como um todo, não? “Somos de Londrina, não Curitiba, mas tanto os “coxas brancas” (apelido dos curitibanos, por causa do frio e do time da capital) quanto os “pés vermelhos” (o dos londrinenses, devido à cor da terra) têm rica tradição, desde os simbolistas, de revistas, periódicos e páginas literárias. Em Londrina, houve o jornal Panorama, uma experiência jornalística maravilhosa que trouxe escritores e jornalistas de peso à cidade nos anos 1970, como João Antônio, Narciso Kalili, Myltainho, e formou toda uma geração de excelentes profissionais aqui. O Caderno 2 da “Folha de Londrina” era muito lido nos anos 1980, formador de leitor e de opinião. A página dominical Leitura, que foi editada por Domingos Pellegrini Jr., Nelson Capucho, Nilson Monteiro e pelo Ademir, antes de mim, era bastante lida e discutida, não só aqui, mas em vários outros pontos do país. Poetas e escritores nacionais, como Carlos Drummond de Andrade, Boris Schnaiderman, Waly Salomão, Paulo Leminski e muitos outros se manifestavam entusiasticamente sobre a qualidade e a ousadia. Guardamos até hoje bilhetes e cartas deles. Publicávamos inéditos de autores locais, paranaenses e brasileiros, e traduções de Rimbaud, Allen Ginsberg, Ezra Pound.

A tradição em Curitiba também é grande. “Em Curitiba, houve a revista Joaquim, editada pelo Dalton Trevisan nos anos 1950. Depois a página Letras e Artes nos 1960, feita por Silvio Back, a Pólo Inventiva e a Raposa nos 1970, por Reynaldo Jardim e Paulo Leminski, entre outros, e o jornal Nicolau, nos 1980, editado por Wilson Bueno, no qual trabalhei também. Nos anos 90 e 2000 existiram outras revistas literárias como Medusa, Oroboro, Etecetera, que não circulam mais. E existe ainda o jornal Rascunho, mais de crítica literária, mas que também pública inéditos de autores brasileiros e estrangeiros. Não sei o motivo pelo qual o Paraná, comparado a outros estados, tem uma trajetória robusta e instigante em termos de publicações literárias. Valeria um estudo sobre isso.”  

 Atualização 1 às 16h20 – Corrigi acima o nome dos próximos livros de Rodrigo Garcia Lopes. De Ademir Assunção, são os volumes “A Voz do Ventríloquo”, de poesias, que sai em maio, pela Edith Editorial, e “Faróis no Caos”, de entrevistas, em junho, pela Sesc Edições.

Atualização 2 às 11h20 de 8/4 – Um “coxa-branca” avisa ao blog que há imprecisão, ou ao menos outra versão, sobre o uso do termo. Explica Luis Pellanda, escritor: “Não se usa ‘coxa-branca’ para designar o curitibano! ‘Coxa-branca’ é só aquele que, como eu, torce para o Coritiba. O termo também não é relacionado ao frio, mas à etnia dos fundadores do time: os alemães, de calção, expunham coxas branquíssimas.”

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Uma biografia do câncer: a história da doença e da cura, seus cientistas e pacientes

Por Joselia Aguiar
04/04/12 22:22

A esquisitice dos sintomas impressionou mais até que a rapidez com que  apareciam. Em poucos dias, a rotina se tornara impossível para Carla Reed, 30 anos, uma ativa professora do jardim de infância e mãe de três crianças: depois das escoriações nas costas, a descoloração da gengiva, a fadiga extrema e a dor nos ossos.

Acordou certa manhã com tal torpor na cabeça que decidiu ir ao hospital. Saiu de lá uma, duas vezes sem diagnóstico. Ao médico que parecia tão atrapalhado com o que via, ela mesma sugeriu, em outra visita,  um hemograma.

Com a história de Carla Reed, que descobriu ter leucemia uma década atrás,  Siddharta Mukherjee inicia seu “O Imperador de Todos os Males – Uma Biografia do Câncer”. A tradução chegou às livrarias faz poucos dias, pela Companhia das Letras. Escolhi fazer o post nessa véspera de Páscoa.

***

Médico de origem indiana radicado nos EUA, Siddharta Mukherjee me deixou curiosa assim que  sua obra foi resenhada pelo “New York Times”. Não só pelo tema e o modo como decidiu conduzi-lo, também pelos elogios recebidos num círculo que não era o seu –afinal, não é escritor profissional. A coleção de prêmios – como Pulitzer e  “Guardian”, este concorrendo com ficcionistas — me levou a baixar a versão em e-book pelo Kindle em dezembro passado.

Achava que seria tão bom quanto “O Demônio do Meio Dia – Uma Anatomia da Depressão”, de Andrew Solomon, publicado faz um bom tempo pela Objetiva.

