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por Josélia Aguiar

Perfil Josélia Aguiar é jornalista especializada na cobertura de livros

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Revistas literárias: Errática, concebida para o digital

Por Joselia Aguiar
16/05/12 12:54

 

A dificuldade em fazer revista impressa levou editores, escritores e poetas a criar na última década publicações online –sobre algumas delas, já vou tratar na próxima rodada da série, mês que vem.

Esse não é bem o caso da Errática, revista online de poesia concebida para ser digital, e não impressa, como explica o editor, André Vallias, poeta, artista gráfico e produtor de mídia interativa, tradutor da primeira antologia de Heinrich Heine, “Heine Hein?”, que saiu pela Perspectiva ano passado.

A inspiração para a Errática veio “da dinâmica dos blogs e das revistas de poesia da década de 1970, como Navilouca, Polem, Artéria, Poesia em Greve”, conta Vallias na conversa que segue abaixo. 

Conheci a Errática ano passado quando encontrei por lá um pouco das greguerias de Ramón Gómez de la Serna, nascido em Madri e morto em Buenos Aires nas primeiras décadas do século 20: fiz post a respeito no antigo blog.

Da série sobre revistas literárias, o blog tratou da  serrote, vá por aqui,  do Rascunho, por aqui,  Coyote, por aqui.  e Novos Estudos Cebrap, por aqui.  

 Vá por aqui para chegar até a Errática.  

O que é: “A Errática não é uma revista concebida para ser impressa: a maior parte de seu conteúdo não cabe no papel. É uma revista concebida para o meio digital. A revista funciona por prospecção e não por seleção. Não tenho condição de receber e analisar colaborações. A prospecção é “errática”: acontece… Minha ideia foi criar um estrutura simples e eficiente que permitisse a publicação  de uma variedade de formatos compatíveis com a web, sem periodicidade definida”.

Modo de fazer: “É uma revista digital ‘sem número’: os trabalhos são publicados individualmente à medida que aparecem – textos, poemas, ensaios, vídeos, animações (interativas ou não) vão se somando ad infinitum, dispostos de 6 em 6 (as faces do dado).” 

Quando surgiu: “Foi lançada em outubro de 2004, como um projeto ligado à segunda versão do site de Caetano Veloso. Teve uma dupla inspiração: a dinâmica dos blogs, que haviam se popularizado no início dos anos 2000, e as revistas de poesia da década de 1970, como Navilouca, Polem, Artéria, Poesia em Greve etc.”

O nome: “O título da revista foi extraído de uma canção homônima de Caetano, feita em resposta a Décio Pignatari, que havia afirmado que o verdadeiro líder do Tropicalismo teria sido Torquato Neto, porque ‘os baianos eram erráticos demais’. Gonzalo Aguilar mais tarde me apontou a referência oswaldiana:  ‘Será preciso criar uma Errática, uma ciência do vestígio errático, para se reconstituir essa vaga Idade de Ouro, onde fulge o tema central do Matriarcado.'”

***

Evento no Rio sobre revistas literárias: a Fundação Casa de Rui Barbosa  realiza um encontro bacaníssimo  sobre o tema, vá por aqui para saber mais, nesta sexta-feira, dia 18. Quem deu a dica ao blog foi Laura Erber, participante de uma das mesas.

 

 

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Revistas literárias: Novos Estudos Cebrap, três décadas de ensaios em humanidades

Por Joselia Aguiar
11/05/12 23:06

Novos Estudos Cebrap, embora também publique ensaios, não é bem revista literária, como as outras de que tratamos aqui — a serrote, vá por aqui,  Rascunho, por aqui, e Coyote, por aqui.  Os textos têm mais a forma de artigo acadêmico, o paper, que a de ensaio literário; não tratam especificamente de literatura, mas também podem tratar.

Uma das revistas-referência hoje no Brasil na área de humanidades, a Novos Estudos Cebrap tem uma história de mais de três décadas. Foi criada em 1981 pelo Cebrap, importante think tank da América do Sul e Central, sediado em São Paulo —vá por aqui para chegar até o site. Como escreveu à época o crítico literário Roberto Schwarz no primeiro editorial, a situação era “péssima, excelente para fazer uma revista”. A frase é lembrada por Joaquim Toledo Jr., atual editor, que nos conta de edições de grande repercussão, apesar dos números pouco expressivos de tiragem ou assinantes. Note, leitor: tiragem, ou audiência, nem sempre significa influência, e vice-versa.

O objetivo dessa série de posts é divulgar as publicações, mas também compreender como nascem, são feitas, circulam e têm influência no país. O que quer dizer que, por fim, as respostas dos seus editores acabam por esboçar uma pequeníssima parte de nossa história intelectual e cultural mais recente. 

Atualização às 13h 40 de 14/5 – Para quem perguntou sobre onde comprar se não fizer assinatura: em São Paulo e outras capitais, em livrarias Cultura e da Travessa, mas talvez será necessário encomendar. A distribuição é da Editora 34, por onde também se pode procurar exemplares.

Como surge a revista na década de 1980, qual era o propósito na época?  “Acho que a frase de Roberto Schwarz que está no editorial do número 1 (dezembro de 1981) resume bem essas circunstâncias: “a situação é péssima, excelente para fazer uma revista”. Quase uma paráfrase acadêmica e engajada de W. H. Auden, para quem um clima social e político de confusão e urgência, como aquele do começo da década de 1980 no Brasil, era ótimo para abrir um bar. O Cebrap já tinha a essa altura mais de uma década de atuação em pesquisas voltadas às mazelas da modernização brasileira – urbanização desordenada, desemprego, pobreza e a ausência de democracia, e a casa já contava com publicações próprias, uma espécie de boletim com resultados desses trabalhos, os “Cadernos Cebrap”, e também os “Estudos Cebrap” (esses últimos distribuídos pela editora Paz e Terra). A certa altura, surgiu a ideia de uma revista com outro perfil, mais leve – menos acadêmica, menos sisuda -, com um apelo para um público interessado mas não necessariamente especialista, ou ainda em vias de formação – estudantes de graduação e curiosos em geral. Rodrigo Naves, que editou a revista de 1987 a 1996 (e foi crucial, a meu ver, para a definição de seu espírito), atribui essa sacada em parte ao sucesso da coleção “Os Pensadores”, da Abril, cujas edições esgotavam rapidamente nas bancas, apesar de publicar autores desconhecidos e dificílimos.”

O que o sucesso da coleção “Os Pensadores” significava? “Isso teria mostrado a carência e demanda por uma publicação como a Novos Estudos: multidisciplinar, voltada a questões contemporâneas e com artigos sofisticados o suficiente para servirem como contribuição científica e política ao debate brasileiro mas simpáticos o suficiente para dialogar com um espectro mais amplo de leitores.” 

Os números não são tão expressivos [ao fim deste post, o leitor os encontra], porém um artigo de peso na revista tem grande repercussão. Você pode lembrar de alguns desses textos/situações? “Acho que o dossiê Jurgen Habermas (n. 18,  setembro de 1987) foi um marco, introduzindo o filósofo alemão, cujo trabalho teria grande repercussão nas décadas seguintes no país, para o leitor brasileiro. Foi uma escolha bastante acertada de textos – uma entrevista, um ensaio de diagnóstico da crise do estado de bem estar social e de certos formas de ação política, e outro ensaio sobre arquitetura e a questão, então atual, da pós-modernidade e do pós-modernismo. De certa forma, o dossiê é um ótimo exemplo da linha da revista, com teoria social, política, arte e um diagnóstico do mundo contemporâneo.”

