Cada qual cuide de seu enterro
10/02/12 15:04Eu gosto de ler livros. Parece besta e óbvio usar uma frase dessas para inaugurar um blog sobre livros. Mas é coisa comum encontrar por aí quem vive de livros e nunca os lê.
Eu gosto de ler livros desde os três, quatro anos. Minha mãe, ex-professora do antigo primário, tem o hábito extravagante de alfabetizar crianças cedo demais. Fez isso com meu irmão antes de mim e agora com meu sobrinho, que completou cinco –“Tiago já está lendo tudo!”, ela me disse ao telefone, e repetiu três vezes.
Eu gosto de ler livros pois certo dia meu pai chegou em casa com um volume que me pareceu colossal: “A Morte e a Morte de Quincas Berro D´Água”. Achei ingenuamente que o tal homem que renascia era um tipo de herói, desses de epopeia grega. Foi o primeiro livro de adultos que tentei ler a sério e desde então me acompanha sua frase mais conhecida, a de Quincas no cais antes de cair no mar: Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há.
Eu gosto de ler livros e por isso, com sorte, fui trabalhar com eles. Aos 17 anos, fiz a primeira resenha no susto. Um professor da faculdade era também editor do suplemento literário. Flori me entregou o embrulho e disse – “ó, duas laudas, para segunda. Se não me trouxer, ponho um calhau e digo que a culpa é sua.” [calhau, no jargão da redação, é algo que se arranja às pressas para tapar o buraco de um texto que não chegou.]
Escrevi sobre livros no meu começo no jornalismo. Depois fui trabalhar com assuntos internacionais e economia. Quando achei que nunca mais viveria de livros, me tornei editora-assistente e depois editora de uma revista mensal sobre eles.
Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há. Gostava muito do finzinho, “impossível não há”, que funciona como incentivo para tentar alguma coisa bastante difícil. Até brincava de dizer o trecho para uma amiga, que o retribuia –ela também adorava a frase desde criança por causa do pai.
Só muitos, muitos anos depois, e passadas várias mortes, minhas e dos outros, entendi que a melhor parte é, caramba, a primeira. “Cada qual cuide de seu enterro”. A linda novelinha, mais tarde fui entender, me dizia com sua metáfora baiano-barroca que a cada um cabe cuidar da própria vida (a própria vida, não a dos outros!) e que, cuidando de viver, não se morre. Não era um heroi, muito menos de epopeia, mas Quincas, morto-vivo e beberrão, me fez gostar de ler livros.
Este blog vai tratar de livros, sejam físicos, digitais, líquidos ou gasosos. E também de editoras, livrarias, prêmios e festas literárias. Para quem lia já o meu “Painel das Letras” (todo o histórico aqui, e sempre vou recorrer aos antigos posts), será bastante parecido, quem sabe até um pouco melhor, assim espero e conto com você, leitor.
A capa é da nova edição de “A Morte e A Morte de Quincas Berro D´Água”, de Jorge Amado, publicada pela Companhia das Letras. A foto mostra a pesca de xaréu na Bahia dos anos 1940-50 registrada por Pierre Verger.
Josélia, te conheci somente hoje e lendo esse os outros textos fico triste de não ter te conhecido antes. Você acaba de ganhar um admirador que também é louco por livros.
Grande abraço
obrigada pela mensagem, Sergio. Sofro um pouco disso, sabe? Quando a EntreLivros acabou, as pessoas diziam – “nossa, mas essa revista existia!”Seja bem-vindo e, por favor, apareça!
Também sou muito fã desse maravilhoso livro de Jorge Amado, considerado por mim um de seus melhores escritos, afinal a história é uma lição de vida, uma lição de vida muito bem escrita. Gosto muito de ler, afinal se não gostasse o que estaria fazendo em um blog sobre livros? Devo admitir que aprecio muito seu ponto de vista sobre essa obra e gostaria de saber se poderia postar alguns comentários sobre livros em meu blog: http://padoks.blogspot.com/ 🙂
Gustavo, obrigada pela leitura, vou te visitar, sim
já lia o outro e vou curtir este também!! quanto a alfabetização cedo demais depende da criança querer e estar madura pra isso. ensinei meu filho a ler e escrever aos 5 anos e isso foi maravilhoso. hoje com 9 anos ele lê até Homero adaptado! Boa sorte na “casa” nova!!