Os dois livros tratam de doenças numa abordagem que combina história, ciência, cultura e, principalmente, a experiência dos autores. Solomon, que entrevistou deprimidos em estágios diferentes, enfrenta há décadas seu próprio demônio.  Mukherjee estudou biologia e imunologia, formou-se médico em Harvard, é oncologista e professor da área. O livro de Mukherjee é, sim, tão bom quanto o de Solomon. Este, em tom mais  pessoal. O de Mukherjee, com mais história da ciência.

***

A chegada de um paciente com leucemia aguda como Carla Reed faz o frio percorrer a espinha de todo hospital, descreve Siddharta Murherjee. O câncer que, como diz, não é um só mas vários tem na leucemia uma de suas encarnações mais violentas, pelo ritmo, intensidade e velocidade de crescimento, o que obriga  médicos a decisões rápidas e drásticas.

Dos casos mais estranhos à busca da cura em laboratórios, tem-se um amplo porém minucioso panorama da doença. Ao contrário do que se pode prever tendo à frente tantos pormenores, o livro é ágil em suas mais de 600 páginas. Tem capítulos curtos, alguns com três, quatro páginas.  Sobretudo é bem pesquisado e escrito; assim a leitura, pelo menos para mim, não se arrasta.

Sobre a história inicial do câncer há pouco a dizer, porque, como conta Murherjee, a doença  era rara. Até o século 19, morria-se muito mais, e mais cedo, de peste, tuberculose, varíola e cólera. O câncer é um mal da civilização moderna não só pelos malefícios em maior profusão. A vida é cada vez mais longa a partir do século 20, e o câncer também está relacionado ao envelhecimento. Os diagnósticos também são mais precisos agora. Antes se podia morrer desse mal sem saber.

Do Egito anterior à era cristã data o primeiro registro escrito, num papiro de Imhotep decifrado na década de 1930. A autópsia da vítima mais antiga encontrada até hoje é feita por um paleobiólogo tempos depois, em 1990. Em um cemitério do Peru de mil anos atrás, ao perceber uma massa dura e bulbosa no antebraço esquerdo de restos mumificados, não hesitou no diagnóstico: era um tumor ósseo maligno.

O câncer aparece como notícia em jornais e revistas americanos nos primeiros anos do século 20. É obsessivamente tema de livros, teatros, filmes a partir da década de 1970. De doença clandestina, passa a cada vez mais presente e curável. A quimioterapia é uma das grandes revoluções na história desse embate. Nascem as campanhas contra o tabagismo depois que se constata uma epidemia de câncer de pulmão; exames como a mamografia e o Papanicolau são hoje semestrais.

***

A história de Carla Reed, que intercala outras, de doentes e principalmente de cientistas, prossegue até o fim do livro.

Em sete meses, são 66 visitas médicas, 58 exames de sangue, sete punções espinhais e diversas biópsias de medula óssea.

Não vou contar como termina. Mas posso dizer que conheço mais de uma pessoa que se curou de leucemia.

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Juan Gelman: "encontrar um desaparecido é honrá-lo, dar-lhe um lugar na memória"

Por Joselia Aguiar
30/03/12 13:06

 

Juan Gelman, quase 82, para muitos o maior poeta de língua espanhola das Américas, está a poucas semanas de encerrar a jornada dolorosa que começou em 1976, quando o primogênito, Marcelo, e a nora, María Claudia, grávida de oito meses, foram presos pela ditadura militar na Argentina.  

Gelman já conseguiu enterrar Marcelo. Falta sepultar María Claudia, de quem podem ser os ossos encontrados num quartel uruguaio no último dia 14. 

O resultado do exame de DNA sai em abril – quem sabe nos dias em que Gelman vai estar em terras brasileiras, aonde chega do México, lugar do seu exílio, para a primeira Bienal do Livro de Brasília, entre os dias 14 e 23.

Faz mais de uma década que Gelman visitou o país de Drummond e dos irmãos Campos, a quem cita como alguns dos preferidos. Na breve conversa por telefone que tive com o poeta na última segunda-feira, ele me disse, com sua voz sempre muito baixa e gentil, que pode, sim, viajar a outras partes do país para participar de eventos literários (atenção colegas que fazem curadoria: não percam a oportunidade).

Se não for de María Claudia, o esqueleto será de mais um dos desaparecidos que sua missão, ao mesmo tempo pessoal e política, ajudou a sepultar. Não houve só angústia na busca. A neta Macarena, um dos cerca de 500 bebês que o regime militar fez sumir com adoções ilegais, Gelman pôde encontrar em 2000, data em que a moça enfim soube de sua verdadeira filiação.  

O senhor está às vésperas de encerrar a busca que iniciou há 35 anos. “Cada vez que aparecem ossos, fico ansioso, desejando que seja finalmente. Não sei se vai ocorrer uma confirmação. O que encontraram foi um esqueleto completo, isso é importante para a identificação. Aguardamos agora o resultado do DNA.”

