Que falta nos fez uma Carmen Balcells
16/02/12 12:21Ando à procura de livros sobre Carmen Balcells. Até agora, catando em livrarias online de vários idiomas, só encontrei essa longa entrevista acima, que baixei pelo Kindle. Não é possível: deve ter muito mais coisas. Alguém aí que souber de outros títulos pode me dizer?
Carmen Balcells é a agente literária espanhola que ajudou a tornar sólidas e internacionais as carreiras de autores da América Latina. Como Neruda, Vargas Llosa, García Márquez.
Em sua maioria, receberam uma etiqueta tão imprecisa quanto comercialmente rentável: são o “boom latino-americano”, os do “realismo mágico”. Não é coincidência que vários tenham alcançado o Nobel. Ou você acha que um Nobel se ganha com a graça do espírito santo?
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Dois meses atrás, a notícia da semana era a abertura de seus arquivos para quem quisesse pesquisar –morro de inveja de quem está agora em Madri fazendo isso. Publiquei essa nota na “Painel das Letras” naqueles dias:
Quem lhe deu o apelido foi García Márquez. Carmen Balcells, 81, se tornou mais que a superagente literária de seus mais de 200 autores. Era a “Mamá Grande”, que brigava com as editoras para enriquecê-los com contratos mais favoráveis, do boom latino-americano até o Nobel, prêmio que vários já receberam. Cuidava também de suas vidas, do divórcio à depressão, das férias à aposentadoria. O arquivo de Carmen Balcells, com mais de 2.000 caixas de documentos que registram a história da literatura de língua espanhola no último meio século, foi comprado pelo governo da Espanha por 3 milhões de euros e agora começa a ser aberto. Para a inveja de pesquisadores brasileiros, que ainda se defrontam por aqui com muitos arquivos fechados.
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Escritores não conseguem exercer seu ofício em paz se têm de cumprir expediente em outro lugar que não o próprio escritório. Muito menos se precisam viver de bicos, publicando resenha aqui e ali, o que é um desassosego ainda maior.
Até podem, se quiserem, dar aulas, traduzir, publicar artigos. Só não devem depender apenas disso, nem gastar parte valiosa das horas com tais afazeres.
Quanto mais internacionais as carreiras, mais sólidas, pois independentes de crises ou pressões politicas e financeiras nos países de origem. Mais livres vão estar para construir sua obra, a única coisa verdadeiramente importante.
Uma pena, mas pouquíssimos conseguem ter essa tranquilidade no Brasil. O que resta? Rancores, miudezas da competição baixa, tempo perdido.
Lucia Riff, sediada no Rio, é a agente literária com escritório de maior porte. Existem outros profissionais brasileiros nessa função, como Valéria Martins, e internacionais, como Nicole Witt e Stéphane Chao. E agora Luciana Vilas-Boas, que dirigiu a área editorial do grupo Record por mais de 15 anos, começa a atuar no ramo, baseada em Nova York.
A figura do agente literário por aqui, por uma série de motivos, demorou de emplacar __e sempre pareceu uma sofisticação, e não uma necessidade.
Não sei qual o percentual de autores brasileiros representados por um agente. Sei, porém, que em mercados editorias mais desenvolvidos e pujantes um autor que dispensa esse serviço faz isso por iconoclastia, irreverência, arrojo.
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Por coincidência, Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, publicou ao mesmo tempo no blog de sua Companhia das Letras um texto sobre a difícil missão de divulgar autores brasileiros no exterior: vá por aqui.
Para ler mais sobre a senhora Balcells: encontrei no espanhol “El País” um dossiê online bem amplo: vá por aqui para chegar até lá.
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Atualização às 10h45 de 17/02 – Depois do post, o editor Julio Silveira, da Imã, uma das editoras 2.0 que começam a surgir por aqui, comentou via Facebook que o papel do agente literário também será reinventado com as transformações digitais. E o editor Manoel Lauand, fundador do selo Seoman (hoje do grupo Pensamento), me escreveu para lembrar que Carmen Balcells teve escritório aqui no começo dos anos 1990. Foi ali que Lucia Riff iniciou sua trajetória. Ano passado, Lucia me contou com detalhes essa história, numa visita que fiz a sua agência.
O objetivo do post, na verdade, era refletir um pouco sobre como a literatura latino-americana aconteceu no mundo algumas décadas atrás, e não exatamente tratar do que existe hoje ou será daqui para frente. Bons assuntos para novos posts.
Cara Josélia
Adorei seu texto sobre Carmen Balcells. Estou procurando a edição em espanhol do livro A PAIXÃO SEGUNDO G.H. de Clarice Lispector.
Será que você pode me dar uma pista?
Agradeço sua atenção
Cordialmente, Norma Vigio
Norma, em que cidade está? Bibioteca Nacional do Rio, talvez. Grandes bibliotecas de sua cidade ou Estado. Acho que você pode pedir ajuda a gente que a pesquisa. É para algum estudo específico? Se for edição atual, há algumas livrarias online que podem te vender. Obrgada e apareça!
“Uma pena, mas pouquíssimos conseguem ter essa tranquilidade no Brasil. O que resta? Rancores, miudezas da competição baixa, tempo perdido.”
level up – como dizemos na gíria dos games. ótimo post!
Felipe, pois é! obrigada e apareça!
Ótimo post. Bem informativo e bem escrito.
Josélia, essa questão de divulgar a literatura brasileira no exterior realmente é complicada. Mas existe mais gente interessada em nossos autores do que se pensa. O projeto do qual sou um dos curadores, no Itaú Cultural, tenta mapear todo mundo que estuda, pesquisa ou traduz literatura brasileira. O mais difícil é achar os tradutores para responder ao questionário que abastece o banco de dados. Dê uma olhada em http://www.conexoesitaucultural.org.br
Lindoso, sim, conheço o projeto e acompanho as suas atualizações. Quero te procurar a respeito em breve! Obrigada pela visita.