Livro impresso, PDF, legal ou ilegal? livrosdehumanas.org se defende
21/05/12 00:09Autores, professores e estudantes se manifestam em favor do livrosdehumanas.org em redes sociais desde a última quinta-feira –no Twitter, tem sido usada a tag #freelivrosdehumanas.
O site, por onde se podia baixar gratuitamente um número aproximado de 2.300 livros, saiu do ar depois de ser notificado pela justiça.
À frente da ação está a ABDR – Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, que responsabiliza o site por uma das maiores ações de pirataria já ocorridas no país, prejuízo estimado em R$ 200 milhões.
Essa é a terceira vez que o livrosdehumanas.org tem de sair do ar. Um ano atrás, foi suspenso pelo wordpress, que então o hospedava —vá por aqui para ler a esse respeito no caderno “Prosa e Verso”, do Globo.
Quando estreou, em 2009, o site funcionava no blogspot, até o dia em que o Google lhes avisou que o conteúdo indexado era protegido pela lei americana. Por precaução, os organizadores o tiraram do ar. O endereço ainda está ativo, vá por aqui.
Thiago, moderador do livrosdehumanas.org, aceitou conversar com o blog esta noite, respostas por e-mail.
A medida da ABDR surpreendeu? “Um pouco. Apesar de algumas ameaças da ABDR, nunca imaginei que editoras que publicam livros utilizados basicamente por universitários adotariam estas medidas. Pela movimentação das redes sociais podemos verificar que a perda de credibilidade delas perante o público que consome livros foi imensa. E quem baixava no livrosdehumanas.org é basicamente o mercado consumidor destas editoras. Há muitos depoimentos de estudantes no Twitter ou na nossa página no Facebook que diziam conhecer as obras pelo site e depois compravam o exemplar físico. O PDF não substitui o livro impresso.”
Na entrevista ao “Globo” há um ano você concordava que o blog desrespeitava a legislação vigente. Mudou de ideia? “Depois disso estudei mais a questão e não mantenho esta declaração. Inexiste no judiciário brasileiro condenação por compartilhamento gratuito de livros. O que existe – e são poucas – são decisões contra comércios e prestadores de serviços reprográficos (as xeroxs) dada sua natureza comercial.”
Como espera se defender da ação judicial? “Estou em contato com advogados para traçar a estratégia de defesa. Não posso falar muito sobre isto neste momento.”
Pode contar como surgiu a ideia do site? “Sou estudante, recém-formado e me preparando para o mestrado da Letras-USP. Em 2009 a xerox do curso –ilegal para a ABDR, mas sem a qual ninguém consegue estudar na USP ou em qualquer outra universidade brasileira– aumentou o valor da página fotocopiada para R$ 0,15, acréscimo de 50%. Isto motivou um grupo de estudantes a compartilhar o conteúdo de suas disciplinas em sites como 4shared e mediafire. O blog funcionava como um indexador destes links.”
Como o site cresceu e se manteve até agora? “Com o aumento das visitas para além do público da Letras-USP mudamos o endereço. O site já foi retirado duas vezes do ar anteriormente, quando estava hospedado no blogspot e no wordpress. Para mantê-lo no ar, registramos um domínio no exterior e hospedamos o site num provedor estrangeiro. O acesso a todo e qualquer texto era gratuito. Para manter o site no ar arrecadávamos doações voluntárias para pagar o servidor de hospedagem. As atualizações dependiam do envio de links por parte dos usuários, sejam links de coisas que os usuários escanearam ou que encontravam pela net. Nem toda postagem era de livro escaneado na íntegra. E boa parte dos escaneados na íntegra eram livros esgotados. Além disso indexávamos artigos de revistas acadêmicas, livros em domínio público ou apenas capítulos de obras.”
Pode nos dar números de visitas/downloads? O que era mais procurado? “Não tenho o número de downloads porque boa parte dos links estavam hospedados em contas diversas neste sites de compartilhamento. E como os links ‘caiam’ com regularidade, esta contabilidade ficava prejudicada. O número médio de visitantes únicos diários estava na casa dos 3.500. O público majoritariamente era de estudantes universitários do país inteiro (mas também do exterior) que encontravam no site o conteúdo para seus estudos. Muitos escreviam para o site falando que nas bibliotecas de suas universidades não encontravam a quantidade de títulos que indexávamos no livrosdehumanas.org. Os maiores pedidos eram livros de filosofia e dos mais diversos campos das ciências humanas.”