Entre os textos mais recentes,  quais pode citar como de grande repercussão? “O artigo em que o cientista político da universidade de São Paulo André Singer procurou explicar o fenômeno a que chamou de “lulismo” (“Raízes sociais e ideológicas do lulismo”, n.85, dezembro de 2009) também gerou um debate bastante amplo e oportuno, qualificando a discussão sobre a trajetória do PT e os dois governos Lula. Entre os publicados durante minha gestão como editor,  o artigo do antropólogo Omar Ribeiro Thomaz sobre o terremoto no Haiti (“O terremoto no Haiti, o mundo dos brancos e o lougawou”, n. 86, março de 2010) é um bom exemplo também do espírito da revista. Omar, que também foi editor,  presenciou o terremoto, assim como a atuação dos organismos internacionais que prometeram mais do que fizeram para ajudar o país na reconstrução. Junto ao Omar estava a fotógrafa Chris Bierrenbach, que registrou o terremoto e suas consequências (uma seleção de suas fotos acompanha o artigo). O artigo acabou sendo uma crítica bastante contundente desses organismos que dispõem de um excelente aparato midiático mas têm pouca capacidade de ação real. Esses artigos têm em comum, acho, o fato de partirem de um olhar altamente qualificado, de especialistas, mas voltado para a interpretação e crítica do presente, e de se dirigirem com generosidade ao leitor, sem facilitação mas também sem aquele caráter técnico ou hermético que mesmo as ciências humanas podem assumir.”

Em mais de três décadas, como o projeto se renovou?  “A renovação da revista, me parece, segue um percurso quase natural, acompanhando a renovação da produção acadêmica, seus temas e tendências. Mas acompanha também, pelo menos em parte, as inclinações dos editores. Em sua gestão, Alvaro Comin deu bastante ênfase a questões de sociologia econômica; Omar R. Thomaz privilegiou determinados debates políticos; Flavio Moura tocou a reformulação do projeto gráfico etc. Ainda, o meio acadêmico e intelectual e brasileiro também mudou, em escala e em qualidade, e a revista necessariamente teve de se adaptar a isso. A abertura da revista é resultado da preocupação em evitar endogenia – que a revista gire em torno de um conjunto pequeno, ainda que excelente, de pessoas, ainda mais ligadas à própria instituição -, e da adoção sistemática da avaliação por pares dos artigos submetidos.” 

O modo de fazer: como são decididos os temas e enfoques; com que periodicidade se reúnem, como selecionam o que entra? “Os artigos se dividem em três grandes categorias: opinião, artigos strictu sensu (em geral de perfil mais acadêmico) e resenhas. Os artigos de opinião costumam ser encomendados – o tema e o nome saem da reunião do conselho editorial, e são sempre de assuntos atuais, ainda quentes, em geral que ocuparam espaço no debate durante o período entre um número e outro da revista. Da reunião surgem nomes possíveis também. Os artigos têm origem mista: recebemos submissões, que passam por processo de avaliação interno e externo, e também saímos à caça: aí entra o editor e seu telefone, importunando professores ocupados com seus pedidos. Esses artigos também passam por uma leitura crítica de um especialista da área. As resenhas são também, em geral, encomendadas, porque a escolha dos livros é feita na reunião do conselho, ou em consultas individuais. Depois, como no caso dos artigos de opinião, cava-se um bom nome para a tarefa. Mas também recebemos submissões de resenhas, que passam pelo mesmo processo de avaliação por que passam os artigos. O conselho editorial se reúne periodicamente, pelo menos três vezes por ano. A reunião é acima de tudo um brainstorm: em meio a comentários sobre assuntos correntes e as novidades em geral, surgem temas para dossiês, sugestões de tradução, ideias de entrevistas ou nomes para escrever artigos sobre determinado assunto. O editor sai com a tarefa de transformar isso tudo em uma revista, e tentar dar uma certa coerência ou equilíbrio para cada número. A qualidade do conselho editorial – todos acadêmicos ou intelectuais destacados em suas áreas – facilita e impõe, ao mesmo tempo, um desafio.”

Sei das dificuldades para transformar um texto científico, que precisa obedecer a um modelo necessário na universidade, em ensaio para ser lido por um público maior. Como fazem os ajustes? “Cada artigo é uma tarefa diferente. Começamos pela seleção: evitar artigos específicos demais, muito presos a um debate pontual, ainda que importante, de uma determinada área: estudos de caso muito particulares, exercícios de aplicação de modelos, revisão bibliográfica ou debates apenas metodológicos. O ideal é que seja um artigo especializado, consistente, com algum grau de sofisticação e inovação – que leve para frente alguma questão de sua área – mas que também seja um comentário crítico sobre questões atuais e mais gerais. De um certo ponto de vista, os temas são muito recorrentes, os velhos de sempre: democracia, justiça social, igualdade de gênero, o (mal) funcionamento da economia capitalista, os rumos da cultura nacional etc. Esse é, me parece, justamente o espírito do ensaio. Quando o artigo se encaixa nesses critérios, procuramos ajudar no possível a amaciar o estilo, evitando o peso da prosa acadêmica que, apesar da má fama, não é necessariamente desajeitada no Brasil, e em alguns é muito bem representada. No entanto, não é possível reinventar a roda a cada instante, de maneira que procuramos sempre garantir artigos consistentes, relevantes em sua área, bem escritos e com alguma zona de contato com o leitor não especialista.”

O que pode dizer de sua observação de revistas no mesmo formato feitas no exterior? “Eu teria certo receio em generalizar essas diferenças. Acadêmicos podem ser obtusos ou transparentes em qualquer língua. Depende muito, apesar da expressão caduca, da vocação. Alguns preferem a aridez da prosa técnica – e pensam os artigos na chave da comunicação científica, e não do debate amplo. Outros associam a escrita ao ensino, e valorizam o estilo. Cientistas políticos tendem ao vocabulário objetivo de sua área, filósofos prezam pela densidade conceitual de seus artigos, e críticos literários costumam fazer uso mais criativo da linguagem. Mas é possível que essas qualidades estejam distribuídas de forma irregular por todas as áreas. De qualquer maneira, acho que as revistas devem se preocupar em fixar um estilo, um padrão. Seja a clareza jornalística engajada de uma New Left Review (http://www.newleftreview.org/), seja a opacidade auto-referencial de uma Critical Inquiry (http://criticalinquiry.uchicago.edu/), o mais importante é saber a quem se quer falar, quem é seu leitor.”

***

O blog reservou ao pé do post uma parte das informações, aquelas relativas a números.

