Ficção brasileira lá fora: o Salão do Livro de Paris
21/03/12 18:26Essa imagem que você vê acima é do espaço brasileiro no Salão do Livro de Paris, que terminou ontem.
Não estive lá, mas pelo que vejo da foto, enviada pela equipe de imprensa da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), acho que é bastante parecido com aquele organizado em outubro passado em Frankfurt.
A feira francesa, de que o Brasil se ausentou nos últimos anos, é diferente da alemã. Atende ao grande público, enquanto a de Frankfurt recebe principalmente executivos que vão comprar e vender direitos de livros.
Em Paris, Jorge Amado se tornou principal tema de uma série de conferências organizada pela Academia Brasileira de Letras e instituições locais: seu centenário se celebra este ano e o autor é conhecido do público francês. Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector, fez uma apresentação a respeito da escritora brasileira nascida na Ucrânia, que até fins de abril merece exposição na galeria Espace Des Femmes. Seis ficcionistas contemporâneos viajaram para lá: Adriana Lisboa, Adriana Lunardi, Arthur Dapieve, João Carrascoza, Maria Valéria Rezende e Tatiana Salem Levy.
O leitor deve ter curiosidade no assunto; quem atua profissionalmente no ramo pode ter interesse bem maior por posts como este.
Enviei cinco perguntas para Moema Salgado, coordenadora de ações de promoção do livro brasileiro no exterior, que me respondeu por email.
O mercado francês sempre pareceu acolher bem autores brasileiros. Como isso ocorre nos últimos anos? “Sim, de fato a França é um dos países que mais se interessam e traduzem literatura brasileira. Editoras de variados portes publicam autores brasileiros de diferentes perfis, como Gallimard, Seuil, Métailié, Buchet-Chastel, Anacharsis e Folies d’Encre. Agora, com o reforço no programa de apoio à tradução, o interesse dos franceses tende a aumentar. A imprensa francesa também é receptiva e curiosa em relação aos autores brasileiros. Chama atenção dos franceses a nova produção dos escritores das periferias brasileiras. Sinal disso é que surgiu na França uma editora especializada nesses autores, as Editions Anacaona, que tem como uma de suas metas apresentar a literatura brasileira.”
Por que a ausência do Brasil no Salão do Livro de Paris nos últimos anos? “O Salão do Livro é um grande acontecimento cultural, uma vitrine da produção literária, com características diferentes, por exemplo, de uma feira como a de Frankfurt, voltada sobretudo para profissionais. Pode ser por isso que o mercado brasileiro tradicionalmente hesitava em investir na sua presença no Salão. Trata-se, no entanto, de um evento frequentado por editoras do mundo inteiro, as quais muitas vezes pautam suas decisões de publicação a partir do catálogo de editoras francesas. Este é um dos motivos por que o governo brasileiro sempre quis, de alguma forma, estar presente, mesmo que simbolicamente. Este ano, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio da Embaixada do Brasil na França, e a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), vinculada ao Ministério da Cultura, decidiram investir numa presença marcante. Nossa intenção é reforçar essa cooperação nos próximos anos para garantir que o Brasil tenha uma participação constante e relevante. Houve a colaboração de outras entidades, como a Academia Brasileira de Letras (ABL), a Sorbonne e a Unesco”.
Além de Paris, em quais eventos haverá presença maior este ano? “O Brasil é o país homenageado da Feira Internacional do Livro de Bogotá, entre 18 de abril e 1o de maio. E a FBN-Minc, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores e a Câmara Brasileira do Livro (CBL), vai participar pela primeira vez com um estande na London Book Fair, entre 16 e 18 de abril. A FBN prepara ainda uma programação para debater, na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), questões relacionadas a traduções e à presença da literatura brasileira no exterior. No segundo semestre, teremos uma participação reforçada na Feira do Livro de Frankfurt, preparatória da homenagem de 2013.”
Os EUA parecem ser um mercado mais difícil. Como tem sido a expansão do programa de internacionalização da literatura brasileira por lá? “O Brasil começa a reforçar a presença do livro e da literatura nacionais em países de língua inglesa. Sinal disso é o interesse do mercado britânico pelo Brasil e a agenda de encontros que a FBN terá na London Book Fair com editores e agentes literários. Os países de língua inglesa são uma nova e importante frente do processo de internacionalização da literatura brasileira. Em setembro do ano passado, uma delegação de editoras britânicas esteve no Brasil para encontros profissionais. Uma nova visita dos britânicos está sendo preparada para este ano. Como conseqüência de todo esse trabalho, espera-se a expansão para o mercado americano, tradicionalmente difícil para autores estrangeiros.”
Quais os números mais recentes do programa de internacionalização da literatura brasileira? “Ano passado, foram aprovados 37 projetos de tradução pela FBN, depois da divulgação do mais recente edital, em julho de 2011. Praticamente todas as editoras que fizeram pedidos foram agraciadas. Este ano, apenas no primeiro trimestre, a FBN já recebeu mais de cem solicitações de apoio para tradução, as quais no momento estão sendo analisadas. Prevêem-se investimentos de US$ 7,6 milhões para o programa até 2020.”
Sou sua leitora assídua, querida. Sempre fico “corujando” as novidades do blog e me impressiona ver como seu texto e senso jornalístico permanecem primorosos, mesmo com as limitações de espaço e linguagem impostas pela internet.
querida, do pouco que sei, devo muitissimo a você, com quem tanto aprendi. Uma das coisas que mais me admiravam naquela época (1993-1994) era ver como você escrevia e editava tão bem, sendo tão jovem e com pouca (nenhuma, certo?) experiência anterior.
Muito interessante este processo de internacionalização da literatura brasileira. O momento parece propício. A boa fase econômica do Brasil no cenário mundial pode acelerar a disseminação de nossa língua e cultura.
obrgada pelo comentário, querida Ritinha. Apareça.