A casa de Rui
05/03/12 22:22Essa é a casa de Rui.
Esse é Rui.
O leão guarda a entrada.
Dizem que no começo do século 20 lá na minha terra ninguém falava, fazia discurso. Qualquer pretexto servia para um. O gosto pelo palavrório seria legado de Rui. Acho que é injustiça. Rui não estava nisso sozinho; devia ser também um herdeiro do palavrório, tornou-se apenas o mais ilustre.
Uma das anedotas –nunca consegui comprovar, então ainda acho que é só anedota — conta que certo dia Rui supreendeu alguém que entrou no seu quintal para roubar um pato. A reação foi colérica:
– Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
Lembrei dos tais impropérios de Rui ao entrar hoje no quintal de sua casa. Não fui roubar pato, e sim me divertir naquele gigantesco acervo, no Rio de Janeiro. A seção onde me enfiei para pesquisar é exatamente a dedicada à literatura brasileira, com os arquivos particulares doados por escritores.
Entendi já duas coisas, lendo jornais e revistas antigos e a correspondência de vários desses autores, datados dos anos 1930 a 1960.
1-O noticiário de época apresenta “grandes revelações”, “grandes promessas”, “grandes nomes” que não só não encontrariam a glória, como desapareceriam completamente.
2-Escritores quando jovens são atrevidos e até raivosos (“que livro infame esse seu”); maduros, se tornam tão afáveis que chegam por vezes à adulação mútua (“o conto que dá título ao seu livro é excelente, mas os outros também o são”). Não deixa de ser simpático.
Entendi uma terceira coisa, de menor relevância para o público em geral, mas imprescindível para quem vai pesquisar e deseja calcular bem o tempo necessário (e economizar em diárias de hotel).
3- Escritores que escreviam à mão dão muito mais trabalho que escritores que datilografavam.
Adorei o texto e quero dizer que sou apaixonada por literatura e bem relutante a questões digitais [na internet, me limito a blogs, notícias e facebook]. Sou uma das poucas que usa caderno na pós-graduação e AMO escrever.
Seria possível ter acesso a essa lista de blogs, por acaso?
Parabéns pelo texto, de identifiquei bastante com o estilo.
que bom que gostou, Juliana. Vou fazer a lista de blogs ainda, estou devendo 🙂
Prezada Josélia
Pelo visto arranjei mais trabalho para você, peço-lhe desculpas, mas por favor, agora posso falar no plural, não esqueça da gente.
Reitero que seu blog é muito bom> Portanto, não acredito que conhecerei melhores, até porque acostumei-me ao seu estilo ou seria estética, assim fica melhor.
Nunca pensei em ser um escritor, depois de ter lido: ‘Um copo de cólera’ do Raduan Nassar e saber que ele disse: “não tenho mais nada a escrever” e agora ao ler Proust, acabei o primeiro volume, vou para o segundo, é que me certifico que é muito difícil afirmar: “sou um escritor”.
Quem aspirar a escrever, para e leia Proust, para não se aventurar e escrever bobagens.
É muito bonito o texto de Proust, as descrições de paisagens colocam-no no ambiente, uma folha caindo….
Swan, pelo menos para mim, numa primeira leitura, mas ressalto, são duas personagem totalmente distintas, mas fez-me lemabrar, Pierre de ‘Guerra e Paz’ de Tolstoi.
Cordialmente
Luiz
poxa, Luiz, obrigada pela preferência, mas há vários – váaaarios- blogs ótimos. É que tenho uma lista de posts para fazer, além de um grande projeto que preciso concluir nos próximos meses. Queria que meu dia fosse bem maior e confesso que ando tão cansada de tanta coisa. Só posso garantir que a promessa está feita e sou memoriosa. 🙂
Quero a proveitar essa carona e pedir também a lista desses blogs. Obrigado.
ja vi que vou fazer a lista e publicar
tem muita coisa boa para seguir 🙂
Muito obrigada! Bjs!
Josélia,
Oi, tudo bem? Se não for te pedir demais, será que também poderias me enviar esta lista de blogs sobre livros pra mim? Obrigada desde já. =)
Juliana, sim! Vou tentar fazer ainda hoje. beijo.
Joselia
Agradeço-lhe pela resposta e peço-lhe, já que não domino nada desta mídia, interet, onde posso encontrar tantos blogs sobre livros, como devo preceder para ter acesso a eles?
Cordialmente
Luiz
Luiz, vou preparar uma lista de sugestões e te mando, ok?
Delicioso seu texto…
Josélia
No período a que se referes tínhamos, salvo engano, jornais matutinos e vespertinos, sem falar é claro na quantidade: A Noite, Diario de Notícias, Correio da Manhã, Ultima Hora, O Jornal, O Globo, etc, só para ficarmos na cidade do Rio de Janeiro à época capital do estado da Guanabara.
Pergunto: lendo jornais de ontem e de hoje, o que você teria a dizer?
Luiz, o que tenho a dizer sobre a cobertura de livros? Difícil ter uma opinião geral. Acho que não deu tempo. O que posso dizer, porque é muito visível, é que antes se escrevia muito mais, muito, muito mais. Os textos hoje são absurdamente menores. Só temos muito espaço hoje na internet.
Eu já visitei e amei. Um lugar especial.
Um dos muitos espaços culturais do Rio que ainda não visitei, embora more na cidade há anos.
Tem de ir!
Adorei. Já fiz uma pesquisa sobre escritores antigos e penei com as caligrafias… 🙂 Beijos
🙂