Os números da revista, tiragem, assinaturas e visitas ao site: “Temos cerca de 500 assinantes, para uma tiragem de mil exemplares. No site, o acesso médio mensal é cerca de 1,5 mil –são dados do site, e não incluem os acessos à página da revista nem o acesso a artigos avulsos no Scielo, onde provavelmente temos pelo menos uma quantidade igual de acessos. A revista já chegou a 2,5 exemplares por edição, com cerca de mil assinantes. Mas o acesso aberto (do número corrente e alguns passados, mas não todo o acervo) na internet implicou uma redução de ambas as coisas. Ainda assim, a revista pode se orgulhar de, em 30 anos, jamais ter atrasado pra valer um número. Publicações do mesmo tipo costumam ter uma vida muito mais imprevisível. Nos últimos anos, uma parceria com a Fundação Carlos Chagas tem tornado viável a publicação. Há um interesse, que ainda não soubemos explorar direito, pela revista em países lusófonos. No mapa de acessos do site Angola e Moçambique sempre aparecem – há poucos acessos, mas aparecem. No meio acadêmico de Portugal,  é reconhecida e lida. Devido aos custos, tivemos que interromper alguns acordos de permuta com publicações estrangeiras, mas estamos retomando.”

 O perfil do leitor: “A maioria tem algum vínculo com a área de ciências humanas, ou grande interesse em assuntos políticos correntes, e vê na revista uma fonte de informação em profundidade.  A revista pode ser acessada no Scielo, em acesso aberto, e boa parte do acervo está disponível. Estamos renovando o site justamente porque sabemos que, se o número de assinantes não tem oscilado muito – nem para mais, mas tampouco para menos -, o número de leitores tem crescido.  Temos também as famosas contas em redes sociais, que são uma ótima ferramenta de divulgação (e gratuita, ainda por cima).”

O perfil dos colaboradores: “A revista publica cerca de 36 artigos por ano. São quase 31 anos de história. Eu estimo que pelo menos 700 autores diferentes já apareceram nas páginas de Novos Estudos”.

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Revistas literárias: em defesa do ensaio, Serrote chega ao número 10

Por Joselia Aguiar
10/05/12 10:19

 

Existe por aqui grande tradição de resenha jornalística e de crítica nos moldes exigidos pela universidade. A serrote (em minúsculas), que chega ao número 10, nasceu para privilegiar uma forma menos comum no circuito intelectual brasileiro, o ensaio. Não é tão fácil encontrar novos e bons autores no gênero. Um concurso promovido ano passado pela revista mostrou, segundo Paulo Roberto Pires,  seu atual editor, “que há um desentendimento imenso sobre o que é o ensaio e, também, que há possibilidades muito interessantes na área”.

Este post faz parte da série sobre revistas literárias –o anterior tratou do Rascunho, vá por aqui, e o primeiro, da Coyote, por aqui.  Amanhã, o post será dedicado à Novos Estudos Cebrap. Depois, haverá outro post, sobre a Errática. 

Na conversa com o blog, Paulo Roberto Pires conta sobre os desafios de fazer cada edição, desde a criação da pauta ao ajuste dos textos e à edição da arte –o número dez tem, por exemplo, ensaio visual de Waltércio Caldas, um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira. Com a nova edição, saíram os ebooks Clássicos serrote, com download gratuito, e o suplemento especial do Alfabeto serrote, por aqui até o site da revista, mantida pelo Instituto Moreira Salles.

A falta de dinheiro é um dos principais motivos, talvez o maior de todos, para que as revistas literárias brasileiras nasçam e morram tão rapidamente. A serrote, que é editada pelo Instituto Moreira Salles, tem a questão do financiamento já resolvida. Isso tira um problemão da frente, ao mesmo tempo, imagino, deve criar angústia, a de ter de ser impecável. Como vocês lidam com essa expectativa no dia-a-dia? “É muito difícil fazer um revista desse tipo sem financiamento. Dá uma olhada na lista de apoiadores da “Paris Review” (http://www.theparisreview.org/): vai desde instituições até o Don DeLillo, que dá uma graninha por ano.  Temos um orçamento e temos que trabalhar em seus limites. Como dizia o Jorge Zahar, é preciso um olho no catálogo e outro no livro-caixa. Mas o que permite esmero e o bom acabamento é, sobretudo, o prazo: editamos três números por ano. Para o perfil da serrote, essa é a periodicidade ideal, tanto para manter o interesse da revista quanto pela capacidade de qualquer leitor em absorver textos deste tipo. Editorialmente, o desafio é dosar todo um ensaísmo clássico e buscar também as novidades na área. É preciso também não tornar a revista sisuda, pesadona.”

Quando vocês criaram o projeto, tentaram oferecer aquilo que ainda não existia? Qual era a percepção sobre o que faltava, o que era preciso fazer? “A revista foi criada pelo Flávio Pinheiro e pelo Matinas Suzuki Jr., que a editou até o número 5, quando cheguei. As referências eram mais de formato do que de conteúdo: pensava-se muito na “Virginia Quarterly Review” (http://www.vqronline.org/), na “Lapham’s Quarterly” (http://www.laphamsquarterly.org/) e, é claro, na “Paris Review”. Só que a VQR dedica-se a reportagens, a Lapham, a números temáticos que são antologias e a PR principalmente à ficção.  E nosso princípio é publicar o melhor da não-ficção ensaística que se puder encontrar, sem preconceitos de nacionalidade, tema ou orientação política. Idéias bem defendidas, com texto claro e agradável, que cumprem a função do bom ensaio, no qual é mais importante fazer pensar, instigar, do que resolver questões ou ditar soluções.”

No país, é grande a tradição de resenha jornalística e de crítica acadêmica. Fazer ensaios é algo que, me parece, ainda é uma dificuldade para nós. Pode contar  sobre como lidam com esse problema, o de ter de ajustar os textos? Como o concurso de ensaios ajudou? “Entre nós o ensaio é muito confundido com textos acadêmicos. Não tenho nada contra a academia – e nem poderia, pois sou professor da UFRJ há 19 anos – mas para os papers já há espaço suficiente, sobretudo depois da difusão para valer da internet. Causou polêmica, no primeiro número da revista, o editorial que se insurgia contra as notas de rodapé, aquelas que o Edmund Wilson dizia serem “arame farpado” em torno das ideias. É claro que publicamos textos com notas, mas a clareza tem que ser o critério soberano. Os textos nacionais, feitos por encomenda ou não,  são editados junto com o autor sempre que julgo necessário. Não tenho como princípio ser intervencionista acima  de qualquer coisa, mas também não tenho pudor em negociar ajustes. O concurso de ensaísmo mostrou duas coisas: que há um desentendimento imenso sobre o que é o ensaio e, também, que há possibilidades muito interessantes na área. Escolhemos os três vencedores entre dez textos de ótimo nível. Ano que vem, faremos de novo.”

 A definição da pauta de uma revista de ensaio também é mais complicada do que a de um suplemento literário. Imagino que tentem sempre fugir do imediato e também surpreender. Há alguma cota de ineditismo e/ou agenda a cumprir? “Há uma comissão editorial que se reúne três vezes por ano. É uma grande conversa, muito divertida e anárquica, em que todos levam suas sugestões. Em geral, apresento um número praticamente fechado como ponto de partida e depois mudo tudo o quanto achar necessário. Minha preocupação é, como disse anteriormente, dar conta de ensaios importantes e inéditos em português e, também, na novidade –  mas sem novidadismo. Agenda só há de forma indireta: publicamos em primeira mão trechos do livro do Marc Fischer sobre João Gilberto por conta dos 80 anos e a Companhia das Letras acabou editando o livro em português.  Nas enchentes da serra fluminense, propomos ao fotógrafo Edu Marin fazer um ensaio fotográfico lá, no meio do furacão, mas com um  olhar bem diferente do jornalístico. O resultado foi surpreendente. Ou seja, como você vê, a pauta se reinventa sempre.”

