ABDR X autores X leitores
05/06/12 18:42O blog não voltou ao tema desde que publicou a entrevista do rapaz que criou e administrava o Livros de Humanas, site sem fins lucrativos que compartilhava textos incluídos na bibliografia da FFLCH-USP e saiu do ar depois de uma ação movida pela Associação Brasileira de Direitos Reprográficos-ABDR.
O blog não voltou ao tema 1-um pouco por falta de tempo para encontrar um novo ângulo que ajudasse no debate, 2-um pouco porque acreditava que outros sites e veículos avançariam muito mais.
Sim, houve avanços: Direito de Acesso é o site que reúne agora tudo que sai sobre o tema na internet e no impresso, vá por aqui; no “Globo” do último sábado, um grupo de intelectuais publicou essa carta aberta em defesa ao Livro de Humanas, vá por aqui; num texto hoje do Xis do Problema, Felipe Lindoso reconhece a importância do movimento mas aponta o que considera alguns equívocos da carta aberta, vá por aqui.
O blog acredita que este, se não é o maior, é um dos principais debates culturais do país hoje.
Por tudo o que li até agora e entendi do caso, não me parece que editoras, muito menos autores sejam beneficiados pela ação da ABDR. Ao contrário.
Não creio que o direito autoral ou comercial deva ser completamente abolido; apenas que há muitas nuances aí, e, enquanto não se encontra uma solução nova e inteligente para esse impasse, os mais prejudicados são os leitores.
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O episódio desta tarde: o professor José Luiz Fiorin informou a interlocutores do movimento em defesa do site Livros de Humanas que não sabia que ele e seu livro eram citados na documentação reunida pela Associação Brasileira de Direitos Reprográficos-ABDR.
Fiorin disse que não autorizou nenhuma ação jurídica em seu nome nem de seus livros. E também afirmou ser contrário à ação da ABDR e a qualquer iniciativa que perturbe a difusão do conhecimento.
Por que o conhecimento não pode ter um preço? A comida que comemos tem preço! A água que bebemos tem preço! O transporte que utilizamos tem preço! A escola ou universidade (quando privada) que estudamos tem preço! Por que apenas o livro ou outras formas de manifestação do pensamento não tem preço?
É realmente curioso como as pessoas querem se formar como bons profissionais e não querem pagar nada por isso ou esperam que o Estado arque também com essa despesa.
Esse blog ou jornal que estamos acessando tem livre acesso? Sim, tem. Mas quem paga o salário da blogueira/jornalista? A propaganda que está sendo utilizada no site!
No caso do editor, quem paga o seu salário senão a venda do livro?
Como produzir bons livros, traduzi-los revisá-los se a atividade não for remunerada?
Se houver respostas plausíveis para esses questionamentos, podemos todos sermos favoráveis a continuidade de um site que usa ilegalmente de alguns livros.
Caso contrário, a proibição deve ser mantida.
Por que o editor não tem direito a ganhar dinheiro, a ter família, a ter lazer, a ir a feiras, a contratar tradutores e revisores?
Os leitores deste blog querem livros produzidos exclusivamente pelos próprios autores, sem qualquer revisão? Sem qualquer avaliação técnica sobre o conteúdo?
Não acredito.
Penso que o papel do editor (da editora) é fundamental na escolha do conteúdo, no trabalho sobre ele e na sua divulgação. Por isso, os livros produzidos devem ser pagos e não copiados e colocados à disposição gratuitamente.
Na próxima vez que o leitor descobrir um site com livros com direitos protegidos reflita um pouco!
Há ali trabalho de pessoas que estudaram, estudam e se aperfeiçoam para fazer um bom trabalho.
Desconsiderar esses fatores é não reconhecer que o conhecimento tem um valor. E é este valor que alimenta editores e editoras.
Francisco, não se trata de ser a favor ou contra “em bloco”. Creio que há muitas nuances e ia ser ótimo que nossas inteligências funcionassem um pouco mais para resolver, de modo que todos ganhem, leitores, autores, editores. O que me parece, mesmo, é que enquanto todo mundo briga sem se entender (sem tentar se entender), os beneficiados são outros, não leitores, autores, editores.