Flip 10 : 12 argumentos a favor de Jonathan Franzen
08/07/12 23:08Seis horas de estrada de Paraty a São Paulo me fizeram encontrar 12 argumentos a favor de Jonathan Franzen.
(O título chamativo é só para provocar a audiência; óbvio que Franzen não precisa de argumentos a seu favor, muito menos do blog.)
Os argumentos vêm do próprio Franzen. Para quem não gostou ou não entendeu o que ele disse em sua mesa na Flip —vá por aqui–, recomendo os 12 ensaios do volume “Como ficar sozinho”, que acabou de sair e consegui ler em sua maioria durante a viagem.
Sem imaginar que Vila-Matas involuntariamente o defenderia na noite seguinte —por aqui–, Franzen deixou tudo escrito, para que não fosse preciso vê-lo, e sim lê-lo.
A todas as perguntas que lhe fizeram na última sexta-feira, o romancista já respondera muito sofisticadamente, o livro é a prova material.
A começar por aquelas quatro que, brincou o mediador, ele pediu para que não lhe fizessem: 1-quais são suas influências? 2-quando você trabalha e o que você usa para escrever? 3-você controla os personagens ou eles assumem o controle? 4-sua ficção é autobiográfica? Das quatro trata o ensaio que começa na pág. 270, “Sobre ficção autobiográfica”.
A implicância com Facebook, Twitter etc –que coloca sob o conceito de tecnoconsumismo, a teleologia da techné — é bastante bem explicada em ensaios como o incrível “A dor não nos matará” e “Só liguei para dizer que te amo”, que começam nas págs 9 e 20.
“O cérebro do meu pai”, pág . 63, é talvez o ensaio mais pungente; conta os anos em que conviveu com o sofrimento do pai com o mal de Alzheimer. Tão bonito quanto esse, há “Mais distante”, pág. 233, em que, enquanto pensa em Robinson Crusoé, do clássico inglês de Daniel Defoe, e em David Foster Wallace, o amigo que se matou, trata do sentido da própria literatura –é onde também discorre melhor sobre por que entreter é qualidade, e não um defeito, para um romance, mesmo um romance de “literatura a sério”, como diz (é uma outra definição para entreter, diferente da que adquiriu por aqui).
A antologia tem focos de leveza também. Como na divertida defesa da contista Alice Munro, canadense que é pouco conhecida mas que ele considera autora enorme: encontra-se em “De onde vem essa certeza de que você mesmo não é o mal?”, último ensaio, a partir da pág. 308.
Um trechinho: “Ela não dá aos seus livros títulos grandiosos, como Pastoral Canadense, O Psicopata Canadense, Canadá Púrpuro, Canadá, Terra de Sonhos ou Complô contra o Canadá.”
Gozação, na maior parte, com Philip Roth.
Adiante, mais sério do que engraçado: “Uma ficção melhor pode salvar o mundo? Sempre há um fiapo de esperança (coisas estranhas realmente acontecem), mas a resposta é quase certamente não. Há uma chance razoável, no entanto, de que a ficção possa salvar nossa alma.”
Pois é, leitor, Franzen, que quase passou por freak, também pode ser edificante.
Josélia, seus posts sobre Jonathan Franzen me instigaram a ler “liberdade”.Como disse o professor Julio vc sempre acha o tom adequado p/ trazer o mundo dos livros até nós. Abraço!
obrigada! Se ainda der tempo, sugiro que leia antes “As Correções”.
Sugestão anotada!
Eu gosto do Franzen, apesar de tudo (e por “tudo” eu me refiro, basicamente, àquela declaração infeliz que ele deu sobre a Jane Austen, ou algo do tipo). Vi a mesa dele online e fiquei com a impressão de que, mais do que ele, a plateia estava esquisita, meio hostil. Você, que estava lá, acha que rolou isso mesmo?
E acabo de colocar “Como ficar sozinho” na lista de “próximos livros a ler por influência da última Flip” – lista que não para de crescer… 🙂
Beijos
Gabi, não sei se hostil. Talvez o público não soubesse bem quem ele era. Como sentei nas últimas filas, via o movimento das pessoas saindo. Aconteceu um pouco na conferência do Vila-Matas também, mas menos, pois quem foi já sabia o que ia encontrar. É inevitável me lembrar de quando o Coetzee esteve na Flip. Acho que saem aqueles que ouvem falar que é um “grande escritor” mas não sabem bem quem é, esperam encontrar algum tipo de guru.
Isso de esperar encontrar algum tipo de guru é meio que minha implicância, hoje, com o “balanço da Flip” que tenho lido online: de que foi uma edição morna, sem grandes surpresas. Mas o que se esperava? Que alguém tirasse a roupa em cima do palco, que brigasse com o colega de mesa, que revelasse algum grande segredo, a polêmica só pela polêmica? Não basta ser uma ocasião de celebrar a literatura, de ouvir os escritores? Eu fui à primeira e à segunda edições e foram muito, muito bacanas porque ninguém “esperava nada” além de simplesmente estar perto dos caras, de ouvi-los falar.
(Ou eu é que estou mais chata do que o costume, hoje?)
Gabi, eu concordo totalmente com você. Mas o que fazer? Eu lamento também. Li em algum lugar alguém sugerindo que não se devia chamar “autores que não rendem no palco”. Daí leio em outro lugar alguém dizendo que a Granta brasileira tem muito autor “da academia” (porque há autores selecionados que fizeram ou fazem pós!). Num terceiro lugar, dizem que não tem valor uma conferência, escutar um autor como Vila-Matas lendo o próprio texto, na entonação exata que ele imaginou para a coisa e jamais saberíamos, se ele não o lesse. Enfim, é gente nova demais para repetir tanto clichê, preconceito
Eu já vi outras entrevistas de Frenzen, ele é entediante quase sempre.
E você gosta dele assim mesmo, né, Enaldo? Num dos ensaios, ele diz que só podemos ser amados se mostrarmos como somos. Fora isso, é tudo virtual, você vai ser “curtido”, mas não amado.
Jo,
obrigado pela cobertura da Flip.
Houve muitas, mas a maioria delas foi histérica ou inócua.
Você achou densidade e tom adequados.
Beijos,
Júlio
Julio,obrigada. Ainda tem mais coisa para escrever. A conexão estava muito infeliz em Paraty. Gastava três horas para fazer o que devia levar uma. Apareça 🙂