Se a dificuldade não é financiamento, qual a difculdade para a serrote? Tornar-se mais conhecida, ter mais leitores? Como os eventos, site ou redes sociais têm ajudado nisso? “A dificuldade é a dificuldade de todo mundo que trabalha editorialmente fora de uma linha média de gosto: leitor. Dos dez números, os dois primeiros são esgotados e vendidos a mais de 100 reais na Estante Virtual. A revista tem, comparativamente, uma performance melhor do que livros mais sofisticados, mas não há um público pronto, tem que trabalhar o tempo todo pensando em trazer mais gente. Foi ótimo ter trazido o Goeff Dyer, uma referência no ensaísmo contemporâneo, mas este ano faremos eventos menores e mais constantes em torno de ensaísmo em geral e não necessariamente atrelados à pauta imediata da revista. Para mim, é importante que se fale em ensaio como gênero, que se leia e discuta o gênero, pois assim, de forma indireta e consistente, ganhamos mais leitores lá na frente.”

Arte contemporânea na revista: como, em que momento entram os artistas para a capa, a arte da serrote? O pedido nasce na pauta? “A revista é uma parceria constante entre texto imagem, entre eu e Alice Sant’Anna, mais concentrados nas escolhas de texto, e os designers Daniel Trench, que criou a revista em todos os seus detalhes, e Gustavo Marchetti. Trabalhamos os quatro buscando coisas mas sem rigidez de divisão: a arte pode partir do editorial e o texto da direção de arte. A capa da serrote 8 tem uma história curiosa: fiquei louco quando vi os desenhos de Robert Longo a partir das fotos que documentam o consultório de Freud em Viena e decidimos por um ensaio. Mas nos animamos com outras coisas dele e o Longo acabou na capa porque ele também se animou com a gente: cedeu todas as imagens porque gostou do projeto. Fora do Brasil, entre os artistas, conseguimos muita coisa quando vêem a revista fisicamente. Ninguém lê português, claro, mas percebe que há conversa e não subordinação entre imagem e texto.”

ATUALIZAÇÃO às 14h40 – No blog da Companhia das Letras, vá por aqui para ler o texto que escreveu Luiz Schwarcz sobre o jornal Leia Livros, editado pela Brasiliense. 

Quando conheci a publicação, nas bancas da Salvador em fins de 1980, o formato não era de jornal, mas de revista, e por isso costumo me referir no feminino, a “Leia”, como fiz outro dia nos comentários aqui. Procurei sobre período de circulação e mudança de editora (a Joruês comprou o título da Brasiliense), encontrei esse texto do Cedap/Unesp, mas nada sobre mudança de formato (jornal-revista). Alguém sabe mais sobre isso?

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Onde vivem os monstros? Maurice Sendak, seu criador, morre aos 83

Por Joselia Aguiar
08/05/12 12:17

Procure na internet vídeos baseados em “Onde Vivem os Monstros?” (em inglês, “Where the wild things are?”), e você vai se espantar com a quantidade de homenagens, algumas bem profissionais, outras mais amadoras, que mereceu a historinha infantil criada por Maurice Sendak, morto hoje, aos 83.

Sendak, americano com o sobrenome polonês dos pais, começou a publicar na década de 1940. Fez duas dezenas de histórias para crianças, ilustrou mais de cem, muitas premiadas.

A de maior sucesso é mesmo a de Max, que vai dormir sem tomar sopa e encontra vários monstros madrugada adentro, lançada em 1963 – mais de 17 milhões de exemplares vendidos desde então, a edição brasileira recente pela Cosac Naify. A obra alcançou tanta fama, medida não só por adaptações para as telas, mas por leituras e montagens de todo tipo —vá por aqui para ver Barack Obama a admirar criancinhas –, que quase se pode dizer que Sendak, ele mesmo, era um quase desconhecido.

Está triste porque Sendak morreu? Mande seu desenho-homenagem ao Garatujas Fantásticas, vá por aqui. 

Obituários-tributos que acabei de encontrar:  na “Flavorwire”, bem bacana, vá por aqui. Em jornais, no “New York Times”, vá por aqui, no “Guardian”, por aqui, na “Slate”, por aqui. O já nosso conhecido e favorito “Letters of Note” mostra como Sendak mandava cartinhas, vá por aqui. Maria Popova, também uma preferida deste blog, mostra ilustrações vintage pouco conhecidas de Sendak, por aqui.

Spike Jonze fez a adaptação mais recente de “Onde vivem os monstros?”, de 2009, com roteiro de David Eggers, trailer abaixo.


 

A imagem que abre o post é de uma coleção de brinquedos, criada por Sendak e Todd McFarlane _vá por aqui.

No blog: “Boa noite, Lua”, outro clássico infantil americano, e “Boa noite, Ipad”, uma homenagem para os tempos digitais.

Atualização às 19h30 – O dia inteiro, vi mais links sobre o autor, gente postando frases e fotos na internet.  Reproduzo abaixo trecho de uma entrevista com Sendak que acabei de ler no mural de Thiago Blumenthal no Facebook. Conto em português, mais abaixo, do que se trata.

Sendak explica que responde a todas as cartas de leitores que recebe. Certo dia, mandou uma dessas respostas a um garotinho, acompanhada de um desenho de um dos monstros. A mãe lhe diz que o filho gostou tanto, tanto, que comeu o cartão. Sendak conclui então que nenhum elogio podia ser maior que esse: “Ele viu, amou e comeu”.

 

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Imprensa, poder, leitores: uma conversa com Oscar Pilagallo

Por Joselia Aguiar
07/05/12 11:22

Uma imprensa nascida na província, que se tornou depois sede dos principais veículos de informação do país: essa trajetória, de começo mambembe e panfletário, até a consolidação das empresas de comunicação e o auge de sua influência, com as Diretas Já e o impeachment de Fernando Collor de Mello, é contada por Oscar Pilagallo no seu “História da Imprensa Paulista“, publicado pelo novo selo Três Estrelas, do Grupo Folha.

Apesar do tema tão abrangente para as pouco mais de 350 páginas, o autor também se detém em certos detalhes –e por fim o leitor vai compreender que nesses detalhes se revela a complexidade dessa longa narrativa –, como a repercussão, em certo período, dos jornais populares e seus bebês-diabo e o uso de carros da imprensa por órgãos de repressão durante a ditadura militar, assuntos tratados com a elegância e o equilíbrio que caracterizam o autor.

