"Junco", o livro de poemas de Nuno Ramos
20/03/12 12:42Nuno Ramos, nascido em São Paulo em 1960, é um artista plástico de trajetória reconhecida há bastante tempo —por aqui, leia o primeiro dos vários textos sobre “Bandeira Branca”, sua participação na Bienal ano passado (na Folha, para assinantes).
Sua obra em livros, que não é novidade e data de 1993, só passa a chamar mais atenção de quem faz as páginas literárias, e não as de artes plásticas, depois de “Ó”, de categoria inclassificável, híbrido de autobiografia e ensaio, que venceu o Prêmio Portugal Telecom em 2009.
O sexto e novo título, “Junco”, que sai pela Iluminuras, reúne pela primeira vez seus poemas, em que combina versos e fotografias. Sobre a obra, o artista conversa hoje com o público, às 20h, em evento gratuito no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, como parte da série Sempre Um Papo —por aqui, você visita a agenda inteira, em várias cidades.
A dúvida antes de fazer o post era se devia esperar para ouvir a conversa de hoje à noite, a que quero muito assistir. Achei que os leitores iam gostar de ser avisados; então fiz quatro breves perguntas ao autor, que me respondeu há pouco por telefone, mais para instigar leitores do que concluir o assunto.
Quando você escolhe dizer o que quer dizer com palavras, e não com objetos ou vídeos? “São atividades cotidianas e paralelas. Não vêm do mesmo lugar e se mantêm separadas. No ateliê, há um trabalho grande de produção: calculo, compro materiais, lido com técnicos. Escrever é algo mais íntimo, que se torna público apenas quando lanço o livro. Escrevo sempre, em geral entre as onze da manhã e as três da tarde. Quando faço uma obra, às vezes a atividade é ligada à palavra, como escolher um título. Conversar também pode ser muito bom para criar a obra. Mas as antenas funcionam em dois mundos diferentes, não no mesmo.”
Em “Junco”, você se refere a Drummond, particularmente o de “A Máquina do Mundo”, mas na orelha-apresentação a critica literária Flora Sussekind nota aproximações com João Cabral. De que maneira você reconhece a presença dos dois poetas? “Drummond é meu amigo, é o cara de que realmente gosto, o poeta que leio e investigo. Tem uma coisa em Drummond com que me identifico, mais até como artista plástico, que é certa ambivalência. Cabral é um Drummond que foi coado, sem retórica. Eu me sinto mais como Drummond. Sou retórico, pouco coado, pouco construtivo. Acho que sou nesse livro mais drummondiano que cabralino. E me surpreendou a aproximação com Cabral. Concordo que no livro, a certa altura, dou uma secada.”
Por que demorou 14 anos para concluir “Junco”? Antes de publicá-lo, outros livros ficaram prontos. “Nunca pensei que fosse fazer um livro de poemas. Tentei muito e achei que não ia dar. É um livro sobre minha poética, sobre o lugar de onde crio. Essa cena original se repete, é quase sempre o mesmo poema: a praia, nascer e morrer, o retorno do mar. Cortei muito, até o fim quis corrigir. Foi quando vi que começava a criar outra coisa, aquele último poema é a abertura para algo diferente, me fez ver que o projeto já seria outro.”
De que natureza é seu próximo projeto? “Duvido que faça outro livro de poemas. Comecei algo que pode ser uma novelinha, um poema longo.”
Aliás, há uma série bem feliz de trabalhos do Nuno cujo título faz referência a Cabral, “Só Lâmina”.
pois é, e nesse livro uma das imagens recorrentes é a do cão (sem plumas?). e na forma também percebo Cabral…