Cristina, mas foi esquisito chegar aos 12 anos no primeiro ano do segundo grau (como se dizia na época, nem sei como chama isso hoje). Era madura por causa de algumas leituras (tipo Kafka, risos), mas ingênua por causa da idade, entre colegas dois, três e até quatro anos mais velhos…
Sucesso, Josélia! Curto muito seu texto, vou acompanhar.
Paula Rangel
obrigada, Paula. bom vê-la aqui, apareça.
Jô, gostei muito do texto (low profile: low profile é bom) e fico feliz por sua casa nova: que seja bom pra vc, que vc curta, and may you kick some ass. 🙂
sabe do que me lembrei hoje cedo? que foi você quem me fez ler Bukowski pela primeira vez, naquela outra encarnação lá. “Cartas na rua”, ahhaah E fiquei pensando: pobre Bukowski, os Bukowskianos nunca o mereceram (o mesmo se pode dizer de Marx)
Que ótimo! Vou acompanhar
obrigada, Thaís
gostei muito , bons amigos indicaram, vou acompanhar.
obrigada, Ludmila. Volte sempre.
Gostei da sincronicidade , haviamos comentado essa semana mesmo dessa bela edição e especialmente do conto A morte de Quincas Berro Dágua, e de minha identificação com o protagonista, que mesmo não sendo épico, continua válida… um beijo
vou me esforçar pra acompanhar e comentar
Ibere
obrigada, Ibere
Apareça!
viva viva, e lá vamos nós que navegar é preciso, velha fonte de imorredoura sabedoria 😉
minha frase preferida, que está no meu facebook e twitter, é “há sempre um Vasco da Gama num marujo português”. É um lindo e antigo fado.
Que texto sincero e bonito. Parabéns pelo seu trabalho e boa sorte nesta nova etapa. Continuarei acompanhando.
obrigada, Cris Apareça
O título desse post é muito sugestivo… Bem, fui procurar teu blog hoje e não achei, e pensei, oxe, como assim? Mudou – sempre é assim na net – as coisas devem mudar, o design exige. LIVROS ETC? É cool. Vamos lá! Deixar a canoa no rir e simborá!!!!
ABRAÇO, J!
obrigda, Felipe, um leitor tão caro ao blog. Apareça sempre.
muitas coisas boas para o novo blog, joselia. sempre li e sempre gostei muito. bjs. jff
obrigada, Jeff. Apareça.
Já vou botar nos meus favoritos e continuarei te acompanhando, sempre, sempre. Obrigada por compartilhar a tua paixão pelos livros, e como tudo começou.
Beijos
obrigada, Juliana
Jô, parabéns pela nova casa. Com vc migrei tb. Boa sorte. bj grande
obrigada, degoes, apareça!
Engraçado vc dizer isso… Da qtde de pessoas que vivem de livros mas não lê. Ando pensando nisso, do pessoal que está se formando. Enfim, conversa para um café! Boa estréia! Bom ano e bons livros. 🙂
Daniela, e reconhecer quem gosta é instantâneo! Vamos, sim! No blog vou continuar escrevendo as mesmas coisas de antes.
Boa sorte na casa nova, querida. Um beijo.
obrigada, mr. Goiaba
Já coloquei seu blog entre os meus ‘favoritos”, obrigado pelo belo texto e boa sorte nessa novaa fase.
Celio, muito obrigada
Adorei! Lindo texto. Muito sucesso e estarei sempre aqui.
Lio, muito obrigada. Apareça sempre.
Belíssimo texto, vindo de alguém que ama os livros. Como, aliás, todas as pessoas que seguem o seu blog. Continue a falar da chegada do livro digital, isso é legal, é importante! Que tal aproveitar melhor o espaço e colocar aqui entrevistas com pessoas do mundo dos livros?
Sim, vou fazer isso! Obrigada pela leitura, Gilberto.
Bela estréia, lindo texto. Muito sucesso no novo espaço na blogosfera.
Anoca, volte sempre. Telefonar tambem, risos.
Descobre qual é o feed pra gente assinar o blog no Google Reader! 🙂
Bjs e boa mudança!
vou providenciar isso! beijão, Gabi. Você é uma leitora muito bem-vinda sempre.
Divulguei o endereço da sua casa nova. Livro também é um lar-doce-lar. Que bom que você continuará a falar deles. Sorte, saúde, sucesso!
obrigada pela leitura de sempre,Érico.
(…) continuarei a te acompanhar por aqui. São ótimos os seus escritos. Sucesso na nova casa.
obrigada, Rogério. Apareça!