Fazia tempo que não lia uma obra sobre imprensa, rotina quase semanal muito antes do vestibular e mantida até mais tarde, após minha estreia nas redações. Na época, o meu interesse era aprender o ofício. Esses livros são, no entanto, muito mais que leitura para profissionais: tratam da história do país por um dos seus principais ângulos. Pode ser um bom momento para uma nova onda de obras do gênero, que, acho, tem sido pouco explorado nos últimos anos.

disclaimer:  Oscar foi um grande chefe em duas fases cruciais de minha vida profissional em São Paulo. Na Folha a partir de 1997, tive sua confiança na editoria de economia, em época de “mercado tenso” (ou “exuberância irracional”, para lembrar de outra expressão que usávamos antes das matérias, aquilo que chamamos, no jargão, de “chapéu”). Primeiro, crise do México, depois da Coreia do Sul, que avançou por todo Sudeste Asiático e chegou à Rússia, veio a desvalorização do real (e o que mais se temia e previa era a explosão da bolha americana, a ocorrer uma década depois.) Em 2005, fui sua assistente, aprendendo não só a escrever melhor como principalmente a editar, quando criou a EntreLivros, revista sobre livros e literatura publicada pela Duetto. A certa altura, ao ter de sair para tocar outro projeto, ele generosamente me convenceu a ficar no seu lugar na nova fase da revista; sem seu encorajamento, não teria enfrentado sozinha aquele oceano.

Na conversa com o blog, Oscar Pilagallo trata das relações entre imprensa e poder, mas também de jornalismo econômico e literário.

Em sua interpretação das relações entre imprensa paulista e poder, em que época jornais e jornalistas tiveram mais peso para pressionar o governo,  maior repercusão entre leitores? Essa influência está diminuindo? “A eleição e o processo de impeachment do presidente Collor foram o auge da influência da imprensa no poder. Collor, como político de projeção nacional, foi uma construção da mídia que viu nele o candidato com maiores chances de ser o anti-Lula. Mas, da mesma maneira que foi construído, Collor seria desconstruído. A imprensa teve papel fundamental em seu afastamento. As informações mais comprometedoras, que abasteceram a CPI criada para apurar as denúncias de corrupção, partiram das revistas. A entrevista do irmão Pedro Collor à Veja e, sobretudo, a descoberta, pela Isto É, do motorista Eriberto, que escancarou o elo entre PC Farias, o tesoureiro de Collor, e o presidente. Os jornais não conseguiram informações relevantes, mas repercutiram as denúncias e jogaram o peso institucional de seus editoriais a favor da tese do impeachment. Mas houve outros momentos importantes. O movimento das Diretas Já, por exemplo, só eletrizou o país devido ao entusiasmo da cobertura da imprensa. Hoje, a influência é menor. Maior prova disso é que nas últimas três eleições presidenciais venceram os candidatos mais criticados pela imprensa (Lula, duas vezes, e Dilma).”

O regime militar é visto como aquele em que a imprensa mais foi censurada. Mas o Estado Novo tambem exerceu grande censura, talvez menos lembrada porque está mais distante no tempo. Como comparar essas duas épocas de censura? “A censura tinha o mesmo objetivo e a mesma natureza nas duas ditaduras, mas a forma era diferente. No Estado Novo, o governo adotou uma política que mesclava coerção e cooptação. Alguns não aceitaram a censura, como o Estado, que por isso sofreu intervenção. Outros a aceitaram resignadamente. E alguns se beneficiaram da ditadura, aceitando vantagens materiais do governo, o que deu novo fôlego a impérios, como os Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Na ditadura militar, os censores se fiaram basicamente nas proibições. Outra diferença é que a ditadura militar foi mais violenta contra a imprensa do que a ditadura de Vargas. Hoje, comparativamente, o país tem mais liberdade de imprensa. Nos grandes centros, o ambiente é de liberdade. Mas em cidades menores, onde há mais promiscuidade entre governos locais e imprensa regional, o jornalismo independente encontra maior dificuldade.”

Pela pesquisa que fez e também pela experiência com jornalismo econômico, você identifica o momento em que a cobertura de temas como inflação, bancos, mercado financeiro se tornou melhor, mais sofisticada? Houve muita barbeiragem no começo? “O jornalismo econômico surgiu nos anos 70. Em parte porque a cobertura de temas políticos estava comprometida pela censura. Em parte em resposta ao “milagre econômico”, que gerava interesse nos leitores. Aos poucos a cobertura foi se sofisticando, se especializando. Não acho que seja uma área em que tenha havido, particularmente, barbeiragens. Houve erros, certamente, como em qualquer outra área do jornalismo.”

 

Aqui no Brasil, temos uma polarização: ou há livros muito acadêmicos, para um público ultra-especializado, ou há obras tão generalistas que se tornam muitas vezes banais. Em mercados como o dos EUA e da Inglaterra, por exemplo, é grande o nicho para livros de não ficção como o seu, que atende a um público que não é ultra-especializado mas que também não é completamente leigo. Como encontrar a medida exata? “A medida quem dá é o leitor. Nos países de língua inglesa o elevado grau de instrução formal gera maior quantidade de leitores. A maioria não é especializada, o que permite a construção de um mercado de livros com essa embocadura. No Brasil, lê-se muito nas universidades e por isso há mais livros de corte acadêmico. Mas, aos poucos, e com a ajuda de jornalistas como  Ruy Castro, Fernando Morais, Laurentino Gomes e outros,  o brasileiro vai descobrindo que a história pode ser contada de outra maneira.”

Seu texto sempre foi muito elogiado. Pode contar como se deu o percurso –de leituras, de experiências– para chegar até ele? “O caminho passa pela leitura, não há atalho. Algumas leituras ajudam mais que outras. Ler Graciliano Ramos, por exemplo, nos ajuda mais a escrever do que Finnegans Wake, do Joyce. Contos de um modo geral são bons, devido ao esforço de concisão. Até a leitura de poesia pode ajudar a fazer títulos. Com relações a jornais, é preciso fazer uma distinção. Colunistas, articulistas e muitos repórteres escrevem bem, em geral. O texto médio do noticiário é que é fraco. Há despreparo, por um lado, mas por outro a segmentação da notícia em pequenos blocos de informação não ajuda a narrativa dos fatos.”

Você fez um caminho que muito jornalista quer fazer, que é sair das redações para publicar livros. “No Brasil é muito difícil viver de livros. Há exceções, os jornalistas que acabei de citar. Mesmo jornalistas que vendem muito bem como escritores, como Jorge Caldeira, têm outras atividades. Quanto a mim, deixei o dia-a-dia do jornal, mas não saí das redações. Além dos livros, continuo escrevendo para jornais e até editando, embora faça isso no meu escritório, em casa.”

Quando você criou a EntreLivros, era alguém de fora dos grupos literários. De que maneira isso foi bom ou ruim para o resultado da revista? O que falta para o país ter publicações literárias longevas, comercialmente viáveis? “Acho que foi bom. Pensei no exemplo do Mino Carta quando aceitei o convite. Se ele fez a Quatro Rodas e nem sabia guiar, talvez eu pudesse fazer a EntreLivros mesmo sem circular entre escritores. A minha vantagem era exatamente a minha deficiência: como não conhecia ninguém, não estava sujeito à pressão natural dos grupos. A revista sempre acolheu todos, independentemente das panelas literárias, o que não é pouca coisa. Editorialmente, considero a revista um sucesso. Mas ela teria de ter sido dimensionada para o público leitor brasileiro, que é pequeno. Como revista de nicho, com uma produção um pouco mais barata, talvez tivesse sobrevivido.”