O que representa, pessoal e politicamente, localizar os desaparecidos? Aqui no Brasil também se quer mudar a lei de Anistia para abrir arquivos. “Meu filho foi assassinado com um tiro na nuca pela ditadura e ficou 13 anos desaparecido. Até que seus restos foram encontrados na Argentina. Pude dar-lhe uma sepultura.  É reparador. Enterrar os mortos queridos é algo que existe desde tempos muito antigos. Encontrar um desaparecido é  honrá-lo, dar-lhe um lugar na memória. A palavra ‘desaparecido’ esconde quatro atos  – o sequestro, a  tortura, o assassinato e o desaparecimento. Porque sabemos que não estão desaparecidos, sabemos que estão mortos.”

O senhor, que continua a colaborar com regularidade nos jornais, escreveu há pouco tempo que a crise econômica mundial pode ter como consequência o surgimento de novos regimes autoritários. “Sim, tudo isso é possível. Penso que a crise pode durar muito tempo. Mas me preocupa muito nesse momento a situação no Oriente Médio.  Esse senhor presidente do Irã nega a Shoah [holocausto, como é chamado em iídiche], tem atitudes profundamente autoritárias. Com a situação do Irã, pode-se chegar, oxalá que não, a um conflito atômico, o que seria uma tragédia mundial.”

A poesia como resistência é outro dos temas que costuma abordar nos artigos que escreve. “O enriquecimento do leitor com a poesia se dá ao descobrir caminhos interiores que ignorava ter. A crise não é só econômica, é sobretudo espiritual, de honra e solidariedade. Faz muitos anos que impera um darwinismo brutal, terra fértil para qualquer autoritarismo. Mas a poesia atravessa os séculos, apesar das catástrofes naturais ou produzidas pelo homem. É uma situação mais ou menos inevitável. Para o leitor, evitável, mas para quem escreve, não.”  

Ao Brasil, o senhor chega para comparecer a uma bienal. Na abertura da feira de Madri do ano passado, disse uma frase engraçada: “há tantos títulos, tantas tentações à venda, que eu mesmo não consigo comprar nada e me admiro do leitor que visita uma feira de livros”.  “Sim, há tantos livros que não compro nenhum. Mas as feiras vendem muitos; significa que talvez haja leitores que conseguem escolher melhor do que eu.”

Alguns autores, como Mario Vargas Llosa, estão muito preocupados com a possibilidade de, com a internet, termos cada vez menos leitores. “As notas e resenhas na internet provocam curiosidade para os livros. A internet me parece uma boa ajuda para conhecer autores, principalmente os que ainda não foram traduzidos. Não estou certo de que o livro impresso vá desaparecer.”

 ***

De Juan Gelman, vi que as livrarias brasileiras têm poucos títulos: “Amor que serena, termina?”, cuja nova edição a Record anuncia para o evento em Brasília; “Isso”, que saiu pela editora da UNB; e “Composições”, o mais recente, pela Crisálida. É hora de colocar nas prateleiras obras como “Gotan”, de poesia, e “Miradas”, que reúne alguns dos seus artigos mais recentes.

ATUALIZAÇÃO às 19h – Para quem quer ler mais, Sylvia Colombo, vizinha de blog na Folha, escreveu dois posts hoje relacionados a livros e Argentina: aqui, sobre livros que tratam da ditadura, aqui, sobre as dificuldades de importar livros.

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Tabucchi: "o tempo não é uma coisinha simples, não se apanha com o rolex"

Por Joselia Aguiar
28/03/12 12:01

Não sabia que Antonio Tabucchi estivesse doente. A notícia de sua morte,  moço aos 68, de câncer na Lisboa de que gostava tanto, supreendeu no último domingo seus leitores, pelo menos os que conheço e o que pude ver da imprensa do exterior.

Quando ia sair aqui “O Tempo Envelhece Depressa”, suas nove histórias como as de Sallinger, fiz uma entrevista com Tabucchi para o jornal “Valor Econômico”. Era meados de 2010.

Não foi uma operação simples. Entre percalços e suspense, aguardei por semanas as respostas, que chegariam por escrito. Sabia que ele só responderia se aprovasse as perguntas, em número restrito; conhecia (não sei se é folclore) um famoso episódio em que interrompera uma entrevista por telefone porque considerou que as questões não eram suficientemente boas. O que posso dizer é que, leitora àquela altura de quatro livros seus, fiz vários rascunhos, duvidei que fosse capaz de agradá-lo, até hoje paira certa suspeita apesar do fax recebido  — fui a única, depois não falou com mais ninguém.