Chega a 2.300 a quantidade de livros para download? “Provavelmente o número de arquivos é este, um pouco mais ou um pouco menos. Mas ressalto que nem todas as obras são possíveis de processo pela ABDR. Tem título em domínio público, artigos acadêmicos publicados nas mais diversas revistas, livros em língua estrangeira, livros que estão esgotados (e portanto sem contrato com as editoras brasileiras), livros publicados apenas em Portugal, livros de editoras universitárias que disponibilizam ebooks gratuitos (como os da cultura acadêmica da Unesp ou do repositório de livros da UFBa), livros de editoras que não são filiadas à ABDR, livros com autorização dos autores. É tudo mais complexo do que a gritaria da ABDR faz parecer.”
Em defesa do projeto, vi autores e professores no twitter dizendo que suas obras se tornam mais conhecidas com a ajuda do livrosdehumanas; e que, com essa divulgação, vendem mais livros. Quer comentar a respeito? “Acho que os comentários são auto-explicativos.”
Ao mesmo tempo, há editores e autores que se sentem prejudicados com downloads gratuitos. Quer comentar a respeito? “Não vi nenhuma manifestação neste sentido. E não conheço estudo sério e independente que confirme que a cópia digital de livros (ainda mais na área dos livros utilizados nas universidades) prejudique as vendas. Como aponta este estudo do gpopai, são questionáveis os números e a metodologia destas pesquisas, vá por aqui. E aos que acreditam que o compartilhamento é prejudicial aos autores, eu deixo como resposta um depoimento de Neil Gaiman, um grande autor e vendedor de livros, quando provocado a respeito do tema na entrevista que precedeu sua participação na Flip, vá por aqui.”
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Eduardo Viveiros de Castro, Idelber Avelar e outros pesquisadores saem em defesa do livrosdehumanas.org Vá por aqui, até o Opinião & Notícia, para ler mais
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ATUALIZAÇÃO ÀS 15h45 – A editora Cultura e Barbárie publica em seu site carta pública à ABDR, que cita na documentação três títulos seus, afirmando que não se considera representada pela instituição, vá por aqui para ler a íntegra
ATUALIZAÇÃO ÀS 23h – Neil Gaiman, ele mesmo, também saiu em defesa do site, acabei de ver agora no Twitter, de onde reproduzo:
@neilhimself Standing up for #FreeLivrosdeHumanas.
A discussão é grande nos comentários abaixo, recomendo ao leitor também ler as opiniões contrárias; o blog vai voltar ao tema.
Olá a todos,
li os comentários e é lastimável a defesa a pirataria por pessoas que teoricamente deveriam ser mais esclarecidas e menos ignorantes. A pirataria não é boa para ninguém, pode ser que atenda o aluno de imediato, contudo em longo prazo só tende a prejudicar e é massacrante para a educação do país. O raciocínio é simples, os autores publicam suas obras e ganham por ela, tendo os direitos autorais teoricamente garantidos por contrato onde se define se permite ou não a divulgação para ebook, livro digital e etc. Então um infeliz que sem pedir autorização ao autor e colaboradores da obra, digitaliza e põe na internet, só isto já fere os direitos do autor e é ilegal, pois esta replicando uma obra sem permissão, ou seja, pirataria!
Para quem não sabe existe um site chamado minha biblioteca
(http://www.minhabiblioteca.com.br/) que disponibilizada de forma legal e simples conteúdos de livros acadêmicos com baixo custo (essa sim é a verdadeira biblioteca virtual):
Como funciona?
A partir de um valor mensal, as Instituições de Ensino Superior podem oferecer aos seus alunos um ambiente online para leitura dos principais livros acadêmicos do mercado.
Através de um login e senha fornecido pela instituição, o aluno tem acesso ao catálogo de publicações das editoras parceiras do projeto.
A Minha Biblioteca é uma plataforma simples e moderna, que pode ser acessada em qualquer lugar pela internet, através de computadores, aparelhos celulares e tablets.
Ou então, a pasta do professor (https://pastadoprofessor.com.br/portal/):
Como funciona?
O portal pastadoprofessor.com.br permite que as editoras disponibilizem os seus conteúdos de forma fracionada e que os professores criem pastas-do-professor virtuais com a seleção de conteúdo das bibliografias de cada disciplina.
Os alunos e leitores podem comprar os conteúdos que estão nestas pastas de acordo com a sua necessidade, incluindo ou não outros conteúdos também disponíveis na plataforma. Os valores pagos incluem os direitos autorais e editoriais e os custos de impressão da seleção de conteúdos.
Os conteúdos podem ser adquiridos em qualquer Ponto de Venda filiado e homologado, assegurando sempre a melhor relação custo/benefício para os alunos e leitores. Os conteúdos impressos incluem uma marca d’água que identifica o comprador e o Ponto de Venda, ressaltando o caráter pessoal e intransferível daquilo que é vendido através da plataforma.
Agora pensem, com que você gasta de largura de banda de internet para realizar o download do arquivo pirata, mais a impressão, pode muito bem gastar um pouco mais e fazer as coisas de forma mais honesta, melhor, com conteúdos atuais e customizável.