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Três livros para maio: os novos de Jeffrey Eugenides, Michel Houllebecq e António Lobo Antunes

Por Joselia Aguiar
03/05/12 22:00

Chegam agora às livrarias novos e esperadíssimos romances do americano Jeffrey Eugenides***, do francês Michel Houllebecq e do português António Lobo Antunes. O de Lobo Antunes já está nas lojas, os de Eugenides e Houllebecq, a partir da semana que vem.

Do grande público, Jeffrey Eugenides (1960)  é mais conhecido por sua obra de estréia, “Virgens Suicidas” (1993), adaptada para o cinema por Sofia Coppola.  A crítica a recebeu bem e também aprovou  a seguinte, “Middlesex”, publicada uma década depois –lhe rendeu o Pulitzer, um dos prêmios-referência da ficção americana.

“A Trama do Casamento”, que sai pela Companhia das Letras, é seu terceiro livro, de 2011, quase outra década depois, sobre o amor e a geração desencatada dos anos 1980.

Opiniões se dividem – há quem diga que este é melhor que “Liberdade”, de Jonathan Franzen, festejado em 2010. Gosto mais de “Liberdade”, mas gostei desse também, embora, do mesmo time de novos ficcionistas americanos, goste menos de Eugenides e mais de David Foster Wallace (este post aqui no blog), que aliás Eugenides homenageia no novo livro, na opinião de alguns críticos e leitores –na Ilustrada desta sexta, vá por aqui se for assinante, o autor diz em entrevista ao colega Fabio Victor que o tal personagem, apesar das semelhanças, não é inspirado em Wallace.

 

 Não é uma autobiografia, mas é uma autobiografia. “Sôbolos Rios que Vão”, que sai pela Objetiva, é o romance que António Lobo Antunes (1942), um dos principais nomes da literatura portuguesa do século 20, escreveu depois de um câncer em 2007. 

Seu protagonista é ora chamado Antoninho, ora Senhor Antunes, passa pela mesma doença e se recorda de sua vida até ali: da infância, os avós e a menina que não correspondeu a seu amor, à expectativa da morte. Comecei a ler hoje, e já gosto. 

 O título vem de um verso de Camões. É sua vigésima-segunda obra, e diz Lobo Antunes:  “sou cruelmente consciente de que o tempo é escasso. Será que tenho tempo para escrever o que quero escrever? Estou a negociar os livros com a morte.”

Encontrei Lobo Antunes por acaso em Lisboa ano passado, vá por aqui se quiser ler o diálogo aniquilador. 

 

Michel Houellebecq (nascido em 1956 ou 1958, há controvérsias) levou o Goncourt por este “O Mapa e o Território”, que, bastante esperado, é publicado agora pela Record.  O livro é ao mesmo tempo uma crítica ao mercado de arte, à mídia e às novas tecnologias.

Com a obra de Houellebecq, escritor francês apreciado por crítica e leitores há mais de uma década, nunca simpatizei muito, porque sou mais um daqueles seus detratores que o acusam de racismo e misoginia. Não, não estou confundindo  narrador com autor, eu sei bem o que quero dizer.

Reconheço, porém, que o cara tem seus admiradores, que, por sua vez, têm seus bons argumentos para defendê-lo, como defendem bastante bem “Partículas Elementares” e “Plataforma”,  seus títulos mais conhecidos.

Gente cuja opinião eu respeito bastante leu e aprovou. Experimente, leitor!

(Ano passado, o autor desapareceu por uns dias, e não foi a um festival europeu onde era esperado, depois disse que esqueceu que precisava ter ido, mais uma de suas polêmicas que rendeu na imprensa: para quem não se lembra, vá por aqui)

 

***ATUALIZAÇÃO às 10h40 de 04/05 – Jeffrey Eugenides não vem para a Flip, diferentemente do que postei ontem à noite. Confusão do blog. Quem está confirmado é Jonathan Franzen.

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Confetes na Eira, Franca Treur e o poder dos livros

Por Joselia Aguiar
02/05/12 11:13

“Confetes na Eira”, romance de estreia de Franca Treur, menos de 30 anos quando o publicou em fins de 2009,  fez sucesso imediato em sua Holanda natal: vendeu mais de 150 mil exemplares, número extraordinário para um país pequeno –número ainda mais extraordinário no Brasil, em que um romance de estreia já é bem-sucedido se for vendida toda a primeira edição, de 3 mil exemplares. 

A trajetória de best-seller, que agora vai ser adaptado para o cinema, pode levar o leitor a pensar que se trata de um desses livros que andam na moda, romântico açucarado, pornô soft ou chocante, suspense noir quase macabro.

Amanhã (quinta), dia 3/5, Franca Treur conversa com Ronaldo Bressane na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis. A atriz Bel Kowaric vai fazer leitura de trechos do livro. A entrada é gratuita, vá por aqui para encontrar o convite

No extremo oposto disso, transcorre lenta e delicadamente a narrativa dessa família que planta trigo e cria vaca leiteira numa região rural do litoral holandês, com a rotina estritamente controlada por rituais e preceitos de uma das alas mais conservadoras da igreja calvinista. O extraordinário passa quase despercebido, e ao fim do último capítulo é inevitável retornar a várias das cenas para recompor os sentidos em seus desvãos.

Daqui, vemos a Holanda como um lugar tão cosmopolita e liberal que até permitia o consumo de marijuana nos chamados coffee shops –permitia, verbo conjugado no passado, pois desde a última semana só os que são comprovadamente residentes podem manter o hábito, não mais visitantes, uma medida do governo local sob pressão da União Europeia para deter parte do explosivo turismo de drogas.

A primeira coisa que perguntei a Franca Treur, durante a conversa no último fim-de-semana na Flipoços, é se, assim como nós, os leitores da Holanda se surpreendem ao conhecer essa parte do país que não se sabe que existe. 

A autora me respondeu que sim, até se sabe que existe essa parte do país, mas de fato quase não se conhece nada do pensamento e do cotidiano dessas famílias, cujas novas gerações são até mais conservadoras do que eram os próprios pais no passado. 

Leitores e jornalistas holandeses, como  fazem os brasileiros, tentaram buscar o teor autobiográfico da história — a personagem principal, uma menina entre seis irmãos, não tem lugar na divisão do trabalho nem nas conversas familiares, e seu refúgio são os livros, vistos com suspeição pela sua religião. A leitura de “Confetes na Eira” foi questionada na pequena comunidade de onde Franca saira para formar-se em teoria literária e viver em Amsterdã, primeiro como colaboradora nas páginas de livros dos jornais, agora como escritora em tempo integral, concentrada na próxima obra. Após acalorado debate na cidade onde ainda reside a família Treur, concluiu-se que poderia ser permitida a leitura –se fosse ofensivo, ou ao menos um pouco mais duro, o romance teria sido proibido, mas soa tão candidamente que causa desconcerto.

Franca Treur fez um romance sobre o poder dos livros, a razão de poetas e escritores representarem perigo em sociedades rígidas e ditatoriais, o modo como a imaginação opera sobre a vida — o ato de criar histórias, aqui, é tão transgressor como é o de comer em “A Festa de Babette”, para lembrar de outra moça daqueles mares do Norte, a dinamarquesa Karen Blixen quase um século atrás.  O mundo mudou bastante, mas continua igual.