A minha homenagem ao escritor italiano que tanto amou a língua portuguesa segue aqui: trechos de suas bonitas respostas, que não foram publicadas na íntegra porque o texto saiu no formato “texto corrido”, como dizemos no jargão, e não “pergunta-resposta”. A grafia foi mantida, tal como escrevera.

A PASSAGEM DO TEMPO – “Às vezes neste livro o tempo não passa. Ou melhor, passa, mas à sua maneira. Passa todo duma vez, cinquenta anos num dia. Ou volta atrás. Ou faz curvas. Ou estaca como o burro e recusa-se a avançar. O Tempo não é uma coisinha simples, não se apanha com o rolex. Há o Tempo de Santo Agostinho e o Tempo de Zenão de Eleia. O Tempo da consciência de Bergson e o Tempo da Física de Einstein (aliás, para ele há três Tempos, e, na terceira categoria, o Antes e o Depois são diferentes consoante a posição do observador). A ideia de tempo do mineiro encerrado há três meses a 700 m debaixo da terra e a do banqueiro que no flash dum e-mail envia um milhão de dólares para um “paraíso fiscal” não podem ser a mesma. E o tempo de A Terceira Margem do Rio de Guimarães Rosa será o mesmo do de um empregado de São Paulo? O tempo da democracia e o do totalitarismo são iguais? O tempo de uma mulher dum país fundamentalista que para não ser lapidada tem de vestir burka e o de uma moça de tanga que apanha sol na praia de Ipanema será o mesmo? O tempo do calendário gregoriano colocou aquelas duas mulheres no mesmo ano solar, mas por um puro acaso. Para passar à narrativa do século 19, Proust, Pirandello e Pessoa falam  dos caprichos e dos mistérios do Tempo. Mas sob este aspecto, o romance moderno começa muito antes, com o Dom Quixote de Cervantes e continua com Tristam Shandy de Sterne, com Lewis Carroll e James Joyce. É verdade que, hoje em dia, as livrarias de todo o mundo estão cheias de livros de capa dourada e letras em relevo que vendem milhões de cópias mas são livros apenas para matar o tempo.

ROMANCE X CONTO “Ao género narrativo “romance”, eu também lhe dei o meu contributo pois, dos 20 livros de narrativa que escrevi ao longo dos anos, 7 são romances. A falar verdade, não foi com o romance que eu alguma vez tive problemas: coitado, é uma forma tão aberta e disponível. Ao invés, é o conto (as “estórias”, como lhe chamava o Guimarães Rosa) que me deu sempre problemas, e por isso gosto de os escrever. O conto é  mais “fechado”, é como o soneto em poesia. Mas isto já foi dito por Borges e por Cortázar. Aliás, seria bom ler também O Tempo Envelhece Depressa como um conjunto único, uma pintura feita de várias peças. Pense, por exemplo, nos quadros de Arcimboldo: para entendê-los bem é preciso afastar-se um pouco. Se os olhar muito de perto, você verá um conjunto de frutas e legumes: maçãs, curgetes, cenouras, etc. Mas se olhar à devida distância, verá o rosto de uma figura humana, quer represente o pródigo verão ou o rígido inverno. Olhe, eu tentei fazer a figura do tempo em que vivemos com aquilo que tinha à disposição. Como diz Woody Allen, tocando à porta duma amiga com um cesto na mão: “Trouxe-lhe os legumes de estação, my dear”.”

O CONTO “YÓ ME ENAMORÉ DEL AIRE”  “O conto passa-se no Jardim Botânico de Lisboa. Os elementos de reconhecimento são escassos: os azulejos, que, como se sabe, os portugueses levaram para todos os países que descobriram; dados históricos (o terramoto que quase destruiu Lisboa em 1755); dados topográficos (as duas grandes praças uma a seguir à outra, o Rossio e os Restauradores).  A canção que dá o título ao conto é uma balada sefardita do século XVI, quando os Judeus da Península Ibérica foram expulsos de Espanha e de Portugal.”

***

O leitor pode se perguntar por que diabos gastei uma das perguntas para saber que música era –caprichos de leitora!

A resposta mais simples é que adoro música de época antiga e medieval, aquilo que, para a rápida compreensão geral, se passou a chamar sintética e benevolamente de “early music”.

Como brinde de pé de post, aqui vai “Yo me enamoré del aire” pescada do youtube, com um dos grandes intérpretes do gênero, Jordi Savall (que formava um belo par com a soprano Montserrat Figueras, morta também tão cedo, ano passado).


Em tempo: a Cosac Naify publica em setembro seu “Noturno Indiano”, que já teve edição por aqui pela Rocco. Outros três estão previstos, ainda sem data.

Vá por aqui para ler o que escreveu o catalão Enrique Vila-Matas sobre o colega italiano, entre outros posts em homenagem a Tabucchi no blog da Cosac Naify.

 

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