A todos um abraço e sensatez.
Essa e a pior face do capitalismo a sonegacao de informacao, por diversos meios. Quantos estudantes como eu ficaram pelo caminho por perder horas fazendo xerox-podia estar estudando – ou gastar fortunas num livro de calculo que sera usado apenas um semestre em tese.
E AGORA ESSES IMBECIS FICAM DEFENDO A INDUSTRIA DE EDITORAS DO BRASIL E GRATUITAMENTE —–“AOS RICOS GRATUITAMENTE E AOS POBRES POUCO E O MAIS DIFICIL POSSIVEL”
ATE UM MISERAVEL QUALQUER ATIRAR NUM NADEGAS FLACIDAS NO SEU CARRAO EM ALGUM SEMAFORO EM TROCA DE -APARENTEMENTE NADA-.
You are in point of fact a excellent webmaster. The site loading pace is amazing. It sort of feels that you’re doing any distinctive trick. Also, The contents are masterpiece. you’ve done a great job on this matter!
Useful info. Lucky me I found your site by chance, and I am stunned why this twist of fate did not took place in advance! I bookmarked it.
Parece que a maioria das pessoas que comentaram este assunto não têm o menor conhecimento do público que consome produtos piratas: em geral, são pessoas que NUNCA comprariam o produto pelo preço original, pois não lhes seria acessível. Portanto, seu consumo não pode ser considerado como um prejuízo presumido do autor. Em segundo lugar, tem muito lixo sendo consumido só porque os autores são recomendados por editoras, gravadoras, amigos e etc. Em terceiro lugar, compartilhamento sempre existiu, acontece que hoje a internet ampliou as possibilidades, e estamos em um período de transição inevitável. Logo, somente a discussão trará avanços para este processo. Hostilização recíproca gratuita não traz nenhum benefício ao caso.
Acho que uma coisa que fica desse debate é que o aluno de humanas e o apreciador de livros se encontra numa situação no mínimo incômoda, pois não temos muitas possibilidades de acesso formais às obras, devido ao pouco consumo dos mesmos. Simultaneamente, temos bibliografias extensas pra cobrir durante o curso. Como a Thais deixou bem claro existem possibilidades formais de preservar o autor e divulgar suas obras, alias, acho uma coisa maravilhosa o zelo com que ela tem respondido aos comentários. Mas temo que este tema sensibilize apenas quem com ele sofre… que, diga-se de passagem, não representam os interesses hegemônicos deste país. Enquanto isso continuamos penando pra ler, pra comprar livros, pra ir pra faculdade.. Thais, admiro vc e a partir de hj vou pesquisar suas indicações. obrigado e um abraço!
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Acho que o problema com o site é apenas um exemplo de outro ainda maior que ocorre no país. Em tempos de divulgação das pesquisas (Retratos da leitura no Brasil) que apontam, entre diversos pontos críticos, uma queda na leitura e o desconhecimento de grande parte de escritores (Fernando Pessoa é brasileiro etc.) por parte de nossos cidadãos, a ação contra o Livros de humanas é outro balde de água fria. Afinal, se o desejo de todo escritor é ser lido, por que privar conhecimento e, por conseguinte, enfraquecer as pesquisas, sobrepondo a importância do capital gerado pelos livros teóricos – que, vá lá, nem é crucial para a sobrevivência de muitas das editoras? No mais, o compartilhamento também gera lucro – eu, mesmo já li alguns textos pelo site e, motivado pelo conteúdo, acabei adquirindo os livros nos quais eles estavam publicados (o que não faria, caso não tivesse acesso anteriormente).
Classificação Fiscal
É triste o modo como o maniqueísmo contamina todo e qualquer foco de discussão relevante no Brasil…Pontos importantes, como os que a Denise apontou, não são repercutidos, enquanto a ladainha do “contra/favorável”, que despreza propositalmente pontos chaves de lado a lado e aterra a discussão, predomina triunfante.
Neil começa a frase com “dado que de outra forma (os livros) estariam indisponíveis”.
E essa certamente não é a condição dos 2300 livros no livrosdehumanas.
Achar que ninguém perde dinheiro com isso é ilusão pueril. Achar que aumenta as vendas dos impressos é devaneio.
Acho que este tipo de site deveria cobrar um valor simbólico de seus usuários, uma única vez, e repassar a quem de direito. Simples, eficaz, e sem mimimis anti ou a favor da pirataria.
