Lucio Cardoso, centenário hoje: livros e vinho branco
14/08/12 11:35
Lucio Cardoso completaria cem anos hoje — neste 2012, tão centenário quanto Jorge Amado e Nelson Rodrigues.
Mineiro radicado no Rio, era amigo e confidente de Clarice –como estou fora de São Paulo, vou ficar devendo, prometo depois publicar aqui algum encontro entre os dois em páginas de jornal ou revista que eu tenha no meu arquivão. No último post, a conversa era entre Clarice e Jorge.
O autor, mais conhecido por seu romance “Crônica de uma Casa Assassinada”, tem outras grandes facetas a ser exploradas, como a de poeta e pintor. Ano passado, na ex-coluna/blog contei das publicações que iriam sair relacionadas a ele, vá por aqui. Ésio Macedo Ribeiro organizou sua poesia completa, já publicada pela Edusp — por aqui –, e seus diários, que têm nova edição do grupo Record até o fim do ano.
Coisas novas que também saem até dezembro: seus contos inéditos, escritos entre 1930 e 1950, vão chegar em dois volumes, reunidos por Valéria Lamego –vá por aqui. As pinturas e desenhos, organizados por Andréa Vilela, também vão virar livro. Beatriz Damasceno lançará sua tese sobre os últimos anos de vida.
Esta noite, no bar Lagoa, no Rio, moradia na década de 1950 (há um edifício em cima do bar, não é só metáfora), seus leitores e pesquisadores se encontram para um brinde –de preferência, com vinho branco, bebida do autor.
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A Casa de Rui Barbosa promove seminário + exibição de filme no próximo dia 27, a partir das 15h, com entrada livre, convite abaixo.
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Nos comentários, Denise Bottmann nos lembra que Lucio era bom tradutor; faltou registrar. Alguém estudou o Lucio tradutor? Se sim, conta aqui.
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Atualização no dia 15/08- Vá por aqui para ver livros traduzidos por Lucio Cardoso, no blog de Denise Bottmann.
Sobre os comentários da Denise acerca da Crônica: Muito boa lembrança. Lúcio foi muito mais admirador de Poe do que de Dostoievksi e no prefácio aos contos escrevo um pouco sobre essa relação.
Sobre os livros da irmã do Lúcio Cardoso, Maria Helena Cardoso, a Lelena, além de “Por onde anda meu coração”, de mémórias, ela escreveu também o pungente “Vida vida” no qual descreve toda a doença do irmão mais moço, Lúcio, até os dolorosos dias de sua morte em setembro de 1968. Foram seis difíceis anos.
Ela ainda deixou um manuscrito que merece ser publicado. E todo o seu acervo, bem como do irmão, foi doado para Casa de Rui.
Dentre as vias interessantes e ainda não completamente percorridas de acesso à obra de Lúcio, está a presença de Nietzsche (ou melhor: sua moral além do bem e do mal) no protagonista de “Inácio”.
Lúcio era mineiro de Curvelo. O pai topógrafo chegou a Curvelo, fazendo a topografia da Central do Brasil. Casou-se com uma curvelana que morreu tuberculosa e em seguida com a amiga que cuidou da primeira. Teve 4 filhos. Uma escritora de um só livro e magistral “Por onde andou meu coração” outro político e outro médico.
Carlos, e você é certamente de Curvelo, acertei ? 🙂
Para registro: Foi Maria Helena Cardoso a autora de “Por onde andou meu coração”, livro de memórias publicado em edição própria em 1967 e pela José Olympio já em 1968 (Col. Sagarana, v.70)
“Por onde andou meu coração”, de Maria Helena Cardoso, foi o livro que inspirou,a partir do título, Paulinho Da Viola no samba “Foi um rio que passou em minha vida”. A informação é do próprio sambista na entrevista a O Pasquim e a outros jornais. Bom gosto e sensibilidade fina do genial Paulinho.
a crônica da casa assassinada tem como inspiração direta o conto de edgar allan poe, “the fall of the house of usher”. sobre isso há vários estudos. de tradução tem os poemas da emily brontë (única coisa que ela escreveu além do morro dos ventos uivantes), que ele traduziu para aquela coleção lindinha da josé olympio, a rubaiyat, com o título de “o vento da noite” (1944). legal ainda uma tradução e adaptação teatral que ele fez do “tell-tale heart”, também do poe, para a peça que ele montou em 1947, com o título de “o coração delator”. tem “orgulho e preconceito” da jane austen, que saiu em 1940 (primeira tradução da austen no brasil!), que tinha sido vergonhosamente copiado pela nova cultural em nome de “enrico corvisieri”, fraude esta que depois a própria best-seller, da record, reeditou. se eu me lembrar de mais coisas, venho contar :-))
oba!
Lucio Cardoso foi o primeiro tradutor, que se tem conhecimento, de Jane Austen no Brasil.
Em 1940 traduziu Orgulho e preconceito para a editora José Olympio. Foi o primeiro livro da coleção Fogos Cruzados.
Raquel,obrigada, apareça.
e bom tradutor também!