***

Antes e depois da mesa na Flipoços, a conversa prosseguiu: simpaticíssima, andando com suas havaianas pelas ruas de Poços de Caldas, a autora me contou que gosta da ficção de Elfriede Jelinek, Etgar Keret e Margaret Atwood. Aprendeu um pouco de nosso idioma com uma amiga portuguesa que vive em Amsterdã, mas não o suficiente para ler no original os autores que descobre agora, Guimarães Rosa e Rubem Fonseca. Perguntou sobre livros brasileiros, explicou diferenças (e alguns estranhamentos) entre os holandeses e os alemães. E me disse que não, não podia prever que viraria best-seller (ao contrário do que parece responder numa entrevista que circula na internet, mais um caso de “lost in translation”).

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Flipoços, Bienal do Amazonas, Festipoa e outras festas literárias

Por Joselia Aguiar
26/04/12 13:12

Mal acaba a primeira Bienal do Livro de Brasília, que trouxe ao país gente conhecida não só pela importância do que escrevem mas também pelo que dizem e fazem como cidadãos, um deles o poeta argentino Juan Gelman, a ficcionista e ativista americana Alice Walker e o Nobel nigeriano Wole Soyinka,  por aqui até o site oficial,  e logo começam mais duas feiras/festas literárias.

A partir deste feriadão e na semana seguinte, ocorrem a Flipoços, em Poços de Caldas, interior mineiro, vá por aqui até o site oficial, e a Bienal do Livro do Amazonas, em Manaus, no nosso tão distante Norte, vá por aqui.

Faz uma semana, em Porto Alegre, realiza-se sua Festipoa, por aqui.

Eventos literários têm se multiplicado no país e são hoje 200, com vendas de livros que devem crescer 20% este ano pelos cálculos da Fundação Biblioteca Nacional, informa o jornal “Valor Econômico” de ontem, texto disponível por aqui para não-assinantes.

Numa conversa informal pelo Twitter hoje cedo, veio o assunto: só bastam crescer em número e vendas, não têm de se aperfeiçoar na formação de leitores? Claro que sim, mas antes é preciso que existam, certo? Durante muito tempo –e, graças!, um pouco menos nos últimos anos, possivelmente porque nos acostumamos– as feiras literárias eram quase que combatidas, como se fossem alguma excrescência num território tão poético e nobre como o dos livros. 

Deu no que deu: nosso número de leitores de livros nunca cresceu como o do número de alfabetizados, ou seja, o índice de leitura é pífio (menos de dois livros inteiros por ano, por habitante) não só porque até outro dia éramos um país de muitos analfabetos, mas porque muita coisa deixou de ser feita, em termos de políticas públicas, para promover a leitura.

As feiras são a única coisa a fazer? Claro que não. Mas antes que algum participante use o palco para recriminá-las –sim, isso acontece!–, convém que apresente no mesmo ato um ótimo plano B, C ou W, que inclua levantamento de custos, logística e previsão de resultados. Como diz o povo sabiamente: falar é fácil. Precisamos de ideias e ninguém apresenta, só reclama.

Como convidada da Flipoços, sigo amanhã para conhecer essa, segundo dizem, agradabilíssima cidade mineira  –me digam qual cidade mineira não é agradabilíssima. Na abertura, haverá mais uma participação histórica do crítico literário Antonio Candido,94 anos  –na foto que abre o post, ele está ao lado de Gisele Corrêa Ferreira, a curadora. Ano passado, Candido foi à Flip, que desde sua estreia, há dez anos, tentava levá-lo até Paraty.

Uma atração internacional comparece este ano, Franca Treur, autora holandesa, numa mesa de que serei a mediadora. Nos próximos posts, contarei aqui sobre a conferência de Candido e a conversa com Treur, que lança “Confetes na Eira” pela Livros de Safra, uma jovem editora paulistana.

Na Bienal do Amazonas, entre os convidados do exterior, há o português Valter Hugo Mãe –será que vai repetir a performance da última Flip?– e o argentino Andrés Neuman. À distância, vou tentar contar aqui um pouco do que acontecer por lá.

 

ATUALIZAÇÃO às 14h10 – Via “Publishnews”, leio sobre mais dois eventos nos próximos dias: a segunda edição do Festival Literário de Votuporanga (FLIV), no interior de São Paulo, e a 1ª Odisseia de Literatura Fantástica, em Porto Alegre.

Post de ontem no blog: Bibliotecas e formação de leitor, uma conversa com Felipe Lindoso

Post do mês passado no blog: Entrevista com Juan Gelman, sobre poesia e política

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Bibliotecas e formação de leitor: uma conversa com Felipe Lindoso

Por Joselia Aguiar
25/04/12 10:37

Felipe Lindoso, cientista social especializado em políticas para o livro e a leitura,  é autor de uma das poucas obras*** que debatem o caso brasileiro,  “O Brasil pode ser um país de leitores?”, publicado pela Summus –desde 2008, quando o li, andei recomendando, presenteando e emprestando, até perder o exemplar que tinha na estante (!).  Enviei perguntas para Lindoso sobre Bogotá, onde ocorre desde o último dia 18 e segue até dia 1 de maio, a feira do livro que tem o Brasil como país homenageado (aqui, o site oficial). A conversa seria sobre internacionalização da literatura brasileira (aqui, post em que tratei disso no blog), mas enveredou por outro assunto, também importantíssimo, sobre a experiência colombiana para aumentar índices de leitura. Bibliotecas ativas e muito visitadas: esse parece ser o ponto.

Para quem quiser acompanhar o que escreve Lindoso: vá por aqui para chegar até seu blog O Xis do Problema, e por aqui, até sua coluna no “Publishnews”.

“Os brasileiros e o papel da leitura”: nesse texto, publicado pelo “Prosa e Verso”, do jornal “O Globo”, Lindoso comenta os resultados da recente edição da pesquisa “Retrato da Leitura no Brasil” –ainda vou comentar sobre a pesquisa no blog.

 

De Bogotá, quais são suas impressões sobre como nos veem da América em língua espanhola? “A receptividade aos autores brasileiros é bem grande. Pela primeira vez em uma feira regional, vi alguns editores brasileiros por aqui tentando vender direitos de seus autores, o que é sinal de uma mudança de comportamento. Mas é cedo para ver no que isso vai dar. Por outro lado, muitas editoras não mandaram livros. A expectativa é que, quando a maioria dos autores, inclusive os da nova geração, chegarem, que isso gere mais matérias de imprensa, inclusive de rádio, que é muito importante no país. Os  primeiros dias foram marcados por muitas atividades na área profissional, com um interessante seminário promovido pelo Cerlalc [órgão da Unesco para leitura na América Latina], “Todo Empieza en un Libro” [tudo começa com um livro], com o público colombiano. Editores, estudantes de comunicação e também livreiros etc. fizeram  muitas perguntas sobre o mercado editorial brasileiro. As feiras, como sempre digo, são um momento de festa. O importante são as ações de continuidade. Veremos o que resultará das negociações começadas aqui.” 