Elisio, instalar uma ferramenta para cobrar valor num site e, depois, toda a operação de distribuir pagamento a quem de direito são processos caros, complicados de realizar, que exigem inclusive experiência no ramo.
como bem disse o entrevistado, “É tudo mais complexo do que a gritaria da ABDR faz parecer”. o que há de obras órfãs e abandonadas, e da maior importância para o ensino universitário, não é brincadeira! o engraçado é que algumas editoras se apropriam de um pseudo copyright que nem existe mais, no caso dessas abandonadas e de catálogos de editoras extintas, e recriam espuriamente novos prazos de proteção autoral. eu pagaria para ver o contrato de cessão de direitos das traduções de lívio xavier ou de paulo m. oliveira, por exemplo – no entanto, estão sendo publicadas como se as editoras que as publicam fossem as detentoras de seus direitos. é urgente a flexibilização e a ampliação do capítulo de exceções da lda para toda e qualquer obra; é urgente a implantação de medidas preservando o livre acesso (já garantido pela atual lda) às obras órfãs e abandonadas.
Oi Renato.
Concordo que o melhor é um meio termo.. concordo que o fechamento dos sites foi um enorme prejuízo.. e sou totalmente a favor do compartilhamento de obras esgotadas ou de difícil acesso.
Mas como já disse inúmeras vezes.. não é só esse o conteúdo dos sites.
Nem me preocupo tanto com as editoras, distribuídoras e livrarias. Acho que a sacanagem é com o autor. Acho que seu trabalho deve ser valorizado.
(Quanto ao depósito de tirinhas, não tenho opinião formada pois não conheço a página. Mas acredito que se trata de uma situação bem diferente uma vez que as tirinhas são originalmente publicadas em jornais, que são distribuídos em grande escala em uma circulação enorme, e isso inclusive costuma estar previsto no contrato firmado com os cartunistas.)
Todos têm a escolha de disponibilizar suas obras gratuitamente e torna-las domínio público. Se não o fazem, acho que essa escolha deve ser respeitada. Pegar a obra “na marra” não é só crime, mas um desrespeito enorme ao trabalho intelectual.
Thais,
É engraçado você me acusar de “burguês” e “filhinho de papai”. Porque a posição do “burguês” diante dessa matéria, convenhamos, é um avanço em relação à sua visão do assunto, que é de “coronel”. Você é o “tipo de gente” (repito a sua expressão fascista, muito reveladora…) que acha que pode colocar uma cerca em torno de qualquer propriedade e impedir até mesmo a passagem dos outros por ali, quem dirá o uso…
Para sua informação (embora você, evidentemente, não mereça esclarecimentos), tenho uma biblioteca física de mais ou menos 10 mil livros (contra uma virtual de menos de 1000, na maioria dos casos repetidos em relação à física, biblioteca virtual esta que utilizo sobretudo para pesquisas rápidas, encontrar citações etc.). Portanto, seu argumento de que prefiro gastar 30 reais num “jantar” etc. do que num livro não procede.
Para sua informação também, todos os meus últimos livros vêm com a nota “O autor permite a reprodução parcial ou integral deste livro por qualquer meio, desde que sem objetivos comerciais”. Isto não diminuiu em nada as vendagens – embora eu esteja pouco ligando para isso. Mas claro que não sou um mascate das letras para quem a conta no banco interessa mais do que a escrita e a leitura.
Fique aí no seu mundo, pequeno, pequeno. Não é um mundo: é um destroço em meio ao oceano. Ele está afundando. Você afundará com ele.
Hahaha e o que tem a ver você ter uma biblioteca com 10 mil livros? Isso só mostra como você realmente é filhinho de papai.
Como já disse, eu não sou NADA contra o compartilhamento de livros com autorização do autor (como esses que você disse que permitem a reprodução parcial ou integral).
É exatamente isso que eu defendo. O compartilhamento com a autorização do autor da obra. Seus comentários são infantis e maniqueístas. Posso afundar no meu mundo mas vou afundar com argumentos racionais.
Você está sendo radical, como se eu simplesmente fosse contra o compartilhamento de informação, ao acesso à informação.
Enfim.. acho que realmente não vale discutir com esse tipo de “retórica”. Se você pleiteia que todos os livros disponibilizados de graça, porque não começa a lutar para que tudo seja de graça? Absolutamente tudo? Mas não.. é muito conveniente deixar aquilo que vai de acordo com seus interesses ter valor quando você quer, e não ter valor nenhum quando vai te beneficiar. Depois eu que tenho visão de coronel…
“você afundará com ele”..para de assistir sessão da tarde.
Estou achando a troca de comentários muito interessante, com visões de mundo bem divergentes.
Entendo que uma boa forma é um caminho do meio, formas de gerenciar que possam dar conta de que quem quer compartilhar, compartilha, que não quer, não compartilha. Penso que não se pode obrigar qualquer um dos dois comportamentos.
Contudo, claramente houve um grande prejuízo com o encerramento do site. Não é tão simples assim fechar um site desses somente em nome dos direitos do autor. Foram apontados casos em que o acesso às obras não eram possíveis.
