O barco de Hemingway, a cartografia do tempo e as receitinhas dos escritores
27/05/12 12:31Flavorwire, vá por aqui caso não se lembre (!) do que se trata, era talvez o site mais citado e recomendado nos posts do antigo blog.
Costumo ser fiel às preferências, mas as tais listas de dez autores que isso,os dez livros que aquilo, deixaram de ser inesperadas, perderam um pouco a graça. Como fazem isso aos montes, às vezes o resultado sai um pouco forçado.
O meu favorito do ano, e acho que por muito tempo, é o Brain Pickings, vá por aqui caso não se lembre (!), e só não cito e recomendo mais o site da Maria Popova porque este novo blog tem um formato um pouco diferente do outro, que reunia mais curiosidades, miscelâneas e insignificâncias importantes.
Quando navego por sites como Flavorwire e Brain Pickings me comporto como aquele típico comprador da era digital, de perdas que parecem invisíveis mas produzem somas acachapantes. Em meia hora baixei dois livros pelo Kindle e encomendei um terceiro, vai ter de vir impresso pois não há sua versão em e-book. E quer saber? Acho que, dos três, era mesmo o que precisava ter numa edição tradicional.
A primeira aquisição do dia é esse da imagem acima, pois adoro Hemingway e barco (a metáfora!). Já queria comprar o livro desde o ano passado, e hoje, ao visitar a Flavorwire, me bati com ele nessa lista de dez livros ‘do momento’ para ler na praia (vai começar o verão lá em cima), e agora acho que Paul Hendrickson, o autor, vai me ajudar muito mais do que pensava, mas isso é outra história, para contar ao leitor daqui a dois meses.
O que tive de encomendar –e vejo que será bem melhor tê-lo em mãos que possam folheá-lo à antiga — é este aí do lado direito.
“Cartografias do Tempo“, de Daniel Rosenberg e Anthony Grafton, conta a história da representação gráfica que o Ocidente faz da passagem do tempo desde o século 15. Não bastava ser incrível, é também lindo de morrer.
A obra é parte de uma lista que inclui seis outras sobre mapas, alguns bem pouco convencionais, feita pelo Brain Pickings, vá por aqui.
Baixei também este último à esquerda, “Household Tips of the Great Writers“, com receitinhas de comidas e dicas de cuidados com a casa e o jardim dados por escritores.
Não é tão bacana quanto pensei; parte da minha decepção é ver que o autor, Marc Crick, que fez outras coisas no gênero, bolou a coisa toda baseado no que imaginou para Virginia Woolf, Kafka, García Márquez, Steinbeck etc, e eu esperava que as receitas fossem mesmo dos caras, encontradas depois de algum tipo de pesquisa biográfica.
Para quem gosta de livro de receita com essa graça literária, é claro que o livro é divertido.
Aqui vai o frango vietnamita à la Graham Greene (que andou por lá e outras bandas), tradução minha com algum risco de barbeiragem vocabular-gastronômica.
Os ingredientes são meia colher de chá de raspas de limão, três dentes de alho, duas colheres de sopa de molho de peixe (cozinheiros, molho feito em casa ou algo que se compra pronto?), uma colher de sopa de oleo de soja, uma colher de sopa de pimenta preta muito cortadinha, uma pitada de pimenta caiena, dois peitos de frango desossados, duas colheres de sopa de xerez, duas colheres de sopa de suco de limão, duas colheres de sopa de oleo de amendoim, uma colher de chá de melaço.
Uma receita não tem começo nem fim, diz o autor (concordo entusiasticamente, e também não levo muito à risca essas proporções, que podem e devem ser mudadas).
A única coisa de que o leitor precisa saber, para o post não se alongar muito, é que o xerez deve ser colocado no finzinho, quando o prato já estiver praticamente pronto no fogo.
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Sobre Livros de Humanas, bibliotecas digitais, compartilhamento x pirataria: o blog vai voltar em breve ao tema, tratado no post do último domingo.
Olá cara Josélia. Certa vez lí “O velho e o mar” e jamais esqueço a emoção deixada por sua leitura. Tão impactante quanto “o velho e o mar’ foi ‘A metamorfose’ de Kafka, que me marcou profundamente e me fez compreender a natureza humana, tal como ela é.
Josélia, boa tarde. Gostaria de dizer que seu blog é ótimo. Para mim que sou um devorador de livros é muito bom ver suas reportagens. Bom, o que falar de Hemingway? Posso apenas te dizer que foi o meu primeiro autor favorito… Quando li o velho e o Mar, e senti as mesmas amarguras que “Santiago”. Eu me vi neste mar imenso que é a vida, com meu barquinho e um grande peixe. E agora fiquei pensando neste livro. Hemingway e o barco. O autor enfrentou o grande mar: sua vida; (sabemos o que ocorreu), e agora o barco! Seria o barco a metáfora do seu trabalho!!!Foi a sua maneira de guiar-se neste mar que a vida?.
Parabéns pelo blog.
Abraços fraternos.
Danilo Pereira
Danilo, obrigada pela leitura. Ele gostava de barco e pescava muito no Caribe, você deve saber. Apareça!
Oi, Joselia
Sabe se o livro sobre Hemingway será publicado aqui no Brasil? Fiquei muito interessado nele. Foi dentro do período reconstituído no livro que ele escreveu As ilhas da corrente, um dos romances de que mais gosto do Papa, apesar de ter sido lançado postumamente.
Abs
Paulo, não sei…Se souber, atualizo o post, tá?
São coisas diferentes! Apesar do nome, o molho de peixe (nam pla) funciona como tempero. É salgado e fermentado, feito com anchovas. Dá uma olhada: http://www.thaifoodandtravel.com/features/fishsauce1b.html
beijos
Josélia, veja que curioso: tenho um livro do Mark Crick chamado “Kafka’s Soup – A Complete History of World Literature in 14 Recipes” em que também aparece o frango vietnamita do Graham Greene – e Kafka (quick miso soup), Woolf (clafoutis grandmère), García Márquez (coq au vin), Steinbeck (mushroom risotto) etc. Será que é o mesmo livro com outro nome e outra capa? (Eu também me decepcionei porque tinha a mesma impressão de você antes de comprar: pensei que ia encontrar as receitas dos caras e, na verdade, o autor apenas emula o jeito de cada um escrever ao dar as receitas.)
Ah, sim, e molho de peixe se compra pronto! 🙂
Beijos
Gabi, pois então, fui procurar a bio do autor e esse livro da sopa de Kafka é um dos títulos anteriores. Então ele juntou algumas receitas a outras dicas de consertar lâmpada e cuidar das magnólias. Sabidinho! E que molho de peixe é esse? Não fica mais gostoso com molho feito em casa?