Há dias, por meio de carta e agora petição online, membros do colegiado setorial do livro, leitura e literatura vêm reclamando de que existe menos verba para formação de leitores, porém mais verba para a internacionalização da literatura brasileira. Como explicar os resultados que o incentivo à tradução de autores brasileiros vai trazer para o país, que está tão atrasado nisso? “A questão da difusão da nossa literatura no exterior às vezes é mal compreendida. Tem gente que quer contrapor isso às demais políticas. Uma coisa não têm nada a ver com a outra. Ou, aliás, tem a ver com aquela mentalidade derrotista que o Nelson Rodrigues falava: a mentalidade de vira-lata. A difusão da nossa literatura no exterior não traz benefícios diretos para o leitor brasileiro. Mas traz para o país: temos o que dizer nesse concerto mundial de ideias. Conhecemos uns aos outros através da literatura. Como antropólogo e como leitor sei que ler os livros de José Maria Arguedas foram importantíssimos para minha compreensão do Peru. Como pode alguém achar que é bobagem nos esforçarmos para dar a conhecer ao mundo as nossas experiências? E, diante da avassaladora predominância dos americanos, a ação de políticas públicas é importante para que isso aconteça, ajudando na tradução, sem privilégios e preconceitos. Eu também quero mais recursos e mais ações continuadas para as outras áreas do livro e da leitura, mas acho cretinismo querer contrapor uma coisa à outra.”

A Colômbia sempre foi um exemplo de políticas públicas para promoção da leitura, com resultados louváveis. O que falta o Brasil fazer? “A Colômbia não é o país com maiores índices de leitura da região (quer dizer, não se tem pesquisas sérias sobre Venezuela, Equador e a América Central), mas saiu de uma situação muito ruim mesmo, com anos de guerra civil, guerrilhas e narcotráfico.  Políticas de leitura só surtem efeito a longo prazo, e combinadas com as políticas para educação. Em todos os países da América Latina (exceção da Argentina, acredito, onde os níveis de alfabetização e leitura são altos desde o século 19), as ações mais consistentes têm, no máximo, duas décadas – a maioria nem isso – e ainda deixam muito a desejar. O que eu gostei de ver na Colômbia foi uma decisão política – que se reflete em institucionalização e orçamento – que não se vê em outros países da região.

Você diria que o que fez da Colômbia um país com índice de leitura maior foi justamente o fato de ter bibliotecas boas, equipadas, com alta frequência? Esse é o “ponto”, vamos dizer assim?  “A Colômbia tem muito que nos ensinar sobre políticas públicas de livro, sob vários aspectos. Um deles é o institucional: existe uma lei que obriga os municípios a terem bibliotecas públicas e orçamento para elas. O orçamento da República tem repasses obrigatórios para a cultura, e em particular para as bibliotecas, tal como saúde e educação. A BibloRed de Bogotá é muito interessante: quatro grandes bibliotecas modernas. Peñaloza, prefeito que iniciou o projeto, teve uma ideia que de certo modo se identifica com os CEUs da Martha Suplicy: é um lugar dignificado, imponente e bonito para o uso das populações carentes. O sistema tem rede, programas estruturados para todas as idades, formação de monitores, integração com as comunidades, etc. Mas a maior biblioteca de Bogotá é a Luis-Angel Arango, que é mantida pelo Banco de La República – taí dinheiro bem empregado – e recebe cerca de 5.000 pessoas POR DIA. Tem que ser em caixa alta para enfatizar mesmo. Repito: 5.000 pessoas POR DIA! Possivelmente é a biblioteca com maior número de atendimentos do mundo.  A Biblioteca Nacional administra a rede de bibliotecas municipais, e o Ministério da Educación tem também uma rede de bibliotecas escolares. Como sempre, ainda fala muito. Mas a decisão política de fazer política de acesso ao livro foi tomada (e por um presidente ultraconservador, o Uribe) e está sendo mantida.”

 

***ATUALIZAÇÃO às 17h – Por excesso de cautela, não disse que “O Brasil pode ser um país de leitores?” é praticamente único. Além dele, há um estudo de Fábio S. Earp e George Kornis  para o BNDES, “A Economia da Cadeia Produtiva do Livro” (vá por aqui, disponível em PDF), e a pesquisa “Retrato da Leitura no Brasil” (vá por aqui, para consultar a mais recente e as anteriores, também disponíveis em PDF).  Onde estão nossos talentosos economistas, cientistas sociais, administradores etc com mais estudos bacanas sobre o setor do livro no Brasil? Por favor, me avisem se houver mais títulos.

Sobre a imagem que abre o post: “desgraçadamente”, como diriam nossos hermanos em expressão que sempre soa para nós muito mais trágica do que para eles, não pude encontrar a marca da feira deste ano, que é a de número 25. Só encontrei essa da 24. É o tipo de informalidade que um blog permite, ufa.

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Ora, bolas! O chiclete e a cultura pop

Por Joselia Aguiar
24/04/12 09:33

Hábito de antigas culturas das Américas, o ato de mascar se tornou indústria com o pioneiro Thomas Adams nos Estados Unidos de fins do século 19.

No Brasil, a primeira fábrica da Adams é montada em 1944. O consumo do chiclete por aqui começa, porém, anos antes, com os marines americanos nas bases militares instaladas no Nordeste brasileiro durante a Segunda Guerra.

Uma década depois, a Adams passa a ter concorrentes brasileiros, como o Ping Pong, feito sob medida para o público infantil, que podia fazer imensas bolas com a borracha açucarada.

Em comerciais de TV e revistas, álbuns de figurinhas, canções, o chiclete vai se firmando na vida brasileira não só como produto, mas como “atitude”, como dizem os que estudam psicologia e comportamento. O Brasil é o terceiro maior consumidor mundial, atrás dos EUA e da China: a cada dia, são mascados 18 milhões de unidades, o que movimenta R$ 1,8 milhão em vendas, R$ 650 milhões ao ano de faturamento bruto.

Encontro essa trajetória, que combina negócio, propaganda e cultura pop, no delicioso “Ora, Bolas – A inusitada história do chiclete no Brasil”, que o jornalista Gonçalo Jr. lança hoje, às 19h, na Comix, em São Paulo. O livro sai pela Alameda Editorial, jovem editora paulistana com um catálogo em que predominam história, ciências sociais e estudos literários.

Conheço pouca gente que, como Gonçalo, tem tantas ideias e capacidade de realizá-las  –porque há uma distância abismal entre ter ideias e realizá-las–, mesmo que isso signifique pesquisar temas sobre os quais não existe bibliografia, muito menos fontes acessíveis ou imaginadas (ou seja, que não foram vistas anteriormente como fontes para o tema).

Dois exemplos são o impressionante “A Guerra dos Gibis”  (Companhia das Letras), uma história da imprensa brasileira, da censura e da repressão, sob o ângulo dos quadrinhos, e “Enciclopédia dos Monstros” (Ediouro), um catatau sobre a presença desses bichos estranhos na cultura pop. Aguardo com ansiedade sua biografia de Assis Valente (Civilização Brasileira), esse gênio da música popular brasileira; a obra está prevista para o segundo semestre.

 

O livrinho inclui álbum de imagens, como essa que publico abaixo.

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