O interesse maior parece ser em nome de editoras, distribuidoras e livrarias. Creio ser questão de tempo para os vários autores perceberem novos modelos de negócio, trazendo maiores poderes sobre as suas obras, sem transferir grande parte de sua renda para um terceiro, que perdeu várias de suas funções no século XXI.
Como fim, deixo uma provocação para a Thais. Thais, que pensa da página “Depósito de Tirinhas” no facebook? O compartilhamento de tirinhas via rede social é legal? Hoje a página conta com mais de 400 mil “curtidas”. É de fato uma boa circulação diária.
Abraços a todos.
Essa discussão acima só representa a cultura no nosso país de que livro só serve pra limpar o chão.
Tem gente aí em cima que topa pagar 60 reais em um box com filmes originais, mas se recusa a pagar 30 em um livro original.
Isso é a falência da academia, é a desvalorização do trabalho intelectual. Ridículo…
Estamos na contra mão da realidade do estudante. Eu sempre penso assim depois de ficar a noite inteira em uma das melhores bibliotecas da minha faculdade, Florestan Fernandes da USP, procurando títulos que eu nunca acho, isso porque meu curso tem centenas de alunos que compartilham poucas obras, que normalmente eu não encontro nem em lojas… tb, quem mandou estudar filosofia! Enquanto o MIT se esforça pra divulgar o conteúdo de seus cursos, nos fechamos blogs de divulgação de livros… amanhã vou trancar minha matrícula e vou virar concurseiro… ou jogador de futebol.
em suma,
se fosse para levar a sério, NÃO poderiam existir sebos no brasil.
abraço
As ponderações de Thiago me parecem razoáveis, não faz apologia à pirataria, explica claramente o objetivo do “livrodehumanas”. Agora, para mim, ler em pdf é muito chato, fora que épraticamente inviável imprimir um livro por completo.
Alguns livros podem ser melhor em PDF, sobretudo àqueles cujas informações sejam efêmeras. Formalizar um mercado sem pirataria, onde ebooks possam sair a preços bem menores que os impressos, ou mesmo gratuitamente com formas alternativas de garantir o ganho e produção autoral é possível. Sem falar nos super práticos audio-books, que servem ainda ao bom propósito de facilitar o acesso dos deficientes visuais.
Há grandes possibilidades, não é preciso prejudicar os autores.
Thais, fique tranquila. O livros de humanas jamais escaneara o agapinho.
Você é que pensa, lol!
Século XXI manda lembranças à ABDR…
Matando a maior (e recente) conquista à favor da cultura da humanidade: Os Direitos Autorais. Parabéns àqueles que nos jogarão de volta à Idade Média onde autores só tinham o direito é de mendigar mecenatos…
Estas coisas que nos deixam com gosto de radicalização, tamanha a gulodice de tais entidades, que querem deixar-nos no atraso, na ignorância.
Mas a forma como site fez isso, não prejudica apenas as entidades. Elas não são autoras de nada. Existem meios legais de fazer isso, inclusive driblando tais gulodices. Porque não fazer de forma honesta e que realmente ajude a cultura?
Só quem está no meio acadêmico, e aqui ouso dizer nas Humanas principalmente, conhece a dificuldade de formular um trabalho ou uma tese, ter necessidade de determinados títulos e simplesmente não os encontrar. Todo apoio aos organizadores do site, que muito ajudam nós estudantes.
É tão complicado assim promover o mesmo serviço sem causar um precedente que prejudica o direito dos autores? Existem inúmeros sites onde conteúdo é disponibilizado de forma legal. Bastaria seguir o bom exemplo.
Realmente, não está em questão que o PDF realmente não substitui o livro físico. São coisas completamente diferentes.
Mas muitas vezes, o PDF substitui o livro eletrônico, o ebook, que é um mercado que tem cada vez mais dificuldade para crescer.
Escrever no Brasil não é visto como profissão.. é visto como hobby. Não consigo medir o tamanho da violência que é pegar uma obra que uma pessoa demorou anos, as vezes décadas para escrever, e disponibilizar gratuitamente sem qualquer autorização.
Ja ouvi discursos baratos no sentido de que na verdade é exatamente isso o que os autores querem, mas não é. Todos têm a escolha de tornarem suas obras em domínio público e se não o fazem, essa é uma escolha que deve ser respeitada.
Sou completamente a favor da disponibilização gratuita de livros esgotados e até de amostras de quaisquer livros, mas sei que o que se faz nesse tipo de site é algo bem diferente.
“. Não consigo medir o tamanho da violência que é pegar uma obra que uma pessoa demorou anos, as vezes décadas para escrever, e disponibilizar gratuitamente sem qualquer autorização.”
