Evoé Momo! O Bacanal de Manuel Bandeira
19/02/12 14:07“Carnaval” é o título do segundo livro de poemas de Manuel Bandeira (1886-1968). Considerado até então um simbolista –ah! essas etiquetas–, o poeta do Recife radicado no Rio de Janeiro é visto como precursor da vanguarda ao escrever já neste volume, de 1919, versos como os de “Os Sapos”, que vão se tornar famosos na história do movimento modernista.
O que nosso poeta mais tristonho faz do Carnaval? Pouco mais de duas dezenas de lindos e melancólicos poemas. Não adianta tentar causar graça, saudar Baco, Momo e Vênus, como em “Bacanal”: “Se me perguntarem: Que mais queres,/Além de versos e mulheres?…/ – Vinhos!…o vinho que é o meu fraco!” O que predominam são arlequins e colombinas desencantados. Como no “Poema de uma Quarta-feira de Cinzas”, em que se tem: “Entre a turba grosseira e fútil/ Um Pierrot doloroso passa./ Veste-o uma túnica inconsútil/Feita de sonho e de desgraça…”
Copio os versos acima e os de baixo da minha edição da Nova Aguilar. Faz tempo que, por brigas entre herdeiros, a obra de Bandeira não é reeditada. A pendenga persiste, mas em fins do ano passado a Global anunciou que iria relançá-lo a partir deste 2012 –assim como Cecilia Meireles e Origenes Lessa –, em seus volumes originais. Escrevi esse texto na “Ilustrada” naqueles dias.
Epílogo
Eu quis um dia, como Schumann, compor
Um carnaval todo subjetivo:
Um carnaval em que o só motivo
Fosse o meu próprio ser interior…
Quando o acabei, –a diferença que havia!
O de Schumann é um poema cheio de amor,
E de frescura, e de mocidade…
E o meu tinha a morta mortacor
Da senilidade e da amargura…
–O meu carnaval sem nenhuma alegria!…
O melhor poeta que o Brasil já teve, maior que Drummond, Bandeira é ótimo!
Hélio, sei que é duríssima a disputa! Mas Bandeira, como Caymmi na música, produziu em menor quantidade, então no conjunto o resultado sai mais perfeito, não sei se consigo me explicar.