Este não é o princípio da biblioteca? Desconheço bibliotecas que pedem autorização pros autores. Eles vão e compram os exemplares e os disponibilizam gratuitamente. Assim como o site. Nenhum livro escaneado pelas centenas de pessoas que colocam livros na internet foi adquirido de outra forma que não a compra.
Sites como estes devem ser entendidos como bibliotecas públicas.
“Ja ouvi discursos baratos no sentido de que na verdade é exatamente isso o que os autores querem, mas não é”
100% (pelo menos até onde vi) dos escritores, acadêmicos ou não, que se manifestaram até agora se declararam a favor do site.
A grande questão a ser discutida é: A constituição garante o direito à informação e a educação. E nada diz na carta magna que só quem pode pagar deve ter acesso a este conhecimento.
Qual direito deve se sobrepor? o do acesso à informação ou do direito patrimonial (que é majoritariamente de outros que não os escritores, que mal e porcamente recebem de 3 a 10% do valor de capa do livro)
Acho muita prepotência comparar esse site à uma biblioteca.
Primeiro: a disponibilização feita em bibliotecas é completamente controlada. É um número restrito de exemplares (as vezes um único exemplar) e que fica um determinado tempo com cada usuário.
Dois: a legal utilização da biblioteca é somente ler. É pegar o livro e ler. Em nenhum momento ela distribui o livro gratuitamente ou uma cópia integral do livro.
Resumidamente, não há qualquer TRANSFERÊNCIA de propriedade, que é o que acontece em sites como os que foram fechados.
Se o que os autores recebem (entre 3% e 10%) é pouco ou não é, isso é deles por direito. Disponibilizar gratuitamente suas obras certamente não é o caminho para mudar isso.
E se por um lado você tem contato com autores que se manifestam a favor do site, eu conheço pelo menos dezenas de outros que não concordam, e muitos inclusive, que negaram firmar um contrato permitindo a edição de livro em ebook devido a esse tipo de prática.
Obviamente acredito que o direito à informação e a educação deve ser preservado. Querer dizer que quem é contra esses sites é contra acesso à educação e informação é apelar de uma forma muito infantil. Esses direitos devem ser assegurados. Mas não a qualquer preço. Existe gente que luta por uma melhora de políticas públicas, afinal, se é um direito assegurado pelo Estado e não está sendo cumprido, é ele que deve ser requisitado (e possivelmente prejudicado). Não os autores. Porque o governo não compra os direitos autorais e disponibiliza os títulos em instituições de educação pública? Mas ninguém pensa nisso, afinal, é óbvio que é muito mais cômodo sentar a bunda na cadeira e baixar o livro pirata.
Eu sou do meio acadêmico, eu sou de humanas, eu também sofro com preços e dificuldade de encontrar diversos títulos, e nunca me permiti recorrer a tais meios.
Como eu disse, eu sou super a favor de disponibilizar gratuitamente obras esgotadas, mesmo obras difíceis de se achar, amostras de obras.. mas como já disse.. não é só esse o conteúdo do site. Acho a ideia fantástica, mas muito mal executada. As editoras e livrarias podem estar sendo prejudicadas economicamente e tudo mais, e assim como imagino que você não ligue muito pra isso, eu também não. Mas os autores estão longe de merecer isso, e sim, eles são prejudicados. Posso estar enganada, você pode me achar a maior “reaça”, mas eu realmente encaro isso como uma violação seríssima. Como eu também já disse antes, se os autores realmente achassem tão bom seus livros estarem disponíveis gratuitamente na rede, eles poderiam a qualquer momento disponibilizar isso, como alguns o fazem.
Thais,
é lamentável o que você escreve, e antes o que você pensa. Mas agradeço por você exprimir com perfeição todo o conservadorismo que, horrendamente, ainda impregna grande parte da visão da cultura no Brasil, até mesmo, nos últimos meses, no ministério responsável por estes assuntos.
Que a disponibilização de um livro numa biblioteca seja limitada está longe de ser algo definidor do que seja uma biblioteca, mas apenas um limite material que, felizmente, está deixando de existir. Bibliotecas virtuais como o livrosdehumanas.org não fazem mais do que realizar o ideal de compartilhamento que está na base de todas as bibliotecas realmente relevantes que já existiram sobre a Terra. Uma biblioteca que se restringe ao armazenamento de volumes, e que não trabalha para a mais ampla difusão do que neles está contido, não passa de um cemitério de papel, ou seja, um lixão sofisticado.
Quanto você fala em “TRANSFERÊNCIA de propriedade”, demonstra realmente não entender (ou não querer entender) o que está em questão em sites de compartilhamento. O filósofo Giorgio Agamben, num livro recente intitulado “Altissima povertà” (que pretendo digitalizar para compartilhar em breve), lembra que Boaventura, na “Apologia pauperum”, distingue quatro diferentes relações com as coisas temporais: propriedade, posse, usufruto e simples uso. É precisamente esta profunda oposição entre simples uso (em que se dispõe das coisas fora de qualquer relação de propriedade ou posse) e a propriedade que volta a se colocar agora. Não pode haver transferência de propriedade quando a propriedade – o próprio, a identidade, o domínio de si e dos outros – simplesmente deixa de ser uma questão relevante, em prol de um uso comum das coisas. Não se esqueça: a propriedade pode ser muito importante para você (algo a ser tratado, talvez, num psicanalista). Para nós, é um empecilho não só prático, como filosófico, que, afortunadamente, o estado atual das tecnologias da informação se encarrega de encerrar num passado (na verdade, um intervalo histórico muito restrito, de poucos séculos) que nunca deveria ter existido.
Isto tudo – a perseguição da ABDR a bibliotecas virtuais como o livrosdehumanas.org ou a perseguição do FBI a outros sites de compartilhamento – não tem nada a ver com o autor. A não ser pelo convite que lança aos autores dignos deste nome para que saiam da apatia política dos últimos anos. Os gregos reservaram uma palavra até hoje ressonante para aquele que se recusa à vida política, isto é, que se coloca à parte da dimensão pública – comum – do viver: idiota. O verdadeiro autor deveria ser a antítese do idiota. Como bem resumiu o cineasta Jean-Luc Godard, o autor não tem direitos, tem deveres.
Mais uma vez, aproveito para declarar meu apoio a esta maravilhosa biblioteca pública que é o livrosdehumanas.org.
Esse seu discurso é de filhinho de papai.
Não tem nada a ver com propriedade ou não. Tem a ver com a valorização do estudo e do produto acadêmico resultante de meses, anos, décadas de estudo.
Você simplesmente defende que as pessoas escrevam e disponibilizem suas obras gratuitamente para todos.
Porque você não defende então que os médicos atendam de graça? Que TUDO seja dado de graça? Comida, casa, roupa lavada, tênnis, artigos de luxo.
Quem tem essa opinião TOSCA é burguês, que acha que escrever é hobby.
Escrever virou coisa de rico, porque aparentemente querer ganhar dinheiro estudando (e escrevendo) é crime agora…
Que inversão de valores… vai ler mais pra tentar conseguir sair desse seu senso comum!
E outra, se tem TANTO autor assim que é a favor do compartilhamento gratuito de suas obras, porque simplesmente eles não disponilizam eles mesmos? Porque não tornam suas obras domínio público como vários autores fazem?? Isso é uma escolha do autor e que deve ser respeitada.
Mas não… querer que o autor receba pela sua obra você chama de “conservadorismo”.
Isso é o tipo de gente que você é. Topa pagar 30 reais numa refeição, numa roupa, em qualquer coisa, mas não num livro. Afinal, que valor isso tem né..?
Thais,
Confesso que fiquei bastante surpreso com os seus posts porque o que a gente invariavelmente encontra nessas discussões sobre download de filmes, discos e livros é sempre essa conversa pra boi dormir do “information wants to be free” e boçalidades do gênero.
Você colocou os pingos nos is.
Confesso que desde que fui aluno da FFLCH lá se vão uns bons 20 anos, via com estupefato aquelas pastas sebentas dos cubículos de xerox. Apesar disso, obviamente xeroquei dezenas de artigos e trechos de livros solicitados pelos professores, mas sabia que aquilo não tinha valor nenhum. E não tinha mesmo: foi tudo parar no lixo depois que me formei, um monte de papéis velhos e amarelados que nunca formariam biblioteca.
Felizmente, tive alguns professores que sempre recomendavam que os alunos formassem biblioteca, mínima que fosse, e, aos poucos, comprei muitos e muitos livros. O livro é caro? Em geral, é, mas cada um com suas prioridades. Eu nunca gastaria 300 reais em um tênis ou em uma calça, por exemplo, mas gastaria em livros. Compro bastante coisa na Estante Virtual, aproveito os descontos das redes e dos sites, enfim, me viro pra comprar os livros que me interessam. Não tenho carro e moro de aluguel, mas minha biblioteca é bem razoável, vai ver que é por isso que não tenho carro e ainda moro de aluguel, rs.
O que eu via na FFLCH (e que deve se repetir em dezenas de faculdades por esse Brasil varonil afora) é que as pessoas ganham mal, não dão qualquer valor à criação intelectual (oh the irony!) e, claro, se puderem piratear filmes, discos e livros, o farão num piscar de olhos. Até aí, tudo bem, cada um sabe o que faz, o que não dá mesmo é ler essas defesas toscas. As 3 primeiras perguntas da entrevista, por exemplo, em todas é o contrário do que diz o representante do site. Ele pensa que a gente é idiota para engolir os argumentos totalmente furados que apresenta (esse, por exemplo, de que a pessoa lê um pdf e depois compra o livro seria para rir não fosse para chorar…)
Existiriam dezenas de maneiras do livro ser mais barato ou de mais fácil acesso no Brasil. Isso passaria por políticas públicas de incentivo à leitura, de reformas no setor de produção de livros para baratear os custos das obras impressas (apesar de comprar livros em redes, elas fazem mais mal do que bem ao mercado, mas essa é uma outra discussão…) e, em especial, de uma melhora monstro da educação brasileira. Quando vejo crianças de 11 ou 12 anos que, apesar de matriculadas e frequentando as escolas públicas de São Paulo, mal sabem escrever, sei que não posso esperar que essa pessoa um dia dê valor aos livros…
Enfim, ninguém tem como impedir a pirataria do que pode ser convertido em zeros e uns, mas as pessoas que defendem com unhas e dentes as pilantragens do livrosdehumanas.org simplesmente estão surfando na onda digital para justificar ou sua pobreza material ou sua pobreza de espírito. Ou ambas.
“100% (pelo menos até onde vi) dos escritores, acadêmicos ou não, que se manifestaram até agora se declararam a favor do site.”
O que não quer dizer que não haja autores que sejam contra; apenas que, até onde você sabe, eles não se manifestaram. E no clima de patrulhamento ideológico que cerca essas questões de pirataria, não admira que as pessoas prefiram não se manifestar.
“E nada diz na carta magna que só quem pode pagar deve ter acesso a este conhecimento.”
Também não diz em lugar nenhum na Constituição que, no caso de o estado falhar em garantir algum direito, o cidadão está autorizado a fazer justiça com as próprias mãos.
É óbvio que ambos os direitos têm de ser respeitados, o do acesso à informação e o patrimonial. O que não pode é querer subtrair algum deles – por endeusar o capitalismo, no primeiro caso, ou por demonizar o capitalismo, no segundo. Capitalismo não é anjo nem demônio. É um fato da vida, que precisa ser aceito e tratado da melhor forma que a racionalidade e o bom senso consigam visualizar.
Thiago, vá ao site http://www.aeilij.org.br e veja nossa carta aberta à ministra sobre a questão dos Direitos Autorais. São centenas de autores e várias associações de autores que se opõem e são prejudicados pela pirataria. O assunto é sempre pauta de nossos encontros, com farta oferta de depoimentos de autores que a todo momento se vêem roubados mesmo de seus míseros 10%. Você não nos vê porque somos sistematicamente boicotados nos encontros, sites, blogs e eventos promovidos pelos pirateiros pra decidir novas formas de atacar nossos direitos e assim a nossa capacidade de produzir ampla e livremente. Liberdade de expressão e debate democrático é algo que não atende aos interesses deles.
A nossa Carta Magma tem uma cláusula pétrea que garante ao autor a decisão sobre o uso de sua obra.
Cabe ao Estado, e não ao pobre coitado do autor, ou mesmo aquele que arrisca seu dinheiro investindo na produção de livros, garantir o acesso aos mesmos.
Fique à vontade para ler em meu blog uma série de artigos sobre o assunto. Neste mesmo blog ofereço gratuitamente orientação para autores sobre como firmar contratos justos.
Thiago, acabo de olhar em minha página do Face as respostas aos meus coments sobre o assunto. E o apoio contra a pirataria é massacrante! Autores replicando, compartilhando e aprovando a defesa de seus direitos. É suficiente pra lhe convencer?
Obrigada, sua lucidez me faz ter esperança..!
Já li por aí que uma obra disponibilizada gratuitamente (pdf, por exemplo), ou pelo menos por um preço que não inclua os
custos de produção, transporte, armazenagem, etc, contribuirá para o aumento das vendas com lucro de outros exemplares, por causa da divulgação (publicidade grátis). Sendo a obra de qualidade (ou então, por que disponibilizá-la?), com certeza o
leitor comentará a respeito, usará como referência em outras obras e até mesmo recomendará e adotará como leitura em cursos diversos e, eventualmente, até como sugestão para presente. Que tal uma versão impressa, personalizada para o presenteado, talvez com algum tipo de texto ou outro brinde exclusivo que torne a versão impressa atraente, além do conteúdo da obra? Um brinde, recebido junto com uma prova de afeto e amizade, será guardado por mais tempo e de maneira especial. Imagino que o maior entrave é a possibilidade de altos lucros gerados pela escassez premeditada (deve haver uma palavra mais apropriada, mas ainda não a encontrei em pdf…). Em todos os casos, pensar a respeito gera a possibilidade de uma melhor solução. Parlamentar, no bom sentido. (Já há editoras que oferecem livros em duas versões e preços: papel e pdf). Liberdade para pensar e divulgar.
Obrigada pela entrevista esclarecedora, Josélia!